Dia Internacional Nelson Mandela – 18 de julho
Débora Monteiro
Letícia Vilela
Luzia Martins
Valdoir Campelo
“Os gregos antigos achavam que a espécie humana estava dividida em
partes diferenciadas. Apesar de serem os criadores do humanismo, dividiam os
homens entre eles e os outros: os bárbaros. Os primeiros nasciam para a
liberdade e a riqueza da cultura, os outros para trabalhar como escravos”
(BUARQUE, 1993, p.11).
Essas impactantes palavras integram as reflexões de um conhecido
intelectual brasileiro: Cristovam Buarque. Ele nos convida a pensar nesse dia
tão importante para a humanidade e os diretos humanos que é o Dia Internacional Nelson Mandela. Comemorado
em 18 de julho, a data exige que nós, estudantes de Licenciatura em Pedagogia
na Faculdade de Educação da UFPel e futuros professoras, bolsistas do PET
Educação, evidenciássemos a data e alguns conceitos a ela relativos.
Nelson Mandela
Nelson Rolihlahla Mandela nasceu em Mvezo, em 18 de julho de 1918 e
faleceu em Johanesburgo, em 5 de dezembro de 2013. Foi um advogado, líder
rebelde e presidente da África do Sul de 1994 a 1999, considerado como o mais importante
líder da África Negra, vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 1993, e pai da
moderna nação sul-africana, onde é normalmente referido como Madiba, nome do
seu clã ou "Tata", que significa Pai.
18 de julho é o Dia
Internacional Nelson Mandela
Esta comemoração internacional foi
instituída pela Assembleia Geral da ONU – Organização das Nações Unidas em novembro
de 2009, a ser comemorado em 18 de julho (data de nascimento do líder
africano) de todos os anos. Com o consenso de 192 países, homenageia a
dedicação de Mandela à humanidade, valorando seus investimentos na resolução de
conflitos, relação entre as raças, promoção e proteção dos Direitos Humanos.
Além disso, avalia como importante sua defesa da reconciliação, igualdade de
gêneros e direitos das crianças e outros grupos vulneráveis.
Comemorar significa reconhecer
a contribuição de Madiba pela democracia internacional e a promoção da
cultura da paz através do mundo.
A data marcada pela Organização das Nações unidas e comemorada pela
primeira vez em 2010, consagra Nelson Mandela como um político fundamental na
luta racial, principalmente da África do Sul. A escolha da data é em
comemoração ao aniversário de Mandela, que em 2010 completou 92 anos. De acordo
com a ONU – Organização das Nações Unidas –, “Mandela foi o primeiro presidente
democraticamente eleito da África do Sul e o primeiro chefe de Estado negro do
país. Ele ficou preso por 27 anos sob a acusação de sabotagem antes de ser
libertado e eleito presidente” (ONU, 2018).
Falecido em 2013, Mandela atuou contra o processo de discriminação
instaurado pelo Apartheid, na África
do Sul, e se tornou um ícone internacional na defesa de causas humanitárias.
Para Analúcia Pereira, “[...] a história do Apartheid
tem início pouco antes de 1948. No entanto, a da segregação antecede essa data
em muito, e não são poucos os analistas que localizam suas raízes no século
XIX”. Segundo a autora, a superioridade branca e a discriminação racial era uma
exigência do sistema de exploração agrária a que se dedicavam os afrikaners.
África do Sul
Quando a África do Sul se tornou independente da coroa britânica,
em 1910, várias leis segregacionistas entraram em vigor. Uma delas, a Native Labour Act, de 1913, que dividia
o país em dois: 7% dos territórios nacionais foram deixados para os negros (75%
da população) e 93% das melhores terras aos brancos (10% da população). A
partir dessa, várias outras ações no sentido de limitarem a coexistência foram
desencadeados, evidenciando que políticas de segregação existiam antes mesmo da
instauração do Apartheid, em 1948.
