A Literatura infantil enquanto ferramenta interdisciplinar de ensino no contexto da revolução científica: mais um dos trabalhos do PET Educação.
Cristina Maria Rosa
Tutora
Entre os dias 21 e 25 de outubro de 2019 ocorreu, na Universidade Federal de Pelotas, mais um grande evento científico: a SIIEPE/UFPel. O PET Educação se fez representar com dez trabalhos científicos elaborados, desenvolvidos e apresentados por doze bolsistas. Um deles tu vais conhecer a seguir. Se trata do resumo completo de "A Literatura infantil enquanto
ferramenta interdisciplinar de ensino no contexto da revolução
científica", elaborado por Alisson Castro Batista sob orientação
da Drª Cristina Maria Rosa pode se conhecido a seguir:
1. INTRODUÇÃO
No
trabalho revelo resultados recentes da pesquisa exploratória com a qual
objetivo analisar e descrever o caráter Interdisciplinar
da Literatura Infantil no
contexto da Revolução Científica. A partir
dos dados bibliográficos levantados e da observação de experiências de estágio
docente de dois Pedagogos recém-formados na FaE/UFPel, intenciono compor um rol
de textos literários que representem e/ou oportunizem a interdisciplinaridade
através da leitura literária com crianças na escola.
De
acordo com HARARI (2018), até meados do século XVII, no geral, as pessoas
trabalhavam apenas para preservar os conhecimentos já adquiridos, a fim de
manter a ordem social estabelecida. As religiões eram, até então, tidas como a
principal fonte de conhecimentos, sendo uma estrutura verticalmente
hierarquizada, tendo em seu topo os detentores dos conhecimentos mais
avançados. A idéia de que existiria uma sabedoria universal, proveniente de
deuses ou sábios do passado, era partilhada por praticamente todos os humanos.
O que parece ter mudado nos últimos séculos é a perspectiva sobre as possibilidades
de se conhecer a realidade através de nossas próprias capacidades humanas,
ainda que se acredite que estas sejam provenientes de alguma inteligência
superior. Nas palavras do autor:
“A
ciência moderna não tem dogma. Mas tem um conjunto de métodos de pesquisa em
comum, todos baseados em coletar observações empíricas (...)“ (HARARI, 2018).
Através
dos métodos científicos modernos e das tecnologias provenientes destes, fomos
capazes de transformar nossas culturas humanas em diversos aspectos.
Epistemologicamente, estas mudanças, no geral, se dão através da divisão das
áreas do conhecimento, promovendo a lógica da fragmentação das análises.
Chamamos estas divisões de disciplinas. De
acordo com BICALHO (2011), a interação entre as disciplinas pode ser dividida
em níveis crescentes com relação à intensidade de interatividade. Comecemos
pelo Multidisciplinar, que sendo o
primeiro nível de interação consiste em ações e estudos isolados em torno de
uma temática em comum, norteados ao mesmo objetivo, porém sem interações
diretas entre as disciplinas. A seguir vem o nível Interdisciplinar, que é caracterizado pela existência de um axioma
superior hierarquicamente, que orienta as disciplinas ao seu objetivo, de forma
que estas interajam entre si e se apoiem na construção dos conhecimentos. Ainda
temos a Transdisciplinaridade, que
seria um nível de interação além da Interdisciplinaridade,
em um universo mais amplo, de observação holística dos fenômenos. De acordo com
FAZENDA (2012), diversas são as possibilidades de elementos coordenadores
Interdisciplinares. Recentemente, a Robótica e a Astronomia, por exemplo, são
áreas que têm sido bastante exploradas neste sentido. A Música, o Teatro e a
Jardinagem são exemplos mais clássicos, que estão mais presentes em algumas de
nossas escolas há mais tempo, quando comparadas com as anteriores. Dentre
tantas possibilidades, escolhi, para essa investigação, o campo da Literatura
Infantil como “elemento coordenador interdisciplinar”.
