Pedagogia: um dia para comemorar?
Luzia Helena Brandt Martins
Paloma Wiegand
Valdoir Simões Campelo
Introdução
A importância da profissão “Pedagogo” e seu reconhecimento como
profissão basilar na escola integra parte das datas comemorativas no país.
Exercida majoritariamente por mulheres, a Licenciatura em Pedagogia é
amplamente ofertada pelo sistema de ensino público e privado no Brasil e, ainda,
porta de entrada de mulheres no mercado de trabalho formal. Definido por
legislação vigente – Lei 13,083 de 8 de janeiro de 2015 – a instituição do “Dia
Nacional do Pedagogo” pode e deve ser comemorado.
Pedagogia: uma ciência?
A Pedagogia foi criada na década de 30 no século XX, quando intensas
discussões sobre a educação no Brasil tiveram curso. Neste mesmo tempo, duas
universidades lançaram suas proposições: em 1934, a Fundação da Universidade de
São Paulo e, em 1935, a Universidade do Distrito Federal, em 1935. A partir
dessas duas primeiras licenciaturas, outros cursos foram propostos em todo o Brasil
e, com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1971
(LDB 5692/71), o Pedagogo foi autorizado a atuar desde a Educação Infantil até
à 5ª série dos anos iniciais. De acordo com a lei, poderia lecionar diversas
disciplinas. Atualmente – os anos 20 do Século XXI, o Curso de Pedagogia se faz
tão essencial por diversos motivos. Um deles é a área de atuação que atinge
grande espectro, pois esses profissionais podem desenvolver seus saberes e
técnicas em escolas, hospitais, universidades, asilos, penitenciárias e empresas, entre outros.
Mas, o que é a Pedagogia?
Mais que uma “ciência aplicada” a essência da Pedagogia, uma
licenciatura que varia da dois a cinco anos para completar sua formação
acadêmica, está assentada na relação entre humanos e conhecimento, entre
tradição e pesquisa científica, entre saberes e sabores que se iniciam bem cedo,
quando adentramos o sistema escolar.
No livro Pedagogia como
ciência da educação[1],
Maria Amélia Santoro Franco inventaria os sentidos que a Pedagogia foi
adquirindo no transcurso de sua instituição como profissão e indica três
concepções que emergem no intuito de definir sua epistemologia: a Pedagogia
filosófica, a Pedagogia técnico-científica e a Pedagogia crítico-emancipatória.
É na configuração da Pedagogia como ciência da educação que a autora a defende
como um instrumento político e de emancipação, uma vez que evidencia relações
existentes entre a práxis educativa e a práxis pedagógica e defende que deve
ter por finalidade "o esclarecimento reflexivo e transformador da práxis
educativa, discutindo as mediações possíveis entre teoria e práxis". Como
"explícita mediadora da práxis educacional", a Pedagogia, para a
autora, deve conduzir o sujeito à humanização, à emancipação, a apreender e
reconstruir a cultura, condição de cidadania. Para a autora, ainda, a Pedagogia
precisa passar da racionalidade técnica à racionalidade prática, reflexiva,
formativa e emancipatória.
E a formação do profissional da Pedagogia? Para a autora, este deve
“enfatizar o aspecto crítico-reflexivo, que compreenda a complexa pluralidade
do âmbito educacional, a necessidade de mediar um processo de aprendizagem
voltado para a formação integral de um sujeito de pensamento fragmentado,
acrítico, alienado das questões políticas e socioculturais”. Seria, assim, o
pedagogo, um “investigador educacional por excelência”, com características de
profissional crítico e reflexivo, uma vez que a Pedagogia é uma ciência que
visa o estudo e a compreensão da práxis educativa em suas intencionalidades. De
acordo com Libâneo (2017[2]), o livro de Franco “contribui para esclarecer aspectos do debate que se tem
travado na área educacional a respeito da formação de educadores, reafirmando a
tradição teórica em que a Pedagogia, como ciência da educação, formula a partir
da práxis educativa os elementos científicos e técnicos da formação humana,
constituindo referência para todas as práticas educativas, entre elas o
trabalho docente. Ou seja, a docência fundamenta-se na Pedagogia e não o
inverso”.