Leis segregacionistas
No tempo que antecedeu a instauração do Apartheid, o poder econômico era da população inglesa, enquanto o
poder político era dos Afrikaners e uma série de leis foi promulgada, negando
aos negros direitos sociais e políticos básicos. O objetivo era impedi-los de frequentarem
os mesmos espaços públicos que os brancos, acessarem terras cultiváveis e riquezas
naturais. Houve, ainda, políticas
públicas que colocavam tribos contra tribos.
Mandela atuou inicialmente na juventude do ANC (Congresso Nacional
Africano) e, durante parte da sua militância política, defendeu uma resistência
pacífica e desobediência civil contra o Apartheid.
Uma das atitudes por ele defendidas era burlar as leis que separavam negros e
brancos em espaços públicos.
Em 1955, a ANC através da Freedom Charter (Carta da Liberdade),
ampliou a luta anti-racista para os movimentos indianos, mulatos, liberais e
socialistas. A carta continha uma denúncia referente ao Apartheid e defendia a redistribuição das riquezas.
Com a Segunda Guerra, as mobilizações sociais se intensificaram e
mais de 300 greves de trabalhadores negros e brancos. Com essas greves, surgiu
dentro do ANC, um setor mais radical com a liderança de Nelson Mandela e Oliver
Tambo.
Prisão de Mandela
Em 1963, Nelson Mandela foi preso e condenado a prisão perpétua. Somente
em 1990, o então presidente Frederik W. De Klerk, libertou Mandela e outros
presos políticos. De acordo com Pereira (2008),
Em menos de dois anos, a liderança de De Klerk permitiu que fosse
suspenso o Estado de exceção em todo o país; libertada a grande maioria dos
presos políticos; legalizadas as oposições extraparlamentares; promovida a
repatriação dos exilados; promulgada a revogação do Reservation of Separate Amenities
Acts do Group Areas Act, dos Land Acts e do Population Registration Act e
abolidos os estatutos dos bantustões.
Primeiro presidente negro
Com o fim das leis segregacionistas e do Apartheid, em 1993, através de uma eleição, Nelson Mandela se torna
o primeiro presidente negro da África do Sul, realizando um governo de dedicado
a amenizar as desigualdades. Seus discursos tornam-se conhecidos mundialmente e
um ade suas frase mais impactantes é: “A educação é a arma mais poderosa do
mundo”.
Por sua luta pelos direitos civis e humanos, Mandela recebeu
diversos prêmios. O mais importante – Nobel da Paz – foi recebido em 1993.
O que é apartar?
Para Cristovam Buarque (https://www.facebook.com/Cristovam.Buarque/), autor de Apartação: o apartheid social no Brasil
(1993), “não se pode dizer que o apartheid com os brancos da África do Sul”. Em
suas palavras:
Com o objetivo de questionar se as pessoas que nos cercam conhecem
a história e as ideias de Nelson Mandela, demos início a uma enquete.
Produzida em comemoração ao Dia Internacional Nelson Mandela, nós, Débora,
Letícia, Luzia e Valdoir utilizamos como guia um questionário que foi compartilhado
nas mídias sociais, através de um link.
Saber se nosso contatos conheciam Mandela e sua história. As
perguntas contidas no link eram:
1. Conheces Nelson Mandela? Se sim onde e como foi abordado? 2.
Você sabe o que foi o Apartheid? 3.
Pensando nos lugares que você frequenta (escola/faculdade, trabalho, eventos)
você acredita que a segregação racial realmente chegou ao fim?
Entre as pessoas que responderam ao questionário, 34,8% eram
estudantes do Ensino Médio, 45,3% estudantes de Ensino Superior e 21,7% eram
professores. A coleta das respostas perdurou
por cinco dias e, ao fim desse período, as respostas foram organizadas e analisadas.