Segundo
Zilberman (2015), “Os primeiros livros
para crianças foram produzidos ao final do século XVII e durante o século
XVIII. Antes disso, não se escrevia para elas, porque não existia a ‘infância”.
Neste período as crianças eram vistas na sociedade como adultos em
miniatura, não tendo suas necessidades de desenvolvimento atendidas (ou sequer
compreendidas). A ignorância acerca da infância só passou a ser superada na
transição para a Idade Moderna. Ainda segundo Zilberman, essa mudança de
paradigma aconteceu devido à constituição do modelo familiar burguês e levou a
maior união interna nas famílias, mas também proporcionou “meios de controle do desenvolvimento intelectual da criança e
manipulação de suas emoções” (ZILBERMAN, 2015). Zilberman (2015) afirma
ainda que a Literatura Infantil e a Escola foram “convocadas para cumprir essa missão”. E devido a isso, evidencia a
falta de reconhecimento do caráter artístico de parte da literatura infantil,
pois por ter sido escrita, em sua grande maioria, por professores e pedagogos,
apresenta muitas vezes em sua intencionalidade, a didática como prioridade.
Neste sentido, a escola torna possíveis ou mais intensas, as conexões entre o
público infantil e este tipo literatura. Como afirma Zilberman (2015) a escola
e a literatura compartilham “um aspecto
em comum: a natureza formativa”. E que “De
fato, tanto a obra de ficção como a instituição de ensino estão voltadas a
formação do indivíduo ao qual se dirigem.” Porém, ainda que compartilhem
deste aspecto em comum, não se limitam a isso. É justamente este o ponto de
diferenciação nas abordagens da escola como um todo e da literatura infantil no
processo de sintetização da realidade: o isolamento disciplinar, no caso da
escola, e a interação contextual interdisciplinar que a literatura proporciona.
Esta diferenciação fica evidente quando “a
literatura infantil atinge o estatuto de arte literária e se distancia de sua
origem comprometida com a pedagogia, quando apresenta texto de valor artístico
a seus pequenos leitores, de acordo com ZILBERMAN (2015). A pesquisadora
afirma que a grande carência das crianças seria “o conhecimento de si mesma e do ambiente no qual vive” e que neste
contexto, a ficção lhe permite “uma visão
de mundo que ocupa as lacunas resultantes de sua restrita experiência
existencial, por meio de sua linguagem simbólica.”
2. METODOLOGIA
De cunho
qualitativo, inicialmente realizei uma pesquisa bibliográfica sobre os
conceitos envolvidos: ciência, revolução científica, interdisciplinaridade,
literatura, infância e leitura na escola. Entre os livros selecionados, Sapiens, uma breve história da humanidade,
de Yuval Noah Harari, devido a sua contemporaneidade e clareza ao descrever as
principais revoluções da história da humanidade, dentre elas a científica, que
fundamenta contextualmente este trabalho. Sobre o tema Interdisciplinaridade escolhi duas autoras: Ivani Fazenda (Interdisciplinaridade:
História, teoria e pesquisa) e Lucinéia Maria Bicalho (Aspectos conceituais da Multidisciplinaridade e da
Interdisciplinaridade e a pesquisa em Ciência da Informação). Para
fundamentar o tema da Literatura Infantil escolhi ler A literatura infantil na escola, da autora Regina Zilberman.