Onde atua o Pedagogo?
Profissão que está para além dos muros da escola, ela está na
sensibilidade do profissional que atua nessa área. Hoje, na escola, a Pedagogia
vai desde a área administrativa até a sala de aula estando presente na direção escolar,
salas de AEE, Orientação educacional e Coordenação Pedagógica. Em salas de aula
está presente na Educação Infantil, 1º ao 5º dos anos iniciais e 1ª à 4ª etapa na Educação de Jovens e Adultos.
Em empresas, hospitais, asilos, abrigos, creches e no sistema penitenciário, o Pedagogo tem tarefas vinculadas a gestão de grupos e cuidados, junto com a Psicologia e a Terapia Ocupacional. Além disso, o profissional tem sido contatado como pesquisador por muitas empresas que precisam compreender como suas equipes podem e devem trabalhar em grupos colaborativos.
Em empresas, hospitais, asilos, abrigos, creches e no sistema penitenciário, o Pedagogo tem tarefas vinculadas a gestão de grupos e cuidados, junto com a Psicologia e a Terapia Ocupacional. Além disso, o profissional tem sido contatado como pesquisador por muitas empresas que precisam compreender como suas equipes podem e devem trabalhar em grupos colaborativos.
A pesquisa e sua metodologia
Para marcar o “Dia do Pedagogo”, nós, do PET Educação procuramos conhecer,
entre Pedagogos e estudantes, quais suas perspectivas em relação à educação em
tempos de Covid-19.
Escolhemos como mecanismo de coleta de informações uma plataforma
digital. O canal utilizado foi o Google formulário; nele, algumas perguntas
sobre a profissão. O foco é apresentar reflexões que foram inseridas nas
respostas de profissionais atuantes e futuros profissionais que cursam a
Licenciatura em Pedagogia na Universidade Federal de Pelotas.
Questões:
1.
Há quantos anos estás atuando como Pedagogo (a)?
2.
Durante tua carreira, como percebeste as mudanças sociais?
3.
Como acreditas que será o retorno pós pandemia?
Além dos profissionais que atuam na profissão, enviamos uma
pergunta aos estudantes e futuros profissionais que cursam Pedagogia na
Universidade Federal de Pelotas. Ela foi: Para ti, o que é um(a) Pedagogo(a)?
Logo depois das respostas recebidas (a data limite para envio das mensagens foi 17/05), todas foram inseridas em uma plataforma para que pudessem ser bem observadas e analisadas. Neste momento, o grupo responsável pelo trabalho – Luzia, Paloma e Valdoir –, por mensagens e telefonemas, combinou o que e como revelar as descobertas.
Logo depois das respostas recebidas (a data limite para envio das mensagens foi 17/05), todas foram inseridas em uma plataforma para que pudessem ser bem observadas e analisadas. Neste momento, o grupo responsável pelo trabalho – Luzia, Paloma e Valdoir –, por mensagens e telefonemas, combinou o que e como revelar as descobertas.
Resultados
O pensam os Pedagogos sobre a educação em tempos de pandemia? Entre
as respostas descobrimos que 42.9% dos que se manifestaram trabalham menos de 10
anos na profissão. Os demais, 35.5% entre 10 e 20 anos e 21.6% já estão em fins
de carreira, pois já trabalham entre 20 e 30 anos como Pedagogos.
Quando se referem a “mudanças sociais” observadas no tempo em que
desempenham as atividades profissionais, muitos disseram que estas interferem diretamente
na educação. Outros apontaram avanço e acesso à tecnologia como maior mudança
social ocorrida e houve ainda quem ressaltou a desvalorização dos professores e
pedagogos e a falta de interesse dos alunos e pais pela educação como o fato
social e politica mais relevante observado. Como exemplo, a consideração a
seguir:
Foram muitas as mudanças e todas através de muita luta. Percebo, porém,
que demos um passo à frente e três, para trás, principalmente na educação.
