Literatura na Escola: a escolha do que ler
Cristina Maria Rosa
Deleite é contato prazeroso com o artefato cultural
mais importante de nossa cultura escrita: o livro. Deleitar-se é encantar-se,
envolver-se abraçar-se com uma obra, advindo dela infindáveis relações de
pertença: prazer, mágoa, dor, angústia, solidão, saudade, tristeza, alegria.
Deleitar-se não é apenas sentir prazer, alegria. Como salienta Maria Silvia Oberg
(2007), "a fruição é um ato abrangente, que articula várias
dimensões do sujeito: sensorial, afetiva, intuitiva, lógica, imaginativa,
cultural, intelectual, entre outras".
Sobre a qualidade dos textos literários para a infância, autores têm defendido que a qualidade consiste na possibilidade da
história produzir um efeito humanizador no pequeno leitor, sem que haja a
necessidade de uma mensagem moralizante ou pedagógica explícita e nem o apoio
de imagens, sem o qual o texto não se sustentaria (BORBA DE MORAIS, 2018).
Para a escolha de obras infantis, Cristina Rosa
(2015) indica critérios literários, entre eles, longevidade, expressão
inusitada e/ou linguagem metafórica, inesgotabilidade, valor histórico e
documental, magia, vínculo com a ancestralidade e fazer pensar. A pesquisadora
preconiza que a humanidade – suas emoções fundantes como o medo do abandono e
da morte, por exemplo – é matéria primordial da literatura e a obra literária é
o melhor caminho para ensinar a gostar de ler, uma vez que esse atributo não é
genético, precisa ser ensinado, antropologicamente, a cada novo humano em
sociedade.
Possivelmente muitos adultos – pais e professores,
preponderantemente – não consigam articular estes saberes quando da escolha de
livros a serem apresentados aos seus. E, na maioria das vezes, indicam ser
difícil ou impossível dialogar com as meninas e os meninos, na escola e fora
dela, acerca de temas como diversidade, morte e respeito às diferenças, por
exemplo.
Ricardo Azevedo (1997) afirma que
os livros paradidáticos utilizam-se, em geral, dos textos verbais e visuais e
também pretendem trazer e transmitir informações e conceitos concretos e
objetivos sobre determinado assunto. Necessariamente, têm motivação pedagógica
ou ideológica e pretendem, em última análise, educar, informar e ensinar. Ao
contrário dos livros didáticos, podem ou não estar diretamente comprometidos
com os programas de ensino oficiais. Em lugar do discurso didático, denotativo,
unívoco e, na medida do possível, impessoal, podem utilizar-se, em grau maior
ou menor, do recurso da ficcionalidade, do discurso poético e aparentemente
subjetivo, como suporte para transmitir conceitos. Os livros paradidáticos
pretendem distrair ensinando. Através de uma determinada narrativa de ficção,
são transmitidas informações sobre, por exemplo, a natureza, o desequilíbrio
ecológico e temas como a defesa e a aceitação das minorias; a luta pela
abolição das desigualdades sociais; a emancipação da mulher; o exercício da
cidadania, entre outros.
Acerca dos livros voltados ao público infantil que
abordam a sexualidade, por exemplo, Jane Felipe (2018) destaca que nem
sempre conseguem o fazer de forma objetiva e transparente, pois “muitos deles
reiteram um modelo heteronormativo, ignorando assim outras manifestações
identitárias e outras possibilidades de configurações familiares”. E sugere que
tenhamos um olhar sensível sobre tal realidade, procurando avaliar muito bem a
qualidade dos livros: didáticos, paradidáticos e mesmo os de literatura
infantil.
A literatura na Escola
Foi esse o tema da conversa com professores
ocorrida na manhã de sábado, dia 16 de março, na Escola Municipal de
Ensino Fundamental Luiz Augusto de Assumpção, que se localiza na Praça Aratiba,
nº 281, Balneário dos Prazeres, uma das margens da Lagoa dos Patos, em Pelotas,
RS. Reunidos para estudar, professores de diversas áreas – Pedagogos,
Licenciados em Português, Matemática, História, Geografia, Ciências, Arte,
Espanhol, Ensino Religioso e Educação Física – recepcionaram o PET Educação (a Tutora e os estudantes Alisson, Angélica, Estefânia, Ieda e Jéssica) para um diálogo sobre leitura e literatura na escola. Presente, também, a Bibliotecária da SMED Pelotas, Simone Echebeste.
Após, em avaliação realizada pela Diretora,
professora Daniele Dumith e pela Professora Fabiane Rodrigues Viana, alguns
comentários dos professores que participaram:
“Melhor reunião, em minha opinião. Ouvi, pude falar
e aprendi. Se estou na escola, preciso me sentir parte dela!”
"Perdoem-me se isso é ‘coisa de menina’, mas
me valeu muito. Profissional e particularmente. Só faltou o café com coisas
boas...”.
“Que a próxima seja em breve!”
Referências
Em sua fala aos professores, a professora Cristina
Maria Rosa mencionou a diferença e o impacto na formação do leitor de diferentes gêneros literários e tipos textuais - biografia, autobiografia, paradidáticos, artigo em jornal e literatura para crianças - e leu trechos de livros.
Os títulos e autores lidos ou mencionados pela Tutora do PET Educação na Formação dos Professores foram:
1. A História mais triste do mundo, de Mário Corso;
2. Coisa de Menina, de Pri Ferrari;
3. Coisa de Menino, de Pri Ferrari;
4. Felpo Filva, de Eva Furnari;
5. O Espaço, de Blandina Franco e José Carlos Lollo;
6. Uma rede de casas encantadas, de Ana Maria Machado.