Pesquisa sobre TEA na escola é destaque na SIIEPE 2019


Mariana Paz é mais uma das bolsistas do PET Educação que se destacaram na SIIEPE 2019. Entrevistada pela Coordenação de Comunicação Social da UFPel, a imagem da petiana foi parar no site oficial da Universidade (http://ccs2.ufpel.edu.br/wp/2019/10/25/para-quem-estreia-na-siiepe-preparacao-e-a-chave/), divulgando o tema e a os resultados de seu trabalho de pesquisa. Para a jornalista, Mariana disse: “Foi uma experiência nova e enriquecedora. Aprendi bastante com a banca e os outros trabalhos que foram apresentados”.
Apresentado na manhã do dia 22/10, terça feira, os aplausos após a comunicação oral de Mariana levaram a crer que ali havia mais um diferenciado estudo realizado.
O PET Educação está comemorando mais essa conquista do grupo que foi muito bem representado pela Mariana Paz. Leia o trabalho integral de Mariana:


AUTISMO NA ESCOLA: O QUE DIZEM AS PROFESSORAS?

MARIANA GONÇALVES PAZ; CRISTINA MARIA ROSA3

1 Universidade Federal de Pelotas – marianapaz150@gmail.com
3 Universidade Federal de Pelotas – cris.rosa.ufpel@hotmail.com

1. INTRODUÇÃO

A investigação que originou este trabalho surgiu do interesse suscitado durante aulas que trataram do tema “Inclusão” e “Autismo” na Licenciatura em Pedagogia da FaE/UFPel. Nelas, considerações sobre o preparo e/ou despreparo dos professores para educar pessoas com autismo foram mencionadas. Textos estudados indicavam que “professores apresentam ideias distorcidas” a respeito do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) e “essas concepções parecem influenciar as práticas pedagógicas e as expectativas acerca da educabilidade desses alunos” (GOLDBERG, PINHEIRO e BOSA apud CAMARGO e BOSA, 2009). Interessada em ampliar minha compreensão sobre o tema, constatei que há muita informação disponível (artigos, dissertações, teses, publicações on-line e livros) e, ao mesmo tempo, declarações de desconhecimento acerca do transtorno e da inclusão de crianças autistas nas escolas. A fundamentação teórica para esta pesquisa concentra-se em três artigos científicos e dois capítulos de livro. No primeiro artigo, as autoras Síglia Camargo e Cleonice Bosa (2009) conceituam autismo e argumentam pela importância da inclusão de alunos autistas na escola. O segundo artigo considerado foi publicado no Jornal Brasileiro de Pediatria em 2004 e seus autores – Carlos Gadia, Roberto Tuchman e Newra Rotta – utilizaram linguagem coloquial, de fácil entendimento e, por isso, foi selecionado por mim para esta pesquisa. Já o terceiro é assinado por Fernando Gustavo Stelzer (2010) e nele há uma breve visão histórica sobre o autismo. Quanto aos capítulos de livro mencionados e considerados, se referem à Pesquisa Qualitativa e orientações sobre Organização do Trabalho, concepções estas organizadas por Maria Cecília Minayo e Romeu Gomes Cruz no livro Pesquisa Social - Teoria, Método e Criatividade (1993). A partir do contato com os autores citados e outros já estudados até aqui, fiquei instigada a ouvir o que sabem as professoras da rede pública sobre o tema.

