Professores e as demandas...
Cristina Maria Rosa
Estefânia Konrad
Chamados a responder a questão social e política que surgiu com a
impossibilidade de ir à escola, os professores tiveram que responder através da
qualidade, intensidade, frequência e resultado de seu trabalho a pais, colegas,
direções, gestores e à sociedade.
O que pensam disso os professores que estão na linha de frente dessa
demanda social? Como se organizaram para corresponder às expectativas? Qual o
grupo de equipamentos que precisaram dispor para trabalhar? Como se sentem ao
ter que inventar-se, todos os dias?
Diante dessas curiosidades, nossa pesquisa buscou conhecer como os
professores compreendem o momento. Através de sete perguntas, a intenção foi
inventariar como estes docentes estão lidando com o ensino a distância, com
seus alunos e as famílias destes, com os equipamentos e redes de aceso e,
também, com as plataformas digitais.
Professores, perguntas e
respostas...
Uma das questões enviadas aos professores foi a respeito dos equipamentos
utilizados para o trabalho remoto.
O professor Antônio Maurício informou que as tecnologias utilizadas no curso que
fez para se capacitar foram as do ambiente
virtual de aprendizagem disponível na Universidade, somado ao uso de vídeos.
Para cada texto que iríamos ler eu solicitava ao autor que gravasse um pequeno
vídeo se apresentando, no celular mesmo. Esses vídeos foram disponibilizados
aos participantes no AVA (MOODLE) permitindo a sua aproximação aos autores dos
textos, lhes permitindo identificar os teóricos como sujeitos iguais a si,
“pessoas comuns”, porém que se destacam como pesquisadores em suas áreas de
estudo.
O professor Leonardo informou que usa principalmente notebook e celular
como equipamentos e neles, os programas disponíveis como recursos digitais. Em
suas palavras:
O notebook, para preparar as atividades e também para as reuniões on-line;
o celular tem sido bastante usado para responder a pais e alunos que não
conseguem ler e interpretar as informações básicas e claras que a eles são
enviados pela internet. O resultado é uma enxurrada de dúvidas e comentários
nas publicações! O celular, então, serve como um recurso rápido de resposta,
afinal está quase sempre em nossas mãos.
Acrescentou, ainda, que outros recursos importantes “são os livros de
literatura e didáticos que embasam algumas atividades, além de vídeos disponíveis
no Youtube”. Estes “substituem explicações dos professorem em sala de aula”.
A professora Jéssica mencionou utilizar como equipamentos para seu trabalho
remoto emergencial, o notebook, o celular e fones de ouvido.
Para isso, todos precisam
de conexão. E, perguntamos: qual a rede que os professores utilizam?
Antonio respondeu que tem “em casa internet da NET/Claro” e a professora
Jéssica afirmou utilizar “Internet via Rádio”. Acrescentou que, neste momento,
teve “que aumentar a velocidade para dar conta da demanda”. Já Leonardo
escreveu:
Estou no interior de Vista Alegre do Prata e, aqui, a internet é por fibra
óptica, vem junto com os fios do telefone fixo. Não sei dizer, ao certo, a
velocidade dela, mas é bastante eficiente quando sou o único a usá-la em minha
residência.
Observando os depoimentos, percebemos que os equipamentos mencionados como
utilizados, em geral, são os mesmos: o computador e/ou notebook, o celular e,
com eles, os profissionais acessam as mais variadas plataformas. Foi possível
notar, também, que, apesar do distanciamento do público alvo, o trabalho remoto
e a EAD se assemelha, quando posto em prática, ao trabalho docente, uma vez que
envolve conhecimento, estudantes, docentes, pais e a estrutura da escola.
Já em relação à rede de acesso, sabemos que, para submeter os materiais
necessários e para que estes sejam acionados, utilizados e devolvidos aos
professores, é preciso um bom suporte de internet. No caso de nossos
interlocutores, todos bancam, “de casa” e do próprio orçamento, as tecnologias
necessárias para trabalhar. Esse um ponto nevrálgico quando o professor tem
remuneração aquém de suas demandas.
E, por fim, solicitamos que os docentes entrevistados descrevessem algo
inusitado que aconteceu nestes primeiros dias de trabalho remoto emergencial. Ao
analisarmos as três respostas, concluímos que a essência do “ser professor”
está presente independente da modalidade utilizada. Para ilustrar uma delas, revelamos
a historieta escrita pelo professor Leonardo:
Nesta semana, tive um diálogo com um dos meus alunos que não vinham
participando das atividades via Face book:
- Oi Samuel, tudo bem?
- Tudo professor, cortei o cabelo.
Ri da situação, sozinho, sem demonstrar a ele minha surpresa com a
resposta. Depois, voltei a digitar:
- Está muito bonito, parabéns!
- Obrigado, minha avó mandou cortar, que dia volta as aulas?
- Por enquanto não tem data, por isso estamos mandando atividades para
vocês fazerem em casa, aqui pela internet.
- Ai a quarentena ta bom?
- Não gosto de ficar em casa trancado, gosto de ir para escola trabalhar.
E tu?
- Eu não gosto ficar em casa também eu sai de casa trancado dentro de
casa.
Para compreender o cenário, Leonardo acrescentou:
O aluno da história é especial, tem retardo mental leve e claramente
demonstra não dominar a internet. Não apenas pelo excerto acima, mas, também,
por ter entrado no grupo do 3º ano e não do 4º, a turma dele. Quando
questionado pela Coordenadora a respeito de sua presença no grupo do 3º ano,
não soube responder. Perguntado se sabia sua turma, ele também não soube
responder. Mas sabia o nome do professor e me procurou no Face book. Samuel tem 15 anos e já reprovou algumas vezes...
Referências
GOMES, Luiz Fernando EAD NO BRASIL:
PERSPECTIVAS E DESAFIOS Avaliação: Revista da Avaliação da Educação Superior,
vol. 18, núm. 1, pp. 13-22 Universidade de Sorocaba. Sorocaba, março de 2013.
ARAÚJO, Marcus de Souza EAD em tela: Docência, ensino e ferramentas digitais. Revista Brasileira de
Linguística Aplicada, vol. 14, num 3. Belo Horizonte, Setembro de 2014.
Link https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1984-63982014000300011&script=sci_arttext acessado em 14 de junho de 2020 ás 14h23.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da
autonomia: Saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1996.
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