Leitura literária: o belo e o útil
Cristina
Maria Rosa
Ouvir
histórias lidas, desde há muito tempo é um hábito que envolve prazer, instrução
e informação. Reunir-se para ouvir alguém ler tornou-se também uma prática
necessária na Idade Média, pois, segundo Manguel (1999), até a invenção da
imprensa, a alfabetização era rara e os livros, propriedade dos ricos,
privilégio de um pequeno punhado de leitores.
Diferenciada
das demais linguagens por ser intrinsecamente interdisciplinar, a leitura
literária é comprometida com a capacidade ancestral de imaginar e confunde,
intencionalmente, o belo com o útil, o lúdico com o razoável, devendo ser
apresentada às crianças logo que elas dão início ao contato com o mundo. Para
Machado (2012), ela se expressa, inicialmente, nas cantigas de pai e mãe para
seu bebê ao colo e, depois, à medida que este vai crescendo, “novas formas de
criação verbal lhe vão sendo oferecidas pelos mais velhos – jogos,
brincadeiras, parlendas, adivinhas, trovas. E histórias, muitas histórias”
(MACHADO, 2012, p. 11) que ficam guardadas na memória integrando seu legado
cultural, sua herança, seu repertório particular.
A
literatura na escola, para que ocorra, pressupõe um processo de letramento
literário que não é espontâneo. Como resultado de uma intencionalidade, deve
ter planejamento. Neste cabem algumas etapas, sem as quais o processo poderá
não ter êxito. O objetivo do letramento literário é tornar as crianças leitoras
fluentes e, o processo de formação desse leitor ocorre, de acordo com Machado
(2008), quando a criança entra em contato com narrativas, provérbios, ditos
populares, adivinhas, parlendas, textos ficcionais e poéticos através das vozes
do universo familiar e, logo depois, de forma organizada e frequente, passa a
conhecer os impressos – preponderantemente livros – que apresentam, em verso e
em prosa, o repertório de nossa cultura escrita.
Quando
as crianças ingressam nos anos finais do Ensino Fundamental, se estiverem
inseridas no processo de letramento desde a escola infantil, poderão interagir
sem mediadores com a cultura literária que as envolve. Desse modo, passam a
escolher o que ler, quando, com que frequência e até mesmo indicar livros que
gostam. Mesmo nesse momento, segundo Machado (2008), “o trabalho dos
professores, continua a ser imprescindível no sentido de ampliar, a cada etapa
da escolaridade, as experiências literárias de seus alunos”.
Na
experiência desenvolvida, a proposição de estabelecer um vínculo imediato entre
autor/mediador através do envio de narrativas às professoras e seus alunos, foi
alcançado. Como primeiro passo, as professoras puderam ler as narrativas na
tela do computador, escolher entre várias a mais adequadas aos seus,
incentivá-los a ilustrar com materiais gráficos variados. Ao ver o resultado,
professoras e crianças puderam usufruir de um produto partilhado em que cada
ator estava representado em igual tamanho e importância, dividindo a criação e
projetando novas experiências. As crianças, na escola, puderam ver seus
desenhos em outras dimensões, partilhar sua produção com os demais e ler
novamente o conto, agora ilustrado.
Doce,
a “literatura infantil contemporânea deve deleitar os pequenos leitores,
cumprindo seu destino estético”, mas, “ao mesmo tempo, deve ser útil, atendendo
as demandas históricas” sugere Paulino (2010, p. 115).
Nenhum comentário:
Postar um comentário