Mais um importante trabalho do PET/Educação tornou-se público na semana de 31 de agosto a 02 de setembro de 2016.
Foi durante o V SALÃO UNIVERSITÁRIO PET-FAURB que a petiana IEDA KURTZ DE AZEVEDO teve seu trabalho de pesquisa aprovado e apresentado.
Na sexta-feira, dia 02, às 14 horas, durante programação do evento, Ieda explanou sua pesquisa intitulada: ESPAÇO INTERNO DA BIBLIOTECA ESCOLAR: DA PLANTA À INAUGURAÇÃO. Representa o investimento que o PET/Educação tem realizado nos cuidados à biblioteca da Escola Fernando Treptow. Leia o resumo que a Ieda enviou ao Evento:
ESPAÇO INTERNO DA BIBLIOTECA ESCOLAR: DA PLANTA À INAUGURAÇÃO
Foi durante o V SALÃO UNIVERSITÁRIO PET-FAURB que a petiana IEDA KURTZ DE AZEVEDO teve seu trabalho de pesquisa aprovado e apresentado.
Na sexta-feira, dia 02, às 14 horas, durante programação do evento, Ieda explanou sua pesquisa intitulada: ESPAÇO INTERNO DA BIBLIOTECA ESCOLAR: DA PLANTA À INAUGURAÇÃO. Representa o investimento que o PET/Educação tem realizado nos cuidados à biblioteca da Escola Fernando Treptow. Leia o resumo que a Ieda enviou ao Evento:
ESPAÇO INTERNO DA BIBLIOTECA ESCOLAR: DA PLANTA À INAUGURAÇÃO
AZEVEDO, Ieda
Maria Kurtz de Azevedo
Cristina Maria Rosa - Orientadora.
INTRODUÇÃO: No trabalho relato e analiso um processo de recuperação física do espaço interno de uma biblioteca escolar. Localizada na periferia urbana de Pelotas, a escola atende a aproximadamente 580 crianças e adolescentes, em dois turnos (manhã e tarde) além de ofertar educação a 243 Jovens e Adultos. As ações de restauro, realocação de móveis e utensílios e uso do acervo estão sendo desenvolvidas por um grupo de estudantes vinculados ao GELL – Grupo de Estudos em Leitura Literária e ao Projeto de Extensão Leitura Literária na Escola, ambos abrigados na FaE/UFPel. A Biblioteca que antes existia tornou-se, aos olhos da Direção, inadequada, demandando uma intervenção. Sem acesso a rotinas diárias, pois a “reforma” está impactando a vida de estudantes e professores, me propus a conhecer seus pontos de vista e expectativas. Observar o modo como as pessoas se portam no espaço é, também, observar sua capacidade de perceber o mundo, sua sensibilidade e cultura, de acordo com TUAN (1980). Citado por Drumond et all (2000), para ele, a “percepção” é “algo que pode ser considerado concretamente”, é “visível no modo como o meio ambiente é construído e modificado”.
Compreendo uma biblioteca como um espaço destinado a políticas de leitura e estas como um processo de acesso, uso, fruição e trocas relativas ao artefato mais importante de nossa cultura escrita – o livro. Para Rosa (2016), uma biblioteca escolar é o único espaço que não pode faltar em uma escola e, nas escolas de ensino fundamental, deve ser especializada no atendimento a crianças entre seis e quatorze anos de idade, tempo destinado a formação do leitor. Dispositivo “complexo, constituído por elementos heterogêneos como a arquitetura e o ambiente, as técnicas e tecnologias, os processos e produtos, as regras e regulamentos, os conteúdos materiais e imateriais”, a biblioteca para crianças e jovens é responsável por ampliar sentidos aos “significados por ela guardados”, de acordo com Pieruccini (2002). Para Briquet de Lemos (2002), uma biblioteca, no sentido de instituição social, possui “cinco pré-requisitos: a intencionalidade política e social, o acervo e os meios para sua permanente renovação, o imperativo de organização e sistematização, uma comunidade de usuários, efetivos e potenciais e, por último, mas não menos importante, o local, o espaço físico onde se dará o encontro entre os usuários e os serviços da biblioteca”. Entre suas políticas mais importantes está a promoção de situações de leitura para crianças que se encontram “na fase incipiente de contato com a linguagem escrita e que ainda não fazem uso autônomo dessa linguagem” (BAPTISTA, 2014).