Tivemos grandes avanços na inclusão e, no momento, temos que ficar atentos para
não perder aquilo que conquistamos.
Sobre o retorno pós-pandemia, o termo “desafio” foi bastante usado,
assim como “adaptações” e “processos lentos”. Muitos profissionais manifestaram
preocupação com a comunidade escolar, em especial aos cuidados e prevenções
durante o retorno, como na resposta enviada:
Acredito que muitos cuidados serão necessários. Um trabalho deverá
ser feito para que os alunos consigam seguir as orientações corretas de higiene
e preservação da sua saúde. Os professores serão os principais agentes nesse
trabalho de orientação na sala de aula e a família se faz muito necessária para
reforçar as atitudes de cuidado de seus filhos. Nada será como antes, isso
temos certeza! Como será? Ninguém sabe ao certo. A nossa única certeza é que no
momento preservar vidas é o mais importante, o resto, corremos atrás.
Outro ainda ressaltou que se o acompanhamento familiar foi
realizado durante a pandemia, o retorno do profissional será “tranqüilo”. Assim,
nota-se que os profissionais pesquisados percebem a proporção do vírus e se
preocupam com o que ainda será feito em relação à educação e contam com o apoio
das famílias, para tal.
Concluindo
Ao refletir sobre a profissão, principalmente durante uma pandemia,
muitos elementos devem ser considerados. Como foi citada entre os
entrevistados, a valorização aos Pedagogos realmente anda falha, é quase nula.
Pensamos que é de suma importância, nós, como futuros profissionais da área, conhecermos
o que pensam e como agem. Sabemos que a maioria dos Pedagogos vinculados ao trabalho,
seja em escolas, abrigos, asilos, penitenciárias, empresas e hospitais está
trabalhando neste momento. Presencialmente ou “de casa”, por vídeos, áudios e
mensagens em grupos e outras plataformas, aulas estão sendo planejadas e
executadas e o contato com os alunos ainda está acontecendo. De forma
diferente, mas ininterruptamente. Ou seja, o profissional da educação continua
atuando em sua área.
Mesmo que não esteja na linha de frente contra o Covid-19, está se
adaptando aos novos tempos e à sociedade que está surgindo dessa crise
profunda. Junto a outros profissionais, especialmente os da saúde física e
mental, está encontrando forças para trabalhar todos os dias, via internet. Sobre
esse aspecto, o do trabalho virtual, uma de nossas informantes escreveu que as
mudanças foram “intensas e graves”:
Existiu um tempo em que as desigualdades eram severas
e houve ruptura com a eleição de um governo popular. Depois, um golpe e,
atualmente, vivemos as perdas de direitos. As principais mudanças foram as tecnológicas,
que democratizaram as informações e mobilizaram vários setores da sociedade.
Atualmente, está tudo subordinado à alta tecnologia, a rapidez e a intensidade
das informações. A vida é controlada. E somos controladas.
Outro aspecto mencionado foi a sobrecarga desses profissionais que
precisam de 40 ou 60 horas semanais de trabalho para ter um salário digno. Evidenciamos
nos depoimentos, que houve sim, diversas mudanças sociais que estão
interligadas à educação e, junto a elas, a preocupação em não perder nenhum dos
direitos adquiridos através das lutas da categoria.
Agradecer e parabenizar
O PET Educação reconhece e valoriza a profissão e quer, neste momento,
neste dia 20 de maio de 2020, em meio à pandemia de Covid-19, agradecer e
parabenizar todos que já educam e aos que desejam educar no futuro.
Parabéns e...
Vamos em frente!
Referências:
Dia do pedagogo disponível em:
Pesquisa Google Formulário disponível em:
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