2. METODOLOGIA

De cunho qualitativo, nesta pesquisa busco apresentar um levantamento de dados coletados a partir de entrevistas com professores em uma escola pública municipal. A pesquisa qualitativa oportuniza, de acordo com Minayo, "um nível de realidade que não pode ser quantificado [...] ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis" (1993). Quanto ao termo entrevista, Gomes explica que "não significa uma conversa despretensiosa e neutra, uma vez que se insere como meio de coleta dos fatos relatados pelos atores, enquanto sujeitos-objeto da pesquisa que vivenciaram uma determinada realidade que está sendo focalizada [...] a entrevista [...] está sendo por nós entendida como uma conversa a dois com propósitos bem definidos" (1993). O foco da entrevista que realizei foi conhecer o que as professoras sabem sobre o TEA – Transtorno do Espectro do Autismo. E, por ser uma pesquisadora iniciante, me concentrei em entrevistar um pequeno grupo de professores que atuam em uma escola pública na periferia urbana de Pelotas, RS.
Como objetivo e procedimento inicial, realizei estudos teóricos com o intuito de conhecer melhor o Autismo e a Inclusão de pessoas com TEA. Após, e como momentos de pesquisa, realizei: a) A elaboração de um Termo de Consentimento a ser assinado pelos sujeitos de pesquisa; b) A organização de uma entrevista estruturada, com três questões: “O que é Autismo para ti?”; “Tens um aluno autista na tua sala de aula?” e “Se sim, há um atendimento especializado para ele?”; c) A proposição da entrevista a ser aprovada pela escola; d) A realização das entrevistas com um grupo de seis professoras; e) A leitura e organização das respostas; f) A comunicação dos resultados em eventos.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nas últimas décadas, o número de diagnósticos de pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo vem aumentando de forma significativa. Há alguns anos, médicos explicavam o autismo como uma doença causada pela falta de afeto da mãe, outros a confundiam com esquizofrenia infantil (STELZER, 2010). Todas essas teorias foram descontinuadas devido à falta de comprovação. As causas do transtorno até hoje são desconhecidas, embora existam inúmeras teorias e hipóteses sobre elas e sobre possíveis “curas”. O que se sabe é que o autismo não é doença. É um transtorno, e, por ser um transtorno, não possui cura, e sim intervenções que contribuem para um melhor desenvolvimento pessoal, educacional e profissional de pessoas autistas. O que os autistas possuem em comum são dificuldades em três áreas do desenvolvimento: comunicação, comportamento e socialização. Existem também diferentes níveis de autismo. Para GADIA, TUCHMAN e ROTA (2014), o autismo não é "uma doença única”. É um “distúrbio de desenvolvimento complexo, definido de um ponto de vista comportamental, com etiologias múltiplas e graus variados de severidade”. Para os pesquisadores,

“As manifestações comportamentais que definem o autismo incluem déficits qualitativos na interação social e na comunicação, padrões de comportamento repetitivos e estereotipados e um repertório restrito de interesses e atividades. [...] As dificuldades na interação social em TID podem manifestar-se como isolamento ou comportamento social impróprio; pobre contato visual; dificuldade em participar de atividades em grupo; indiferença afetiva ou demonstrações inapropriadas de afeto; falta de empatia social ou emocional. [...] As dificuldades na comunicação ocorrem em graus variados, tanto na habilidade verbal quanto na não-verbal de compartilhar informações com outros. Algumas crianças não desenvolvem habilidades de comunicação. Outras têm uma linguagem imatura, caracterizada por jargão, ecolalia, reversões de pronome, prosódia anormal, entonação monótona, etc. Os que têm capacidade expressiva adequada podem ter inabilidade em iniciar ou manter uma conversação apropriada. [...] Os padrões repetitivos e estereotipados de comportamento característicos do autismo incluem resistência a mudanças, insistência em determinadas rotinas, apego excessivo a objetos e fascínio com o movimento de peças (tais como rodas ou hélices). Embora algumas crianças pareçam brincar, elas se preocupam mais em alinhar ou manusear os brinquedos do que em usá-los para sua finalidade simbólica. Estereotipias motoras e verbais, tais como se balançar, bater palmas repetitivamente, andar em círculos ou repetir determinadas palavras, frases ou canções são também manifestações freqüentes em autistas" (2004, p. 83 e 84).

Nota-se, de acordo com estes autores, a complexidade do transtorno. O importante, no entanto, é saber que estes sintomas podem ser minimizados ou até mesmo extintos quando são feitas intervenções desde a mais tenra idade, conforme BOSA e CAMARGO (2009, p: 67) “os comprometimentos nessas áreas estão presentes antes dos três anos de idade, quando os pais, em geral, já percebem e preocupam-se com as limitações observadas, cada vez mais aparentes ao longo do desenvolvimento". Assim, intervenções precoces, feitas por profissionais qualificados, são de extrema importância e inúmeros artigos científicos indicam a eficácia destas.
Quanto aos resultados alcançados com as entrevistas com os docentes, o passo inicial ocorreu em 03/09/2019, quando, após ser apresentada à escola, a pesquisa foi aprovada. A partir daí houve assinatura dos Termos de Consentimento e a realização das entrevistas (entre os dias 04 e 09/09/2019), em adaptação aos horários disponíveis das professoras.
Analisadas cuidadosamente as respostas, constatei que há pouco conhecimento científico sobre o autismo na escola. As professoras indicam possuir experiência no atendimento de crianças, e, algumas, mesmo sem conhecer o transtorno, usam estratégias simples para com os alunos. Das seis professoras entrevistadas, cinco possuem ou já possuíram em sua classe alunos com TEA. Quando entrevistadas, apenas uma afirmou já ter assistido a uma palestra sobre autismo, e que esta consistiu em conhecer uma experiência materna, não docente. Concluiu afirmando não possuir "um conceito sobre autismo".
Sobre a prática docente com alunos com TEA, uma participante declarou que os professores "vão muito pela intuição", que "tem que ir fazendo testagens" além de "conhecer a criança naquele momento, porque tem graus diferentes de autismo". Outra professora disse que no transtorno “algumas coisas são semelhantes, outras não". Segundo sua concepção, o Aluno com TEA: “[...] tem certa dificuldade no aprendizado perante os outros, assim como todos têm, mas ele tem mais pela falta de atenção, pois ele é mais difícil, às vezes, não quer fazer (tarefas) e nem permanecer na escola. Mas tudo é trabalhado e a gente consegue contornar essa situação. É um aluno especial, que requer atenção de várias formas, porque eles nunca são iguais".
A terceira professora entrevistada garante que o autismo "aborda alunos com necessidades especiais, com habilidades diferentes daqueles que são ditos normais dentro da escola", e, afirmou, que "[...] têm um tempo de aprendizagem diferente dos outros". A quarta entrevistada revelou não conhecer muito o autismo. De seu ponto de vista, o autista é "uma criança que fica mais alienada naquele espaço dele" e que "parece que ele não está presente naquele meio [...] então a gente tem que ter um atendimento mais individualizado, porque parece que ele não consegue captar o que está acontecendo". A quinta professora ouvida por mim referiu-se ao sujeito com autismo como “uma criança que tem algumas dificuldades intelectuais, dificuldades de aprendizagem também".
Ao ouvir a sexta depoente, compreendi que realmente se sabe pouco sobre autismo na escola. Ela indicou que o tema deveria ser mais abordado, revelou que "existem muitas dúvidas sobre o que é autismo" e o que mais se sabe é que há "diferentes níveis de autismo". Para essa professora, o autismo ainda é "um mistério". Disse que os autistas têm "o mundo próprio deles" e garantiu que o autismo "não é uma doença, é um estado". A entrevistada concluiu que há muitas dúvidas e poucas certezas sobre este assunto e sugeriu que, por merecerem respeito, cuidado e atenção, os professores deveriam ser orientados a como agir e ensiná-los de forma que contribua no seu aprendizado.