Cristina Maria Rosa - Orientadora.
INTRODUÇÃO: No trabalho relato e analiso um processo de recuperação física do espaço interno de uma biblioteca escolar. Localizada na periferia urbana de Pelotas, a escola atende a aproximadamente 580 crianças e adolescentes, em dois turnos (manhã e tarde) além de ofertar educação a 243 Jovens e Adultos. As ações de restauro, realocação de móveis e utensílios e uso do acervo estão sendo desenvolvidas por um grupo de estudantes vinculados ao GELL – Grupo de Estudos em Leitura Literária e ao Projeto de Extensão Leitura Literária na Escola, ambos abrigados na FaE/UFPel. A Biblioteca que antes existia tornou-se, aos olhos da Direção, inadequada, demandando uma intervenção. Sem acesso a rotinas diárias, pois a “reforma” está impactando a vida de estudantes e professores, me propus a conhecer seus pontos de vista e expectativas. Observar o modo como as pessoas se portam no espaço é, também, observar sua capacidade de perceber o mundo, sua sensibilidade e cultura, de acordo com TUAN (1980). Citado por Drumond et all (2000), para ele, a “percepção” é “algo que pode ser considerado concretamente”, é “visível no modo como o meio ambiente é construído e modificado”.
Compreendo uma biblioteca como um espaço destinado a políticas de leitura e estas como um processo de acesso, uso, fruição e trocas relativas ao artefato mais importante de nossa cultura escrita – o livro. Para Rosa (2016), uma biblioteca escolar é o único espaço que não pode faltar em uma escola e, nas escolas de ensino fundamental, deve ser especializada no atendimento a crianças entre seis e quatorze anos de idade, tempo destinado a formação do leitor. Dispositivo “complexo, constituído por elementos heterogêneos como a arquitetura e o ambiente, as técnicas e tecnologias, os processos e produtos, as regras e regulamentos, os conteúdos materiais e imateriais”, a biblioteca para crianças e jovens é responsável por ampliar sentidos aos “significados por ela guardados”, de acordo com Pieruccini (2002). Para Briquet de Lemos (2002), uma biblioteca, no sentido de instituição social, possui “cinco pré-requisitos: a intencionalidade política e social, o acervo e os meios para sua permanente renovação, o imperativo de organização e sistematização, uma comunidade de usuários, efetivos e potenciais e, por último, mas não menos importante, o local, o espaço físico onde se dará o encontro entre os usuários e os serviços da biblioteca”. Entre suas políticas mais importantes está a promoção de situações de leitura para crianças que se encontram “na fase incipiente de contato com a linguagem escrita e que ainda não fazem uso autônomo dessa linguagem” (BAPTISTA, 2014).
Ao observar o Manifesto pela
Biblioteca Escolar da (UNESCO, 1999), percebi que um dos objetivos da
biblioteca escolar é “desenvolver e manter nas crianças o hábito e o prazer da
leitura e da aprendizagem, bem como o uso da biblioteca ao longo da vida”. No
Brasil, desde 2010, há uma lei (Lei Nº 12.244 de 24 de maio de 2010) que
determina a existência, em toda instituição de ensino do país, de bibliotecas.
Apesar da relevância pedagógica da biblioteca, de acordo com Neves (2010),
“esse ambiente escolar em geral tem sido desprezado pelas políticas públicas e
pelas práticas docentes”. Waldeck Carneiro da Silva aborda o tema em Miséria da Biblioteca Escolar (1995). No
texto, o autor expõe a realidade das escolas brasileiras: “... quando existe
biblioteca, esses lugares não passam de depósitos de livros e de outros
objetos, com horários de funcionamento breves e irregulares, ou ainda são
convertidas em espaços de punição”. Sobre o mesmo tema, Neves é clara quando
considera que, em muitas escolas, as bibliotecas acabam “cumprindo mais a
função de depósito de livros e materiais do que de ambiente pedagógico para
informação, letramento e fruição” (NEVES, 2010).
