09 de Abril: Dia da Biblioteca!
Cristina Maria Rosa
Bem cedo em minha
vida descobri o que era uma biblioteca.
Não um acervo.
Uma biblioteca – o
espaço, o silêncio, as estantes, muitos volumes – e seus ritos: ir, ver, silenciar, escolher, retirar, ler, devolver, mais as figuras que
ali são eternas – a responsável em uma mesa perto da entrada, com um livro de
anotações para empréstimos e carteirinha. No entanto, esses elementos nunca me desviaram do que nela é o
mais importante: ser uma representante vigorosa de nossa cultura escrita.
Nela, na biblioteca, adolescente,
conheci toda a literatura clássica brasileira. Mas, infelizmente, só li Grande
Sertão Veredas nas últimas férias.
Nela, adolescente, perdi
recreios para conhecer o fim das narrativas que criaram em mim o mito da
possibilidade de refundação do Brasil, quando O Guarani me fazia chorar, quando
Machado me fez duvidar de Capitu, quando Erico me tornou apaixonada pela literatura
fantástica de Incidente em Antares.
Hoje, passados alguns
anos desse tempo e tendo tido a oportunidade de conhecer e fazer pesquisa em
variadas e importantes bibliotecas brasileiras, cada vez mais sou levada a
cultuar o lugar que, nem sempre, é propício à leitura.
Ontem foi o dia da
Biblioteca.
Por isso mesmo,
estou escrevendo esta pequena declaração de amor.
Devo à bibliotecas –
e a pessoas que me apresentaram a elas –, parte considerável do que hoje
desconfio não saber. Devo aos livros contidos nelas, meu desejo por mais horas
de liberdade para ler.
Um conto, de
presente...
Eu escrevo.
Sempre e sobre
coisas banais como um namoro entre uma gata e um cão.
Aprendi a escrever
porque sonhava em causar, em meus leitores, o mesmo que Eva Furnari, Ana Maria
Machado, Tzvetan Todorov, Graça Paulino, João Guimarães Rosa, Manoel de Barros,
Pedro Wayne, Mario Quintana, Cecília Meireles, Clarice Lispector, Wolf
Erlbruch, Carlo Collodi, Hans Christian Andersen e mais um bom bocado de outros, são capazes.
Como isto é quase
impossível, cotinuo lendo.
E sigo escrevendo.
Te envio um presentinho,
pelo dia de hoje.
Áfia apaixonada
Cristina Maria Rosa
Todos já sabem que
adotei uma gatinha. Que era miserável e que gritava, desesperadamente, por
companhia. Era frio, bem frio, quando a trouxemos para casa. Depois disso, Áfia
virou uma fofa, bem cuidada e muito querida. Seu nome, inspirado em um passado de
princesas, agrega os carinhos que recebemos como sugestão: “Áfia Libni Aparecida
Lia Nala de Basted e Roseta, a Bela e Mocinha Fantasma da Ópera”.
Mas, o que ainda
ninguém sabe é que Áfia se apaixonou.
Pelo Aquiles, nosso
cão.
Ele e ela têm em
comum, cores na pele.
São malhados.
Manchados.
Misturados.
Ele: branco, creme e
rosa.
Ela, branco, creme e
preto.
Fazem um par lindo.
Quando Aquiles passa
por ela, a caminho de uma saidinha para treinar no parreiral, Áfia cheira seu
focinho e, ousada, estende uma das patas e o acarinha.
Ele, de maneira
alguma é indiferente: retribui, cheirando-a.
Ontem à noitinha
quando voltamos do sítio, ela estava deitada em frente ao canil, olhos e corpo
todo voltado a contemplá-lo.
Ele, adivinhando o
impossível, deitou-se com o rosto sobre as patas e ficou ali, recebendo e
retribuindo.
Apaixonados, vivem
seu romance sem desconfiar que no planeta algo ocorre...
Me deu vontade de ser Aquiles e Áfia, e nem e não desconfiar que no planeta algo ocorre...
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