Travessias: um olhar sobre
o nosso tempo
Cristina Maria Rosa
O grupo PET Educação é reconhecido,
na Universidade e fora dela, por propor discussões sobre temas diversos que, de
um modo ou outro, impactam na formação de professores.
Nesta segunda, dia 02 de
novembro, Claudia Laitano publicou, em sua coluna em um jornal do Rio grande do
Sul, uma instigante matéria. Trata do tema da diversidade social e cultural nas
salas de aula das escolas públicas como proposta de “misturar para melhorar”.
Eu enviei a matéria para um
grupo de pessoas e perguntei a elas o que pensavam. Publico aqui, algumas das respostas:
Uma de nossas respostas veio
de uma Pedagoga, Pós-Graduada, leitura e atuante na profissão: Professora com
muita experiência em escolas públicas no sul do RS. Ela escreveu:
“Texto ótimo para
desencadear várias questões... Comecei a pensar e relacionei com a concretude
que permeia a vida. A primeira questão que pensei, foi a respeito de nós,
professores da escola pública. Penso que não acreditamos na escola pública quando
colocamos nossos filhos em escolas privadas. E falo por mim, pois minha filha
fez o primeiro grau quase todo na escola particular. Depois que fui atuar como professora, compreendi
e comecei a defender isso muito. Outra questão que me instigou foi a descrição
da experiência e espanto da filha com a vivência na escola do Canadá. Menciona
a compreensão deles a respeito da diversidade, diversidade esta que a escola no
Brasil ainda não conseguiu humanizar. Continuo pensando sobre o texto e outra questão,
a respeito da educação como um "privilégio" e não como um
"direito" me surge, pois fazer intercâmbio (mesmo nos governos Lula e
Dilma) foi um privilégio de poucos. Pensando nos milhões de estudantes deste
país que mal conseguem se alfabetizar, imagine dominar uma segunda língua para
fazer um intercâmbio. No seguimento do texto, com relação a atitude dos pais de
uma escola em São Paulo – construir um projeto onde 18 privilegiados irão
ganhar uma bolsa – pensei: a escola, a
educação continua um privilégio de poucos. Não desconsidero a
atitude dos pais, é relevante. Porém, esses pais levaram um tempo para
conseguir elaborar um projeto que tem como centralidade, oferecer vagas para 18
crianças oportunizarem aos filhos deles aprenderem a respeitar as diversidades.
Penso que são atitudes que parecem e tem uma boa intenção, porém, seguimos afirmando
o projeto do grande "capital", que divide, segrega e extermina todas
as formas de vida. Por fim, penso nas palavras de Freire, quando afirma que a
escola não muda a sociedade, a escola transforma as pessoas e as pessoas é que
mudam suas realidades. Precisamos construir uma escola que possibilite às
pessoas, transformar suas realidades. Questões que o texto provocou em mim...”
Outra pessoa que respondeu
à minha provocação foi uma estudante de Mestrado em História em uma
Universidade Pública no Rio Grande do Sul. Ela foi contundente:
“Há uma necessidade latente
em buscar a diferenciação social através de símbolos, instituições,
associativismo e uma rígida norma de comportamento social; é preciso demarcar e
alinhar, para que não haja espaços para rompimento patriarcal e de lógicas da
engrenagem capitalista, que fomenta a escravidão, seja ela moderna ou análoga. A
pluralidade é algo perigoso, principalmente quando toca essas formas de
distinguir o social, esses ciclos serão quebrados justamente através dessa
forma de aproximar o colorido do monocromático. O medo que se tem nessa forma
de dominação na qual a América Latina foi submetida e colonizada é perigoso
fomentar o plural, o diverso, isso abala toda lógica exploratória. Por que temos
periferia? Por que a diarista não pode agregar valor a seu trabalho? Por que
nossa educação é atacada de maneira sistêmica? Por que média escolar entre a
maioria da população é o primário? Por que a cultura é elitizada? Por que um livro custa tão caro? Por que a academia ainda é branca?
