Chimarrão: uma tradição ameaçada?

 



Dia 24 de abril, dia do Chimarrão

Angelica dos Santos Karsburg

           

No Rio Grande do Sul, todo dia é dia de chimarrão. Porém, a bebida símbolo do Estado, segundo a lei estadual gaúcha 11.929, tem seu dia oficial: 24 de abril. Também conhecida como mate, a bebida tem um sabor mais amargo, mas há quem goste de pôr um pouco de açúcar ou acrescentar chá para dar um gosto diferenciado.

A erva-mate é nativa da América do Sul e muito popular no Uruguai e no Brasil, onde em muitas regiões é consumida na forma de chá gelado. Diurético e bom para o coração, o chimarrão é um ótimo aliado contra o frio. Tomar um “chimas”, virou símbolo da tradição e tem uma forte ligação social pois, dividir a bebida é sinônimo de amizade e hospitalidade entre o povo gaúcho.

Origem

A história por trás da origem do chimarrão tem duas vertentes: de um lado, os povos indígenas; do outro, os soldados espanhóis.

Conhecida pelo nome de Ilex Paraguariensis, a planta da erva-mate era colhida, queimada, secada e triturada pelos índios Guaranis que a consumiam e a preparavam de um modo muito semelhante ao que utilizamos hoje em dia. Dessa maneira, o chimarrão tornou-se um legado indígena.

Entretanto, o consumo de chimarrão também é conhecido com a chegada dos soldados espanhóis às terras da América do Sul. A lenda por trás da origem do chimarrão se dá no ano de 1536. Esses soldados, pela saudade existente de suas famílias, eram famosos por estarem sempre embriagados. Descobriu-se, nesse ponto, que a erva-mate era eficaz no alívio das ressacas. Então, foi nesse momento que os soldados resolveram tomá-la com a intenção de curar suas bebedeiras.

No Sul do Brasil, naquele mesmo período, os índios Guaranis também já tomavam o Caá, em porongo, utilizando como a cuia do chimarrão, sorvendo o Caá-y por meio do tacuapi, que era uma espécie de bomba primitiva feita de taquara. Diz-se que essa era uma tradição herdada do Deus Tupã.

Um pouco da história e algumas curiosidades...

A erva era colocada em recipientes parecidos com a cuia utilizada atualmente e feitos de taquara de bambu, madeira, chifre de boi e também porongo. Com a chegada dos soldados europeus, a bomba foi introduzida no consumo do chimarrão, que num primeiro momento foi confeccionada a partir da taquara e tinha o nome de tacuapi, como dito anteriormente.

Durante o período da chegada dos padres jesuítas, houve uma tentativa de barrar o consumo da erva-mate, pois eles acreditavam se tratar de um ritual pagão, chamando a erva de “erva do diabo”. Mas...

O mate amargo acabou sendo aceito.

Os padres perceberam que, ao barrar o seu uso, os índios acabavam se entregando ao álcool e não rendiam no trabalho. Por se tratar de um estimulante natural, a erva-mate acabou sendo aceita visando a maior produtividade do trabalho indígena e, logo mais, acabou também conquistando o paladar dos colonizadores.

Até os dias de hoje o chimarrão é uma bebida muito consumida nas regiões do sul da América Latina. Para além do mercado tradicional, o chimarrão e a erva-mate também começaram a ganhar adeptos fora da América do Sul, em função da imigração e também da curiosidade de muitos em relação à erva-mate e seus efeitos. Além do tradicional chimarrão ou tereré, a erva-mate deixou de ser apenas consumida como bebida e hoje está presente no preparo de receitas gastronômicas e até mesmo como importante matéria prima na indústria cosmética.

Enquetchê

O grupo PET Educação realizou uma pesquisa. Intitulada enquetchê, teve como objetivo saber como anda o consumo da bebida nesse período pandêmico, pois o velho amargo é apontado por alguns como vilão.

Ao compartilhar da mesma bomba para tomar a bebida, o nosso bom e velho companheiro de muitas hora tem sido apontado como objeto propício para a disseminação do novo corona vírus. Sabendo da importância da bebida para o povo gaúcho, decidimos investigar se ainda há consumo do chimarrão, se houve alterações no hábito ou não.

A pesquisa foi feita por meio da rede social Instagram, e as perguntas foram feitas nos storys (ferramenta enquete). Três perguntas foram lançadas e cada uma delas tinha duas opções de respostas.

A primeira pergunta foi: “Tu gostas de tomar chimarrão?”, as opções de respostas eram: SIM e NÃO. 89% dos respondentes marcou “sim” e 11% “não”.

A segunda pergunta foi: “Durante a pandemia, tu estás tomando chimarrão como?”. As opções de resposta eram: sozinho e coletivo. 75% das pessoas marcou “sozinho” e as demais, “coletivo”.

A terceira pergunta foi: “Durante a pandemia o chimarrão está sendo considerado um vilão. Tu sabias disso?”. As opções para resposta eram: “ouvi falar” e “não sabia”. As respostas foram: 61% para “ouvi falar” e 39% para “não sabia”.

Um causo...

Um dos respondentes entrou em contato via direct, para contar um causo acontecido.

Na casa dele – o internauta mora com mais três amigos – houve um caso de COVID-19. Só um. E todos os quatro partilham o chimarrão. Nenhum dos amigos pegou, mesmo dividindo o chimarrão. Ele contou ainda que todos realizam testes mensais, pois o trabalho requer e, até o momento, apenas ele havia sido contaminado. Contou também que, enquanto falava comigo, estava preparando seu chimarrão para beber com os amigos.

Protocolos...

Sabemos que há uma série de protocolos que devemos cumprir e que o compartilhamento do chimarrão deve ser evitado, ao menos com pessoas que não moram juntas para que o vírus não circule cada vez mais.

Mas...

Não há como esquecer que tradição é tradição!

E...

Certos hábitos levam tempo para serem mudados.

E agora?

Esperamos que esse momento difícil passe logo e que em breve a gente possa estar nas praças, ou até mesmo em nossas casas, cevando o amargo em uma roda cheia de amigos e que a única preocupação com o chimarrão seja a demora até chegar nossa vez...

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