METODOLOGIA: Para descrever e avaliar o processo de recuperação física do espaço interno é preciso partir do início. Ao ser convidado a organizar o acervo da Biblioteca da Escola, em especial do espaço infantil, o GELL esperava, “encontrar uma sala com armários e prateleiras repletos de livros que precisaríamos apenas classificar e guardar novamente” (KURTZ in: ROSA, 2016). No entanto, desde o corredor de entrada – repleto de livros aguardando a arrumação – a situação era caótica. Na sala, um entulho de armários, cadeiras, móveis destruídos e inservíveis haviam sido agrupados no centro, para que as paredes fossem pintadas. A partir dessa primeira constatação, o grupo sentiu necessidade de transformar o espaço. Em uma primeira reunião, ideias e um plano de intervenção animaram a equipe que, daquele dia em diante, empreendeu esforços no sentido de transformar a sala em uma biblioteca: um espaço em que os estudantes gostassem de estar para ler. Ao longo do processo, recuperamos o piso, as janelas, as paredes. Inventamos cores, passamos massa corrida, reboco onde necessário. Decidimos por ambientes, espaços, funcionamento. Interferimos em móveis (lixamento, pintura, customização, forro, recuperação da estrutura) e definimos nichos para futuro uso. Criamos expectativas e uma área para as crianças pequenas, com um jardim-painel. Sonhamos com um miniauditório e o estamos gestando.
Paralelamente, investigo os significados que este novo espaço está adquirindo para seus usuários: crianças e professores da escola. De acordo com Augusto, Souza, Dellagnelo e Cario (2013), a pesquisa qualitativa atribui importância fundamental a compreensão de atitudes, motivações, expectativas e valores expressos nos depoimentos dos atores sociais e preza pela descrição detalhada dos fenômenos. Ela precisa ter credibilidade, transferibilidade, confiabilidade, explicitação cuidadosa da metodologia e relevância. Com poucos estudos anteriores descritos na Bibliografia, justifico a premência e importância da pesquisa. Os procedimentos escolhidos por mim para a investigação foram a) fotodocumentação do processo de recuperação interna do espaço; b) leitura do relatório de intervenção; c) elaboração de questionários abertos; d) escolha aleatória de sujeitos a serem ouvidos; e) incursões no local ainda em reforma; f) diálogos alunos e professoras; g) degravação e elaboração de conclusões. As interações ocorreram em julho de 2016, quando a reforma estava em andamento, inicialmente diante da porta fechada e, depois, no espaço. As questões buscaram conhecer o conceito de biblioteca para os sujeitos, a descrição e usos do espaço anteriormente destinado à biblioteca na escola, a sensação de não ter biblioteca durante a reforma, o conhecimento acerca do novo projeto, do andamento da obra e da equipe de trabalho além das expectativas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Ao referirem-se ao espaço que existia anteriormente na escola e que era denominado Biblioteca, um dos estudantes ouvidos disse: “Eu nunca senti interesse em ficar naquela biblioteca. Por mais que eu gostasse de ler, achava escura e muito apertada. Aqui é bem melhor”. E os demais completaram: “é bem mais legal”, pois “nós estávamos num aperto que nem respirar dava” e “na pequena, não tinha espaço para sentar e ficar lendo, era ruim”. Solicitados a descreverem em uma palavra o que está acontecendo dentro da sala em reforma, suas escolhas foram: “show, gostei muito”, “por enquanto, uma bagunça”, “uma reforma”, “um recomeço”. A expectativa desse grupo é de que a sala fique “bacana”, “bem lindo, bem bonito”, “muito lindo”, “bem alegre”, “colorido”. Uma das estudantes argumentou: “Desperta mais interesse. Se tu estás lá e tem de fazer um trabalho, fica atucanada com aquele livro super chato e ainda tem de ficar olhando para uma parede cinza ou de madeira, com vários nadas, é horrível”. Questionados se o novo ambiente poderia influenciar na vida escolar dos alunos, uma das meninas respondeu: “Acho que sim, ainda mais para os pequenos, até porque começa desde pequeno esse negócio de gostar de ler. Então eles vão crescer com isso na cabeça: que ler é bom e vão gostar daqui”. Outra concluiu: “Pena que é nosso último ano, a gente não vai poder aproveitar essa biblioteca!”. Mas logo perguntou: “A gente pode voltar para visitar depois que ficar pronto?”
Ao ouvir docentes gestoras percebi um discurso mais politizado, de quem pensa a escola como um todo. A atual situação – a escola não ter uma biblioteca – é “extremamente preocupante” e a sensação é de “faltar um pedaço da escola”, de acordo com a Diretora. Não ter material para trabalhos e pesquisas, o espaço em si e livros para leituras literárias foram citados como exemplos do “pedaço que falta”. Ao referir-se ao espaço anterior, informou: “Não se podia dizer que era uma biblioteca. Era uma peça pequena, só tinha uma mesa no centro, os livros ficavam encostados na mesa. O espaço era restrito, com janelas bem altas, não dava para abrir, não tinha claridade do dia, as luzes estavam sempre ligadas. No verão era muito quente, no inverno muito frio, ninguém tinha vontade de entrar”. Quanto ao trabalho que está sendo realizado, é reconhecido por alunos e professores como importante, de acordo com ela. As mudanças que vislumbraram – cores nas paredes, cadeiras com estofamento colorido, painel na parede do espaço infantil – superam as expectativas do que era esperado como “reforma”. Acredita que “quando o aluno entrar, vai se sentir recebido, parte da biblioteca e verá não apenas livros, mas livros integrados ao ambiente. E isso é essencial!”
Para a vice-diretora, as mudanças oportunizam “encantamento, as crianças identificam que é um ambiente de biblioteca e não uma simples sala de aula transformada”. A anterior era um “depósito de livros” no qual os alunos “se amontoavam ao lado de uma estante e ficavam pendurados procurando um livro que queriam”. O novo espaço “está se tornando um algo a mais, (...) um espaço de biblioteca mesmo, não um armazenamento de livros”. Informou que, inicialmente, os professores cobravam que a biblioteca não estava disponível, que a reforma estava demorando. Agora, os professores “estão impactados, vêem a transformação, o processo”, disse ela e “estão percebendo que fazer uma biblioteca não é só depositar o livro, fazer uma pilha de livros didáticos, fazer uma pilha de livros de literatura e pronto”. Eles sabem que “tem um processo: selecionar o livro, adequar”, pois a Biblioteca “tem partes, não é um todo, tem seus fragmentos”. E refletiu: “As bibliotecas de escola são feitas com pressa, jogam móveis e livros de qualquer jeito, pois é um espaço para receber o aluno, os professores não vão estar lá”. Ansiosos pela inauguração, os professores surpreenderam-se ao saber que é a Universidade a responsável pela reforma. “Não esperavam, disseram que a Universidade só quer fazer pesquisa e ir embora, nunca traz um benefício para a escola, nunca vinham”.
CONCLUSÕES: As ações de restauro, realocação de móveis e utensílios e criação de novos espaços que estão sendo desenvolvidas na escola só são possíveis por representarem um projeto de gestão, por parte da Direção da Escola e um projeto político, por parte do GELL (FaE/UFPel). Com expertise em projetar e desenvolver atitudes, eventos e espaços adequados à leitura literária, o grupo inventou um “modo de ser” para a Biblioteca, produziu uma planta, convenceu a escola, colaboradores e financiadores e realiza a obra. A investigação revelou que a sala anteriormente destinada a esse fim era inadequada quanto ao conceito, tamanho, iluminação, circulação, climatização e disposição dos acervos. Revelou também que parte considerável dos usuários nunca se defrontou com a possibilidade de uma biblioteca ser, também, um espaço de leitura, embora já exista a previsão para tal em documentos oficiais, como o Manual pedagógico da biblioteca da escola produzido pelo MEC em 1998
REFERÊNCIAS:
METODOLOGIA: Para descrever e avaliar o processo de recuperação física do espaço interno é preciso partir do início. Ao ser convidado a organizar o acervo da Biblioteca da Escola, em especial do espaço infantil, o GELL esperava, “encontrar uma sala com armários e prateleiras repletos de livros que precisaríamos apenas classificar e guardar novamente” (KURTZ in: ROSA, 2016). No entanto, desde o corredor de entrada – repleto de livros aguardando a arrumação – a situação era caótica. Na sala, um entulho de armários, cadeiras, móveis destruídos e inservíveis haviam sido agrupados no centro, para que as paredes fossem pintadas. A partir dessa primeira constatação, o grupo sentiu necessidade de transformar o espaço. Em uma primeira reunião, ideias e um plano de intervenção animaram a equipe que, daquele dia em diante, empreendeu esforços no sentido de transformar a sala em uma biblioteca: um espaço em que os estudantes gostassem de estar para ler. Ao longo do processo, recuperamos o piso, as janelas, as paredes. Inventamos cores, passamos massa corrida, reboco onde necessário. Decidimos por ambientes, espaços, funcionamento. Interferimos em móveis (lixamento, pintura, customização, forro, recuperação da estrutura) e definimos nichos para futuro uso. Criamos expectativas e uma área para as crianças pequenas, com um jardim-painel. Sonhamos com um miniauditório e o estamos gestando.
Paralelamente, investigo os significados que este novo espaço está adquirindo para seus usuários: crianças e professores da escola. De acordo com Augusto, Souza, Dellagnelo e Cario (2013), a pesquisa qualitativa atribui importância fundamental a compreensão de atitudes, motivações, expectativas e valores expressos nos depoimentos dos atores sociais e preza pela descrição detalhada dos fenômenos. Ela precisa ter credibilidade, transferibilidade, confiabilidade, explicitação cuidadosa da metodologia e relevância. Com poucos estudos anteriores descritos na Bibliografia, justifico a premência e importância da pesquisa. Os procedimentos escolhidos por mim para a investigação foram a) fotodocumentação do processo de recuperação interna do espaço; b) leitura do relatório de intervenção; c) elaboração de questionários abertos; d) escolha aleatória de sujeitos a serem ouvidos; e) incursões no local ainda em reforma; f) diálogos alunos e professoras; g) degravação e elaboração de conclusões. As interações ocorreram em julho de 2016, quando a reforma estava em andamento, inicialmente diante da porta fechada e, depois, no espaço. As questões buscaram conhecer o conceito de biblioteca para os sujeitos, a descrição e usos do espaço anteriormente destinado à biblioteca na escola, a sensação de não ter biblioteca durante a reforma, o conhecimento acerca do novo projeto, do andamento da obra e da equipe de trabalho além das expectativas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Ao referirem-se ao espaço que existia anteriormente na escola e que era denominado Biblioteca, um dos estudantes ouvidos disse: “Eu nunca senti interesse em ficar naquela biblioteca. Por mais que eu gostasse de ler, achava escura e muito apertada. Aqui é bem melhor”. E os demais completaram: “é bem mais legal”, pois “nós estávamos num aperto que nem respirar dava” e “na pequena, não tinha espaço para sentar e ficar lendo, era ruim”. Solicitados a descreverem em uma palavra o que está acontecendo dentro da sala em reforma, suas escolhas foram: “show, gostei muito”, “por enquanto, uma bagunça”, “uma reforma”, “um recomeço”. A expectativa desse grupo é de que a sala fique “bacana”, “bem lindo, bem bonito”, “muito lindo”, “bem alegre”, “colorido”. Uma das estudantes argumentou: “Desperta mais interesse. Se tu estás lá e tem de fazer um trabalho, fica atucanada com aquele livro super chato e ainda tem de ficar olhando para uma parede cinza ou de madeira, com vários nadas, é horrível”. Questionados se o novo ambiente poderia influenciar na vida escolar dos alunos, uma das meninas respondeu: “Acho que sim, ainda mais para os pequenos, até porque começa desde pequeno esse negócio de gostar de ler. Então eles vão crescer com isso na cabeça: que ler é bom e vão gostar daqui”. Outra concluiu: “Pena que é nosso último ano, a gente não vai poder aproveitar essa biblioteca!”. Mas logo perguntou: “A gente pode voltar para visitar depois que ficar pronto?”