Por que a academia se fecha dentro de seu núcleo? Por que os saberes e
expertise não são valorizados dentro das instituições acadêmicas?”
Considerando outras
opiniões, revelo mais uma, de uma estudante da Licenciatura em Pedagogia em uma Instituição Pública de Ensino, que tem, em sua trajetória, uma experiência peculiar que agrega valor a sua manifestação. Leia o que ela que
escreveu:
“Adorei o texto, mas
acredito que a perspectiva de diversidade cultural na escola que o texto
apresenta é muito limitada, esse é um debate muito importante, e não acho que
um sistema de bolsas seja uma solução para o problema que é apresentado, mesmo
que pra uma pequena parcela de estudantes. Na adolescência, fui bolsista e, mesmo
que eu sentisse que minha cultura era aceita, percebi uma tentativa de "me
polir" no sentido de uma perspectiva eurocêntrica. Talvez eu pense assim,
por conta dessa vivência minha de mulher, cis, branca, cheia de privilégios. Acredito
que pra diminuir a segregação sociocultural que vivemos, não basta
frequentarmos os mesmos espaços, pois sempre vai haver uma tentativa de
hegemonização, alimentando um sentimento de meritocracia e um sonho de se
tornar "o opressor". Para mim, isto é genocídio cultural. Sinceramente,
não sei o que pode ser feito quanto a isso, mas acho que uma escola pública
culturalmente diversificada, que desenvolva a autoestima, a perspectiva crítica
e as potencialidades de cada um, seja muito mais qualitativa do que abrir as
portas dos institutos privados como esmola cultural”.
Enviada por um estudante da
UNAPI – Universidade Aberta para Idosos – um projeto estratégico da UFPel, a opinião de um longevo sempre é interessante
e primordial na composição de saberes acerca de qualquer tema. Leia o que ele
escreveu:
“Responsabilidades
divididas entre uma sociedade que ainda não enfrentou suas mazelas (pobreza,
racismo, homofobia, desrespeito aos mais
velhos) e na qual os governos são fruto da sociedade e tem em sua índole o
poder pelo poder, com falta de investimento na educação básica e atraso de
salários (que resultam em greves). Quanto menos cultura, mais massa de manobra
o povo se torna. Enquanto não houver uma política de governo, com diretrizes
colocadas na constituição ou outra legislação, vamos estar sempre ao sabor de
ministros (políticos) que seguem a diretriz do governante da hora”.
Por fim, mais uma opinião.
Esta, de um estudante de Espanhol, futuro professor do Idioma falado, escrito, lido e compreendido em parte considerável da Améria Latina. Intensa, como as demais, tem um ponto de vista que busca ampliar nosso olhar a
respeito do assunto.
¡Buenas tardes a todos! La
autora parece sugerir que la separación étnica en las escuelas de Brasil es
intencional, con lo que yo no concuerdo. Reconozco que hay, sí, una distancia
muy grande entre los niños de diferentes clases, pero no la miro como una obra
de personas inescrupulosas, que quieren que ocurra esta separación. La llamo
"separación", y no "apartheid" porque lo que ocurrió en
África del Sur es muy diferente de eso. Creo que el problema de la separación,
como muchos de nuestros problemas en general, se debe a la incomprensión de los
brasileños en general acerca de como las cosas se suceden y, sobretodo, a la
tendencia de buscar a un otro alguien a quien poner la culpa cuando las cosas
salen mal”.
Agradeço
O PET Educação agradece aos
leitores que se manifestaram e, sem os quais, esta publicação seria impossível.
Informamos que estamos recebendo outras opiniões e nosso intuito é colocá-las à
disposição para o embate teórico, político e cultural.
Bônus
Leia Travessias.
Leia Cláudia Laitano.
E, convidado, responda a
nossas enquetes. Elas aprimoram nossos estudos, qualificam nossas interações e
criam conteúdos relevantes para quem pensa a educação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário