Um dia Nacional para os Profissionais
da Educação
Cristina Maria Rosa
O que são profissionais
da educação?
Para interessantes pesquisadores[1]
que se aventuram no campo da formação de professores e dos saberes acionados
por quem desempenha esta tarefa, um profissional da educação é alguém em quem se
reconhece o ensino como uma atividade profissional. Para tal, deve ter sólido
repertório de conhecimentos. Mas não só...
Ao demonstrar que “o saber literário compõe o conjunto de saberes docentes
ligados ao trabalho cotidiano em sala de aula, mesmo quando esse trabalho não
está diretamente ligado ao ensino de língua e literatura”, Graça Paulino (2004) em Saberes literários como saberes docentes, extrapolou as formulações do filósofo e sociólogo canadense Maurice
Tardiff (2002).
Graça afirma que o pensamento de Tardif sobre saberes docentes se mostra
“especialmente instigante por ultrapassar limites tecnologistas próprios de
outros pensadores da década de 90”, e valoriza o pressuposto do pesquisador de
que “o saber dos professores é um saber deles e está relacionado com a pessoa e
a identidade deles, com sua experiência de vida e com a sua história
profissional”. Mais. Organiza sua argumentação a partir do desejo de “não cair
na tentação de separar o saber literário de outros”. Defendendo sua
especificidade, parte de dois quadros em que Tardif propõe “um modelo
tipológico para identificar e classificar os saberes dos professores” e “uma
comparação entre o trabalho industrial e o trabalho docente no que diz respeito
aos objetivos, ao objeto e ao produto”, ambos inseridos no livro Saberes
docentes e formação profissional, publicado no Brasil em 2002. O argumento
central de Graça Paulino, é que “se entendemos a formação de professores de
modo mais amplo, em sua produção histórica e social que envolve, além de
competências cognitivas stricto sensu, também sensibilidade, emoções, ligações
afetivas, interações, transformações pessoais, temos de pensar na possibilidade
de que um desses saberes seja de natureza literária”.
Saber literário
O saber literário é um saber. E, como tal, reverbera nas relações na sala
de aula, seja ela de que dimensão for. E, se ensino Literatura, o meu saber
literário é, ao mesmo tempo, uma competência científica e um componente de meu
saber docente, me identifica, é parte de minha experiência de vida e integra
minha história profissional.
O que se constata ao ler Tardif, como bem Graça reitera, é que “não
adianta querer buscar coerência teórica ou unidade lógica nesse sincretismo de
natureza biográfica”, pois há uma variedade de “fontes sociais de aquisição dos
saberes docentes”. Essa variedade é produzida pela história e família de cada
um, escolas frequentadas e saberes acessados que, junto com a “formação
profissional propriamente dita”, revelam-se “no momento em que cada um atua em
sala de aula”. Como “espaços educativos de várias naturezas”, totalizam “nossa
vida cultural” e comprometem integralmente o “que fazemos como professores”.
O campo de pesquisa
De acordo com Patrícia Cristina Albieri de AlmeidaI e Jefferson BiajoneII,
esse campo de pesquisa surge em âmbito internacional na década de 1980 e vem
apresentando expressiva profusão e multiplicação dos estudos na área. Em suas
palavras:
A importância desses estudos é
atribuída, em grande parte, ao seu potencial no desenvolvimento de ações
formativas que vão além de uma abordagem acadêmica, envolvendo as dimensões
pessoal, profissional e organizacional da profissão docente.
Em seu artigo intitulado “Saberes docentes e formação inicial de
professores: implicações e desafios para as propostas de formação”, Cristina e Jefferson
mencionam a análise de obras dos autores referência na área. E concluem que:
O estudo revela que a elaboração de um
repertório de conhecimentos para o ensino, tendo como referência os saberes
profissionais dos professores tais como estes os mobilizam e utilizam em
diversos contextos do trabalho cotidiano, permite a introdução de dispositivos
de formação que visem habituar os futuros educadores à prática profissional. Destaca-se
a necessidade de garantir que as formações cultural, científica, pedagógica e
disciplinar estejam vinculadas à formação prática, consolidando, assim, uma
Teoria do Ensino.
De acordo com Macenhan, Tozetto e Brandt (2016), “os saberes dos
professores precisam ser valorizados ao longo do processo de formação docente”
e "saberes" não se restringe apenas à experiências do professor. Adquiridos
no curso de formação inicial, os saberes profissionais “estão sempre em
processo de constituição”, dependendo, sempre, de “momentos de reflexão crítica”.
Além disso, a expressão “saberes”, atualmente, possui uma ampla gama de
pequenas e grandes possibilidades, mas, em nenhum momento, o amadorismo, a
eventualidade, a inconstância e o despreparo são bem vindos!
Bônus
Para saber mais, leia “Saberes docentes e formação inicial de professores:
implicações e desafios para as propostas de formação”, artigo de Patrícia
Cristina Albieri de AlmeidaI e Jefferson BiajoneII. Ele está disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-97022007000200007
Obras importantes nesse
campo de estudos:
GAUTHIER, C. et al. Por uma teoria da pedagogia: pesquisas contemporâneas
sobre o saber docente. 2. ed. Ijuí: Unijuí, 2006.
GIMENO SACRISTÁN, J. Poderes instáveis em educação. Porto Alegre: Artes
Médicas Sul, 1999.
MACENHAN, C., TOZETTO, S. , E
BRANDT, C. Formação de professores e prática pedagógica: uma análise
sobre a natureza dos saberes docentes. Práxis Educativa, vol. 11, núm. 2, 2016.
Disponível em: https://www.redalyc.org/jatsRepo/894/89442687011/html/index.html
NÓVOA, A. Formação de professores e profissão docente. In: NÓVOA, A.
(Org.). Os professores e a sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1992. p. 13-33.
PAULINO, Graça. Saberes literários como saberes docentes. In: Presença
Pedagógica. Belo Horizonte, v.10, nº 59, pp. 55-61, set./out., 2004.
TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Vozes,
2002.
TARDIF, M.; LESSARD, C. O trabalho docente: elementos para uma teoria da
docência como profissão de interações humanas. Petrópolis: Vozes, 2005.
TARDIF, M.; LESSARD, C.; GAUTHIER, C. Formação dos professores e contextos
sociais. Porto: Rés, 2001.
[1] Alguns dos mais importantes pesquisadores que organizaram saberes sobre
o tema e os publicaram a partir de 1990,
no Brasil, são: António Nóvoa (1992), Clermont Gauthier (2006), GraçaPaulino
(2004), José Gimeno Sacristán (1999) e Maurice Tardif (2002).
Nenhum comentário:
Postar um comentário