Ao ouvir docentes gestoras percebi um discurso mais politizado, de quem pensa a escola como um todo. A atual situação – a escola não ter uma biblioteca – é “extremamente preocupante” e a sensação é de “faltar um pedaço da escola”, de acordo com a Diretora. Não ter material para trabalhos e pesquisas, o espaço em si e livros para leituras literárias foram citados como exemplos do “pedaço que falta”. Ao referir-se ao espaço anterior, informou: “Não se podia dizer que era uma biblioteca. Era uma peça pequena, só tinha uma mesa no centro, os livros ficavam encostados na mesa. O espaço era restrito, com janelas bem altas, não dava para abrir, não tinha claridade do dia, as luzes estavam sempre ligadas. No verão era muito quente, no inverno muito frio, ninguém tinha vontade de entrar”. Quanto ao trabalho que está sendo realizado, é reconhecido por alunos e professores como importante, de acordo com ela. As mudanças que vislumbraram – cores nas paredes, cadeiras com estofamento colorido, painel na parede do espaço infantil – superam as expectativas do que era esperado como “reforma”. Acredita que “quando o aluno entrar, vai se sentir recebido, parte da biblioteca e verá não apenas livros, mas livros integrados ao ambiente. E isso é essencial!”
Para a vice-diretora, as mudanças oportunizam “encantamento, as crianças identificam que é um ambiente de biblioteca e não uma simples sala de aula transformada”. A anterior era um “depósito de livros” no qual os alunos “se amontoavam ao lado de uma estante e ficavam pendurados procurando um livro que queriam”. O novo espaço “está se tornando um algo a mais, (...) um espaço de biblioteca mesmo, não um armazenamento de livros”. Informou que, inicialmente, os professores cobravam que a biblioteca não estava disponível, que a reforma estava demorando. Agora, os professores “estão impactados, vêem a transformação, o processo”, disse ela e “estão percebendo que fazer uma biblioteca não é só depositar o livro, fazer uma pilha de livros didáticos, fazer uma pilha de livros de literatura e pronto”. Eles sabem que “tem um processo: selecionar o livro, adequar”, pois a Biblioteca “tem partes, não é um todo, tem seus fragmentos”. E refletiu: “As bibliotecas de escola são feitas com pressa, jogam móveis e livros de qualquer jeito, pois é um espaço para receber o aluno, os professores não vão estar lá”. Ansiosos pela inauguração, os professores surpreenderam-se ao saber que é a Universidade a responsável pela reforma. “Não esperavam, disseram que a Universidade só quer fazer pesquisa e ir embora, nunca traz um benefício para a escola, nunca vinham”.
CONCLUSÕES: As ações de restauro, realocação de móveis e utensílios e criação de novos espaços que estão sendo desenvolvidas na escola só são possíveis por representarem um projeto de gestão, por parte da Direção da Escola e um projeto político, por parte do GELL (FaE/UFPel). Com expertise em projetar e desenvolver atitudes, eventos e espaços adequados à leitura literária, o grupo inventou um “modo de ser” para a Biblioteca, produziu uma planta, convenceu a escola, colaboradores e financiadores e realiza a obra. A investigação revelou que a sala anteriormente destinada a esse fim era inadequada quanto ao conceito, tamanho, iluminação, circulação, climatização e disposição dos acervos. Revelou também que parte considerável dos usuários nunca se defrontou com a possibilidade de uma biblioteca ser, também, um espaço de leitura, embora já exista a previsão para tal em documentos oficiais, como o Manual pedagógico da biblioteca da escola produzido pelo MEC em 1998
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51 nº.4. Brasília Oct./Dec. 2013. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-20032013000400007
BAPTISTA, M. Bebetecas. Glossário
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BRASIL. MEC/FNDE. Manual pedagógico da biblioteca da escola.
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Ângela; SILVA, Moema; CAMPOS, Paulo. Análise e reestruturação de
espaço físico em bibliotecas: Estudo de caso da situação funcional e
administrativa da biblioteca da EA/UFMG - proposição de soluções emergenciais.
In: Análise e reestruturação de espaço
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Disponível em: snbu.bvs.br/snbu2000/docs/pt/doc/t110.doc
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como espaço de produção do conhecimento: Parâmetros para bibliotecas
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Relatório de Intervenção: imagens e palavras sobre a interferência na
Biblioteca da EEEF Fernando Treptow. Relatório
de Pesquisa. Pelotas: PRPPG/UFPel,
2016.
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do letramento. Campinas, SP: Mercado das Letras, 2011.
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