Respostas
Ao responder a pergunta “Conheces Nelson Mandela? Se sim onde e
como foi abordado?” observamos que 87,5% afirmaram conhecer Mandela, enquanto
12,5% dizem não conhecer e 4,16% não responderam a esta pergunta. A maioria dos
respondentes teve acesso à história e trajetória do líder africano na internet,
na escola e em programas de entretenimento, o que se pode observar nas
seguintes respostas:
Sim, tanto das aulas de história como da internet. Porém, o meu
conhecimento sobre ele, com certeza, é mais embasado devido ao fato de eu
pesquisar sobre e não pelas aulas de história.
Sim. Não lembro quando me foi apresentada essa figura importante aos
movimentos negros. Talvez, o conheça através dos programas de televisão como
"um maluco no pedaço", que trazia temas como figuras negras
importantes.
Ao responder conhecera o Apartheid,
70,8% das pessoas afirmaram ter conhecimento, 16,6% não ter conhecimento e
4,16%, mais ou menos. Com respostas objetivas, a maioria das pessoas tentou
explicar em poucas palavras o que foi esse momento histórico. Leia uma delas:
[...] foi um regime que impunha leis segregacionistas e, também,
classificava a raça branca como superior, especialmente na África do Sul.
Quando questionados se já houve o fim da segregação racial, todas as
pessoas responderam que ainda não ocorreu. Leia alguns dos depoimentos:
Não. Nossa sociedade evoluiu de várias maneiras, mas o preconceito
racial, na maioria das vezes, está encoberto. Não foi abandonado por muitos. É
horrível ver como podemos ser tão evoluídos e desenvolvidos e, ainda assim,
continuar regredindo!
Não. Todos os lugares que frequento SEMPRE a maioria das pessoas
são brancas. O que nos leva a uma pergunta: Onde está a maior parte da
população brasileira? E a resposta é óbvia: estão segregados, marginalizados...
Algumas conclusões...
A realidade observada pelos depoentes e, também por nós, estudantes
de Pedagogia realmente é triste. É perceptível a qualquer um que a sociedade como
um todo ainda faz distinção entre raças.
Diversos movimentos sociais atualmente têm dado visibilidade a
estas questões. Porém, ainda há muito o que mudar para alcançarmos uma
sociedade com equidade de direitos.
Para nós, que desenvolvemos essa enquete e estudamos acerca do
fenômeno, foi esperançoso perceber que as pessoas têm consciência do que está
acontecendo. Acreditamos que é uma amostra de que, cada vez mais, outras e
muitas pessoas venha a se unir em prol da mudança.
O legado deixado por Nelson Mandela, de alguma forma, está presente
nas escolas. No entanto, ainda há uma grande barreira a ser quebrada, especialmente
ao associar o nome do líder às ações de paz, justiça social e racial.
Comemorar Mandela é uma forma de fazer com que todos percebam e
reflitam sobre a sua luta e o legado de suas ideias e ações. Apesar de os
negros terem conseguido algumas conquistas, cada dia é um novo dia de
resistência pelo fim do preconceito e da segregação nesta sociedade, muitas
vezes, racista.
Referências:
BUARQUE, Cristovam. Apartação: O Apartheid Social no Brasil. Volume
278. Coleção Primeiros Passos. Brasiliense, 1993.
MANDELA, Nelson. Biografia. Brasil Escola. Disponível em: HTTPS://m.brasilescola.uol.com.br/amp/biografia/nelson-mandela.htm
ONU. 100 anos de Nelson Mandela. Disponível em: Https://nacoesunidas.org/onu-lembra-100-anos-do-nascimento-de-mandela-com-defesa-da-luta-igualdade/
PEREIRA, Analúcia Danilevicz. Apartheid: apogeu e crise do regime
racista na África do Sul (1948-1994). In: MACEDO, JR., org. Desvendando a
história da África [online]. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2008. Disponível
em: http://books.scielo.org/id/yf4cf/pdf/macedo-9788538603832-11.pdf
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