Páginas

10 julho 2020

Trabalho remoto de professores: rede, equipamentos e curiosidades


Professores e as demandas...
Cristina Maria Rosa
Estefânia Konrad

Chamados a responder a questão social e política que surgiu com a impossibilidade de ir à escola, os professores tiveram que responder através da qualidade, intensidade, frequência e resultado de seu trabalho a pais, colegas, direções, gestores e à sociedade.
O que pensam disso os professores que estão na linha de frente dessa demanda social? Como se organizaram para corresponder às expectativas? Qual o grupo de equipamentos que precisaram dispor para trabalhar? Como se sentem ao ter que inventar-se, todos os dias?
Diante dessas curiosidades, nossa pesquisa buscou conhecer como os professores compreendem o momento. Através de sete perguntas, a intenção foi inventariar como estes docentes estão lidando com o ensino a distância, com seus alunos e as famílias destes, com os equipamentos e redes de aceso e, também, com as plataformas digitais.
Professores, perguntas e respostas...
Uma das questões enviadas aos professores foi a respeito dos equipamentos utilizados para o trabalho remoto.
O professor Antônio Maurício informou que as tecnologias utilizadas no curso que fez para se capacitar foram as do ambiente virtual de aprendizagem disponível na Universidade, somado ao uso de vídeos. Para cada texto que iríamos ler eu solicitava ao autor que gravasse um pequeno vídeo se apresentando, no celular mesmo. Esses vídeos foram disponibilizados aos participantes no AVA (MOODLE) permitindo a sua aproximação aos autores dos textos, lhes permitindo identificar os teóricos como sujeitos iguais a si, “pessoas comuns”, porém que se destacam como pesquisadores em suas áreas de estudo.
O professor Leonardo informou que usa principalmente notebook e celular como equipamentos e neles, os programas disponíveis como recursos digitais. Em suas palavras:
O notebook, para preparar as atividades e também para as reuniões on-line; o celular tem sido bastante usado para responder a pais e alunos que não conseguem ler e interpretar as informações básicas e claras que a eles são enviados pela internet. O resultado é uma enxurrada de dúvidas e comentários nas publicações! O celular, então, serve como um recurso rápido de resposta, afinal está quase sempre em nossas mãos.

Acrescentou, ainda, que outros recursos importantes “são os livros de literatura e didáticos que embasam algumas atividades, além de vídeos disponíveis no Youtube”. Estes “substituem explicações dos professorem em sala de aula”.
A professora Jéssica mencionou utilizar como equipamentos para seu trabalho remoto emergencial, o notebook, o celular e fones de ouvido.
Para isso, todos precisam de conexão. E, perguntamos: qual a rede que os professores utilizam?
Antonio respondeu que tem “em casa internet da NET/Claro” e a professora Jéssica afirmou utilizar “Internet via Rádio”. Acrescentou que, neste momento, teve “que aumentar a velocidade para dar conta da demanda”. Já Leonardo escreveu:

Estou no interior de Vista Alegre do Prata e, aqui, a internet é por fibra óptica, vem junto com os fios do telefone fixo. Não sei dizer, ao certo, a velocidade dela, mas é bastante eficiente quando sou o único a usá-la em minha residência.

Observando os depoimentos, percebemos que os equipamentos mencionados como utilizados, em geral, são os mesmos: o computador e/ou notebook, o celular e, com eles, os profissionais acessam as mais variadas plataformas. Foi possível notar, também, que, apesar do distanciamento do público alvo, o trabalho remoto e a EAD se assemelha, quando posto em prática, ao trabalho docente, uma vez que envolve conhecimento, estudantes, docentes, pais e a estrutura da escola.
Já em relação à rede de acesso, sabemos que, para submeter os materiais necessários e para que estes sejam acionados, utilizados e devolvidos aos professores, é preciso um bom suporte de internet. No caso de nossos interlocutores, todos bancam, “de casa” e do próprio orçamento, as tecnologias necessárias para trabalhar. Esse um ponto nevrálgico quando o professor tem remuneração aquém de suas demandas.
E, por fim, solicitamos que os docentes entrevistados descrevessem algo inusitado que aconteceu nestes primeiros dias de trabalho remoto emergencial. Ao analisarmos as três respostas, concluímos que a essência do “ser professor” está presente independente da modalidade utilizada. Para ilustrar uma delas, revelamos a historieta escrita pelo professor Leonardo:

Nesta semana, tive um diálogo com um dos meus alunos que não vinham participando das atividades via Face book:
- Oi Samuel, tudo bem?
- Tudo professor, cortei o cabelo.
Ri da situação, sozinho, sem demonstrar a ele minha surpresa com a resposta. Depois, voltei a digitar:
- Está muito bonito, parabéns!
- Obrigado, minha avó mandou cortar, que dia volta as aulas?
- Por enquanto não tem data, por isso estamos mandando atividades para vocês fazerem em casa, aqui pela internet.
- Ai a quarentena ta bom?
- Não gosto de ficar em casa trancado, gosto de ir para escola trabalhar. E tu?
- Eu não gosto ficar em casa também eu sai de casa trancado dentro de casa.

Para compreender o cenário, Leonardo acrescentou:
O aluno da história é especial, tem retardo mental leve e claramente demonstra não dominar a internet. Não apenas pelo excerto acima, mas, também, por ter entrado no grupo do 3º ano e não do 4º, a turma dele. Quando questionado pela Coordenadora a respeito de sua presença no grupo do 3º ano, não soube responder. Perguntado se sabia sua turma, ele também não soube responder. Mas sabia o nome do professor e me procurou no Face book. Samuel tem 15 anos e já reprovou algumas vezes...

Referências
GOMES, Luiz Fernando EAD NO BRASIL: PERSPECTIVAS E DESAFIOS Avaliação: Revista da Avaliação da Educação Superior, vol. 18, núm. 1, pp. 13-22 Universidade de Sorocaba. Sorocaba, março de 2013.
Link https://www.redalyc.org/pdf/2191/219125744002.pdf acessado em 10 de junho de 2020 ás 18h34.
ARAÚJO, Marcus de Souza EAD em tela: Docência, ensino e ferramentas digitais. Revista Brasileira de Linguística Aplicada, vol. 14, num 3. Belo Horizonte, Setembro de 2014.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.

Nenhum comentário:

Postar um comentário