4. CONCLUSÕES

Com o trabalho realizado pude notar que as professoras da rede pública de ensino entrevistadas não se sentem seguras ao ensinar alunos com TEA. Reconhecem saber pouco sobre o transtorno, do ponto de vista científico. Estas professoras foram desenvolvendo formas de “melhor trabalhar” as dificuldades na sua prática docente, e isso é elogiável. É fundamental, no entanto, ampliar os conhecimentos sobre o autismo, uma vez que, desse modo, é possível desenvolver atividades e práticas no cotidiano escolar que contribuam para o desenvolvimento integral da criança autista.
Há muitos déficits na formação docente, além de muitos problemas no desempenho desta profissão. Porém,  para se trabalhar com outro ser humano, não há receita pronta; faz-se necessário um aperfeiçoamento constante, uma busca por meios de educar todos os alunos, sejam eles autistas, ou não. Estudos indicam que a intervenção, quanto mais cedo realizada, maiores resultados atinge. Dada esta importância, conhecer o autismo e suas características é um saber que se faz necessário na prática docente, pois o olhar atento do professor contribuirá no encaminhamento e intervenção do seu aluno.
Após a leitura de artigos científicos citados e a coleta de dados quando das entrevistas com os professores, pretendo aprofundar, bem como, difundir, meus conhecimentos sobre o Transtorno do Espectro do Autismo, e sobre a Inclusão.

5. REFERÊNCIAS

CAMARGO, Síglia Pimentel Höher. BOSA, Cleonice Alves. Competência Social, Inclusão Escolar e Autismo: revisão crítica da literatura. Psicologia & Sociedade; 21 (p. 65-74). 2009.
GADIA, Carlos A. TUCHMAN, Roberto. ROTTA, Newra T. Autismo e doenças invasivas do comportamento. Jornal de pediatria by Sociedade Brasileira de Pediatria, 2004.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. Ciência, Técnica e Arte: O Desafio da Pesquisa Social. In: MINAYO, Maria Cecília de Souza. DESLANDES, Suely Ferreira. NETO, Otávio Cruz. GOMES, Romeu. Pesquisa Social. Teoria, Método e Criatividade. Petrópolis, RJ: Vozes, 1993. Cap. 1, p. 9-29.
NETO, Otávio Cruz. O Trabalho de Campo como Descoberta e Criação. In: MINAYO, Maria Cecília de Souza. DESLANDES, Suely Ferreira. NETO, Otávio Cruz. GOMES, Romeu. Pesquisa Social. Teoria, Método e Criatividade. Petrópolis, RJ: Vozes, 1993. Cap. 1, p. 9-29.
STELZER, Fernando Gustavo.  Uma pequena história do autismo. Cadernos Pandorga de Autismo. Volume 1. Pandorga Formação, 2010. Disponível em: <http://pandorgaautismo.org/includes/downloads/publicacoes/Pandorga-Caderno1.pdf>. Consulta em: 10/09/2019.


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