Leitura em grupo: uma atividade de extensão

 


Leitura em grupo: prazer ou compromisso? 

Luzia Helena Brandt Martins

Orientação: Drª Cristina Maria Rosa

 

Introdução

No projeto descrevo uma atividade de extensão que desenvolverei, entre abril e outubro de 2022, com discentes da UNAPI – Universidade Aberta para Idosos, um dos projetos estratégicos da UFPel. Após ter realizado uma pesquisa a respeito de hábitos e gostos pela leitura, decidi organizar e oferecer a eles um Grupo de Leitura, ou seja, um tempo de compartilhamento de obras literárias acompanhadas de discussões e percepções acerca desses textos lidos. Um componente que não abro mão é que sejam momentos literários repletos de dedicação, afetividade e sensibilidade. Como foco, pretendo organizar um grupo aos moldes de Cosson (2014), para quem é fundamental identificar os participantes e estar atento aos interesses dos mesmos, selecionar obras considerando os interesses de quem participa, elaborar um calendário de leitura e discussões, preparar os leitores para usufruírem do momento, registrar as atividades e, ainda, avaliar o processo.

Referencial

Acredito que a Leitura Literária é um momento de interação agradável e sem outros objetivos entre o texto escrito e o leitor. Segundo Graça Paulino (2014), “a leitura se diz literária quando a ação do leitor constitui predominantemente uma prática cultural de natureza artística, estabelecendo com o texto lido uma interação prazerosa''. Para a autora, o gosto pela leitura “acompanha seu desenvolvimento”, sem que “outros objetivos sejam vivenciados” como mais importantes, “embora possam também existir”. O pacto “entre leitor e texto inclui, necessariamente, a dimensão imaginária, em que se destaca a linguagem como foco de atenção”, pois através dela “se inventam outros mundos, em que nascem seres diversos, com suas ações, pensamentos, emoções”. Partindo da Leitura Literária como ação e chegando ao Letramento Literário – “processo de apropriação da literatura enquanto linguagem” (COSSON, 2014), encontram-se algumas ações pedagógicas para que o Letramento Literário aconteça de fato. Estas ações são: aproximação entre leitor/estudante e a obra literária e espaço de compartilhamento de leituras. Para o pesquisador, é necessário “ter como objetivo a ampliação do repertório literário, cabendo ao professor acolher (...) as mais diversas manifestações culturais, reconhecendo que a literatura se faz presente não apenas nos textos escritos, mas também em outros tantos suportes e meios”. Com isso, considera-se também a Leitura Colaborativa como uma das bases para este grupo de leitura, uma vez que esta “baseia-se no princípio teórico-metodológico de que se aprende em colaboração com o outro.” (BRAKLING, 2014). Assim, proponho que neste espaço/tempo, além dos debates acerca da obra, o que ler também será uma decisão em conjunto, tendo em vista a diversidade de saberes e percepções sobre a leitura que todos possuem. Considerando que os discentes da UNAPI já demonstraram gostar de ler, participam de eventos e momentos literários e são idosos que já tiveram ou ainda tem contato com diferentes gêneros literários, posso afirmar que são “leitores proficientes”. Isso significa dizer que não só decodifica não só decodificam: 

 

[...] as palavras que compõem o texto escrito mas, também, constrói sentidos de acordo com as condições de funcionamento do gênero em foco, mobilizando, para isso, um conjunto de saberes (sobre a língua, outros textos, o gênero textual, o assunto focalizado, o autor do texto, o suporte, os modos de leitura) (DA MATA, 2014).

 

Se o leitor proficiente é um participante ativo do processo de leitura, ele pensa, reflete e cria hipóteses para o texto lido, a partir de pistas que a própria obra proporciona. É um sujeito que vai 

 

[...] construindo sua proficiência em leitura à medida que aciona conhecimentos prévios sobre o assunto em pauta, o gênero, o autor, faz inferências, levanta hipóteses, faz antecipações sobre o que vai ser tratado no texto e o modo como vai ser tratado o tema. Assim, ele vai se transformando em um leitor capaz de processar não só o que é dito no texto, mas também aquilo que está nas entrelinhas, os implícitos (DA MATA, 2014).

 

O “levantamento de hipóteses” – expectativas sobre a obra a ser lida – integra o processo e, conforme ocorre a leitura, hipóteses são confirmadas. Ou não. Ao considerar a participação desses leitores em um processo de “grupo ou clube de leitura” imagino inúmeras hipóteses sendo postas em jogo: ideias, noções, reflexões que, convergindo ou não, tornarão a experiência inesquecível. E o que é um Grupo de Leitura? Pensemos em uma comunidade de leitores – um grupo de pessoas que se reúne periodicamente para debater obras previamente acordadas, sugeridas ou não por um coordenador (DIONÍSIO, 2014). Segundo a autora, o fundamento desta prática está na cumplicidade pois, nem sempre os participantes compartilham dos mesmos saberes, o que possibilita uma troca e amplitude de conhecimentos no mesmo espaço/tempo. Em suas palavras:

 

Fazendo viver a leitura como uma experiência verdadeiramente social, as comunidades de leitores potencializam caminhos que não se esgotam nos encontros presenciais regulares. O sentimento de pertencimento ou de pertinência a tais comunidades é uma das principais contribuições dessas práticas e condição suficiente para a formação de leitores competentes e duradouros (DIONÍSIO, 2014).

 

Segundo Rildo Cosson, o que chamamos de “grupo de leitura”, “comunidade de leitores”, pode-se chamar também "círculo de leitura”, que, inclusive, pode acontecer “virtualmente em uma página na Internet [...]” (COSSON, 2014). Para ele, círculos de leitura são agrupados em três tipos: os estruturados, em que os participantes seguem um roteiro definido de atividades com acompanhamento de leitura, discussões e conclusões, os semiestruturados, coordenados por um condutor, que organiza e orienta as atividades e os não-estruturados, em que a organização e planejamento é feito de forma coletiva. Sendo assim, reconheço um Grupo Literário como uma das ferramentas centrais para o Letramento Literário, uma vez que, mesmo que se trate de pessoas que já estejam em contato com a Literatura, é necessário a organização e exposição de uma proposta com tema e sequência, com objetivos, planejamento e dedicação, para que ao fim, tenhamos uma excelente experiência.

Metodologia

A extensão universitária é, “o grande prêmio de quem estuda. É nela que observamos a pertinência, a relevância, a adequação e mesmo o ineditismo do que descobrimos, projetamos, inventamos. É no campo – no caso das descobertas acerca da educação, na escola – que se operam as maiores e mais impactantes mudanças sociais que as descobertas científicas podem oferecer”, de acordo com Rosa (2019). Com base nos princípios aqui descritos e tendo com intuito colocar em processo os saberes adquiridos na Licenciatura em Pedagogia, busco “testar” metodologias. Penso que “ada como um mergulho no mundo real, repleto de contradições e demandas de variados tipos para percebermos se o que planejamos é exequível, viável, pertinente, importante” (ROSA, 2019). Entre os objetivos, o principal é estruturar um grupo de leitura de modo que me tornarei mediadora com poder de oferecer alternativas às decisões sobre temas, obras e formato do grupo. O processo de formação do Grupo de Leitura ocorrerá de modo virtual, bem como todos os encontros. Neste sentido, os procedimentos serão: a) Contato com o grupo; b) Elaboração de um card/convite para enviar aos grupos e discentes da UNAPI; c) Formação do grupo e decisões concernentes à obra literária a ser lida e discutida, horário e tempo dos encontros, ativação das câmeras e microfones e encontros gravados ou não; d) registro e publicização dos resultados.

 

Referências:

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