Cristina Maria Rosa
Em um dia como o de hoje,
em que se comemoram os frutos do processo de ensinar e aprender a ler e
escrever a prosa e a poesia mais a infinidade de outros gêneros textuais que
constituem a cultura escrita, nós, do PET Educação, não podemos deixar de dizer
o que é, para nós, “alfabetizar-se”.
Como futuros pedagogos e
tendo uma Pedagoga como Tutora, sabemos que alfabetizar – ensinar a ler e escrever
– é tarefa primordial de nossa profissão. Tanto, que, brincando e falando sério
ao mesmo tempo, afirmamos que se um Pedagogo não souber alfabetizar e não for
capaz de ensinar a amar a leitura, pode “rasgar” o diploma.
Por quê? Porque essa
habilidade é primordial desde que a escrita foi inventada e transformou-se em
viabilizadora de acordos, privados e de estado, espontâneos e religiosos,
memorialísticos e historiográficos.
Na Universidade só há um
Curso de Graduação que tem o aval da sociedade científica e da sociedade como
um todo para formar alfabetizadores: a Licenciatura em Pedagogia. É por isso
que entender de infâncias, de processos de aprendizagem, de literatura e de aquisição
da escrita é a “nossa praia”. Sim, também aprendemos a gerir escolas, a aplicar
ou contestar leis que regulam a educação no país, a incluir crianças atípicas
no ambiente escolar, a refazer rodas do brincar e a oportunizar aos que chegam à
escola e nela permanecem a se expressar artisticamente e matematicamente.
Como poucas profissões, unimos
a arte e a razão e buscamos inspirar pessoinhas, desde tenra idade, a amar os
livros, as palavras contidas nele, as sonoridades e os silêncios. Ensinamos
também tudo o que herdamos de valioso: pensar, arquitetar, multiplicar, dividir,
explorar, surpreender, projetar, imaginar, pesquisar, duvidar...
E é por isso que esse dia,
o Dia internacional da Alfabetização, precisa ser comemorado. Mas precisa,
também, ser conceituado. Nada melhor que Magda Soares que, embora não seja
Pedagoga, ao se aposentar como professora Titular, vinculou-se à escola pública
de ensino fundamental para compreender os processos de aprender e ensinar a ler
e escrever. Quando estive com ela, em Lagoa Santa-MG, em 2015, uma grande cerimônia abria a mostra
de escritas de professoras e crianças que, inspiradas e instadas por Magda, passaram
a ler mais e a escrever autoralmente.
Para Magda, alfabetizar é
um “processo de aprendizagem do sistema alfabético e de suas convenções, ou
seja, a aprendizagem de um sistema notacional que representa, por grafemas, os
fonemas da fala”. Mas é insuficiente, esse conceito, pensa Magda Soares. Ela
acrescenta:
É importante destacar que,
na prática pedagógica, a aprendizagem da língua escrita, ainda que inicial,
deve ser tratada como uma totalidade: a alfabetização deve integrar-se com o
desenvolvimento das habilidades de uso do sistema alfabético – com o
letramento; embora os dois processos tenham especificidades quanto a seus
objetos de conhecimento e aos processos linguísticos e cognitivos de
apropriação desses objetos, dissociá-los teria como consequência levar a
criança a uma concepção distorcida e parcial da natureza e das funções da
língua escrita em nossa cultura (SOARES, 2004, p.21-22).
Para o Programa de Educação
Tutorial, a alfabetização começa pelo entendimento do que é a linguagem. Como “faculdade
cognitiva exclusiva da espécie humana que permite a cada indivíduo representar
e expressar simbolicamente sua experiência de vida, assim como adquirir,
processar, produzir e transmitir conhecimento” (BAGNO, 2004, p. 192-193), a linguagem
afirma nossa condição de “seres muito particulares”, porque temos essa “capacidade
admirável de significar, isto é, de produzir sentido por meio de símbolos,
sinais, signos, ícones”.
Para Marcos Bagno (2004, p.
192-193), nenhum gesto humano é neutro, ingênuo, vazio de sentido: muito pelo
contrário. Ele é sempre
“carregado de sentido, nos
mais variados graus, e cabe justamente à nossa capacidade de linguagem
interpretar o sentido implicado em cada manifestação dos outros membros da
nossa espécie”.
Se como espécie herdamos a
capacidade de interpretar sentidos, como desenvolvê-los desde pequenos, na
escola, o primeiro lugar público que existimos como cidadãos?
Alfabetização Literária
Acreditamos na
alfabetização literária como um modo de criar, alimentar, cultuar e imprimir
nossa voz e nossos sentidos no mundo que habitamos. Alfabetizar literariamente,
então, é criar as condições prévias para as demais alfabetizações que, juntas, produzem
crianças, jovens e adultos letrados.
Bônus
Mais sobre o tema, leia o GLOSSÁRIO CEALE. Ele está disponível em: http://www.ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/
ROSA, Cristina Maria. Alfabetização Literária. Disponível em:
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