Além da
revisão teórica, como procedimentos metodológicos de pesquisa adotei: a)
Entrevistas com dois pedagogos recém formados sobre o uso da literatura
infantil como ferramenta Interdisciplinar de ensino, que foram gravadas, transcritas e analisadas
pelo próprio pesquisador, tendo, no momento da análise, sido organizadas, a
partir das experiências práticas dos entrevistados, em categorias conceituais
tais como: a interdisciplinaridade na realidade escolar atual, a literatura
infantil na escola e nos ambientes fora dela, os potenciais proveitos
interdisciplinares da literatura na escola, as práticas da leitura literária na
sala de aula, o uso de ilustrações nos livros de literatura infantil e suas possíveis implicações para a experiência do
leitores, o potencial pedagógico das múltiplas interpretações variadas das
narrativas lidas e os resultados de aprendizado dos conceitos esperados
constatado nos alunos, a partir de práticas constantes de leitura literária na
sala de aula; b) Análise do acervo
da Sala de Leitura Erico Verissimo – estrutura acadêmica integrada à formação
de professores leitores na FaE/UFPel – em busca de títulos, gêneros e autores
concernentes ao tema; c) Composição
de um acervo com obras que se coadunam com a possibilidade interdisciplinar a
serem lidas a um grupo de crianças que frequentam o 3º ano do Ensino
Fundamental em uma escola pública municipal em Pelotas, RS.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
No atual
contexto escolar altamente disciplinarizado, a Literatura Infantil pode ser
utilizada como ferramenta de coordenação entre os conteúdos das disciplinas,
devido a diversos potenciais benefícios cognitivos para os leitores, como, por
exemplo, o desenvolvimento das capacidades de concentração, da criação de
imagens mentais complexas e da reversibilidade do pensamento. Estas capacidades
cognitivas têm sido constantemente desestimuladas no contexto da Revolução
Científica em que vivemos, devido à prontidão das informações e dos elementos
sensoriais disponíveis nos filmes, séries, jogos eletrônicos, dentre outras
manifestações artísticas tecnológicas.
Pedagogicamente,
as variadas, surpreendentes e múltiplas interpretações de narrativas são
aspectos altamente exploráveis, pois podem proporcionar longas e produtivas
discussões e reflexões. Trata-se de um fenômeno democrático que, inclusive,
caracteriza o aspecto artístico da Literatura Infantil. Como aponta ZILBERMAN
(2015): “Ela sintetiza, por meio dos recursos
da ficção, uma realidade, que tem amplos pontos de contato com o que o leitor
vive cotidianamente”.
Além
destas constatações, no trabalho apresento uma seleção de obras literárias que possuem
potenciais interdisciplinares. É um pequeno acervo a ser lido para crianças que
frequentam o 3º ano do Ensino Fundamental (entre oito e dez anos de idade) e
que são: 1. O pote vazio, de Demi,
traduzido por Monica Stahel; 2. A
lagartixa que virou jacaré, de Izomar Camargo Guilherme; 3. O frio pode ser quente? de Jandira Masur;
4. O verde brilha no poço, de Marina
Colasanti; 5. Revolução no formigueiro,
de Nye Ribeiro; 6. O lobo e o carneiro no sonho da menina, de Marina Colasanti; 7. Quem sou eu? de Gianni Rodari; 8. Pinote, o fracote e Janjão, o fortão, de
Fernanda Lopes de Almeida e Alcy Linares; 9. O contrário, de Tom MacRae e Elena Odriozola; 10. Osso do ofício, de Gilles Eduar.
4. CONCLUSÕES
A
Literatura Infantil revela-se uma poderosa ferramenta Interdisciplinar, pois se
constitui de diversos conhecimentos disciplinares de base, que são solicitados
e desenvolvidos ao utilizá-la, orientando-os em uma direção comum, construída a
partir das reações e interpretações dos alunos, do contexto em que será
apresentada a obra literária aos leitores, como também pelo conteúdo literário
dos livros. Estas práticas devem fugir da roteirização da interpretação das
obras literárias, buscando a construção de ambientes que estimulem a autonomia
e a criatividade através da imaginação e da liberdade interpretativa dos
leitores.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
HARARI, Y N. Sapiens, Uma breve história da humanidade.
Local de Edição: Editora, 2018
FAZENDA, I C. Interdisciplinaridade: História, teoria e
pesquisa. Papirus Editora, 2017.
ZILBERMAN, R. A Literatura infantil na escola. Global
Editora e Distribuidora Ltda, 2015.
BICALHO; OLIVEIRA, L M; M.
Aspectos conceituais da Multidisciplinaridade e da Interdisciplinaridade e a
pesquisa em Ciência da Informação. Encontros
Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação, v. 16, n.
32, p. 1-26, 2011.
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