Da literatura indígena a
autores brasileiros: as pesquisas individuais no PET Educação.
Cristina Maria Rosa
Com o intuito de manter a
vínculo com os estudos acadêmicos durante o tempo em que não há aulas
presenciais na Faculdade de Educação da UFPel, os doze bolsistas PET estão
empenhados em dar continuidade a suas investigações científicas.
Algumas já foram apresentadas
na última SIIEPE – a semana integrada de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFPel,
realizada em 2019 e, por iniciais, mereceram continuidade. Outras, de longo
prazo, estão merecendo estudos de dados para considerar aspectos que ainda não
haviam sido explorados.
Como exemplo, temos a
pesquisa intitulada Um olhar sobre a
literatura indígena, desenvolvida, desde 2019, pela estudante Alessandra Steilmann,
formanda na Licenciatura em Pedagogia.
Para a estudante, o “acesso
à Literatura é de imensurável valor na sociedade letrada contemporânea” e
dedicar-se a estudar a “literatura que representa cerca de 896,9 mil
brasileiros” é “plenamente justificável”. Há leis (10.639/03 e 11.645/08) que tornam
obrigatório os temas Indígenas e Africanos nas escolas, tornando ainda mais importante
sua consideração por cada um dos estudantes de Pedagogia que, em breve, estarão
nas escolas públicas e privadas do país, exercendo suas atividades vinculadas
ao respeito aos direitos humanos.
A pesquisa
O principal objetivo do
projeto, de acordo com a estudantes, é inventariar os “livros de Literatura
Indígena Brasileira em acervos escolares”. Alessandra acredita que a partir
disto, pode-se ampliar o acervo e o repertório do grupo de bolsistas do PET
Educação. Como metodologia, escolheu, inicialmente, analisar a lista de livros
que compõe a “Maleta LIA”, fruto de um projeto desenvolvido na capital do Rio
de Janeiro desde 2008.
O que é Literatura
Indígena?
Em seus estudos, Alessandra
afirma que, a Literatura Indígena difere-se da “indianista” e “Indigenista”. A
literatura indianista “refere-se mais especificamente à literatura do período
romântico brasileiro, voltado para a construção de uma identidade nacional”, de
acordo com Thiél (2013). A
indigenista, é aquela produzida por não-índios “e tratam de temas ou reproduzem
narrativas indígenas”. Já a Literatura Indígena é produzida pelos próprios
indígenas, “segundo as modalidades discursivas que lhes são peculiares”. Assim,
obras indígenas que são escritas para o público infanto-juvenil e para o
público maduro, “apresentam uma interação de multimodalidades: a leitura da
palavra impressa interage com a leitura das ilustrações, com a percepção de
desenhos geométricos, de elementos rítmicos e performáticos” (THIÉL, 2013).
Por que pesquisar?
Além de se justificar como
um processo de qualificação pessoal, enquanto mediadora e futura alfabetizadora
literária, a pesquisa, de acordo com Steilmann, visa orientar a escolha de
livros (o que, quando e como ler) e potencializar escolhas profissionais. O
foco não é segregar nenhuma cultura, mas, sim, capacitar-se para um “diálogo
ecológico com uma lógica intercultural” (Candau, 2004).
Para a estudante, a “Literatura
Indígena permite que a voz dos muitos povos indígenas que estão presentes no
Brasil, não só em aldeias locais, mas também no contexto urbano, seja ouvida
sem que haja um narrador intermediário”. Caracteriza-se, também, como um
instrumento de resistência e autoafirmação, sendo uma alternativa para a luta
contra o epistemicídio e a falta de legitimidade dos conhecimentos oriundos das
tradições dos povos indígena.
Pesquisando em
acervos...
A pesquisa em acervos
integra-se à abordagem qualitativa, embora conhecer a quantidade de obras em um
acervo seja considerado um procedimento quantitativo. Assim, a investigação pode
ser considerada uma mescla entre as duas abordagens. A metodologia de pesquisa
é descrita por Minayo (2002, p. 16) como a confluência de “concepções teóricas
de abordagem”, “conjunto de técnicas” que possibilitam a observação e análise
da realidade e a influência do “potencial criativo do investigador”.
Quando teremos conclusões?
Estudo resultante de
inquietações e descobertas que aconteceram no decorrer de vida acadêmica de
Alessandra Steilmann, ela afirma que em algumas poucas disciplinas foi instigada
a questionar profundamente e (des)construir convicções e conceitos, bem como
revisitar a cultura na qual cresceu. Com o apoio do PET Educação, pode “expressar,
refletir e extrair o melhor das angústias e conflitos internos que ocorreram ao
longo desta caminhada”.
Um dos resultados que a
estudante afirma ter conquistado nesse pequeno tempo em que se dedica o tema é
perceber que “apesar da invisibilidade em parte considerável da educação básica
e do ensino superior, a produção de livros indígenas já vem ocorrendo há tempos”.
Assim, considera “ser possível definir um corpus de livros a serem lidos e
indicados a integrar as bibliotecas escolares”, pois acredita que “a Literatura
Indígena não deve ser restrita a escolas indígenas ou àquelas nas quais
indígenas estudam, uma vez que não são dirigidas ao público indígena apenas”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário