Iniciação científica premiada na SIIEPE 2019

Sim.
Há livros para meninas na sala da leitura Erico Verissimo!
Cristina Maria Rosa
Tutora PET Educação


O PET Educação está em festa!
Após ter participado com 10 trabalhos no CIC UFPel (SIIEPE, 2019), uma de nossas estudantes foi destaque: Jéssica Corrêa Ribeiro!

O destaque
No dia 29/10/2019, a Comissão Executiva do XXVIII Congresso de Iniciação Científica – CIC UFPel – divulgou a lista dos estudantes que foram destaque (https://wp.ufpel.edu.br/cic/2019/10/29/divulgados-os-destaques-do-xxviii-cic/) na sua sessão de trabalhos. Entre eles, uma estudante da Licenciatura em Pedagogia, bolsista PET Educação.
Com o trabalho Há livros parmeninas” na Sala de Leitura Erico Verissimo?, a estudante Jéssica Corrêa Ribeiro foi destaque no CIC da UFPel em 2019.
Apresentado na manhã do dia 22/10, terça feira, os aplausos após a comunicação oral indicavam que Jéssica havia conquistado a Banca e a plateia repleta de estudantes de diferenciados cursos da UFPel. Tendo “acertado em cheio” – na escolha do tema, nos procedimentos metodológicos e na revelação dos resultados – ao ler um trecho de uma das obras escolhidas, Jéssica manifestou maturidade e conhecimento de causa. O PET Educação se sente emocionado pela conquista e convida para a leitura do resumo integral aprovado.


Título: HÁ LIVROS “PARA MENINAS” NA SALA DE LEITURA ERICO VERISSIMO?
Autora: JÉSSICA CORRÊA RIBEIRO
Orientadora: Drª. CRISTINA MARIA ROSA

INTRODUÇÃO: Com a investigação busco delinear um acervo literário cujo foco é o feminismo e violência contra a mulher. Objetivo conhecer se há e quais são os livros de literatura que podem ser acionados em práticas de leitura com meninas na escola. Um de meus objetivos é fornecer uma lista de títulos que auxiliem os professores e estudantes de Pedagogia quando tratar do feminismo e da violência contra a mulher. Segundo GARCIA (2009) “o feminismo se articula como filosofia política, e ao mesmo tempo, como movimento social”. Desse modo, é importante observar que o feminismo se encontra no cotidiano das relações humanas. No entanto, no ambiente escolar ainda existe um receio quanto ao fato de se utilizar esta temática, acredito que por construções históricas e sociais presentes na história da formação e do exercício docente. De fato, ainda existe muito para se conhecer e questionar sobre o feminismo, mas é imprescindível que se aborde essa temática na escola, especialmente com as meninas, por serem elas as primeiras vítimas da violência contra a mulher no Brasil.
Segundo BEAUVOIR (1967, p.30) “Tudo contribui para confirmar essa hierarquia aos olhos da menina. Sua cultura histórica, literária, as canções, as lendas com que a embalam são uma exaltação do homem”. Realizar leituras literárias que apresentem protagonistas mulheres sugere, informa e confirma às meninas que existe um lugar para elas, um lugar que não precisa mais ser idealizado. Fenômeno caracterizado “por um constante e reiterado desrespeito ao outro”, a violência contra a mulher deve ser pautada na escola, de acordo com ROSA (2017). A pesquisadora afirma que é urgente e necessária a reflexão sobre esta temática e indica que a Literatura pode ser um interessante instrumento para que discussões sobre esse tema, que é de todos, sejam desencadeadas. Assim, elenca entre títulos interessantes a serem lidos, alguns dos contos clássicos. Eles trazem informações, sutilezas, insinuações e, ao serem fruídos, propõem pensar sobre a condição humana e a condição da mulher independente de época e lugar. Um deles, o conto grafado por Charles Perrault em 1697, Chapeuzinho Vermelho, é considerado um poderoso alerta a meninas desde então (ROSA, 2017). Em uma obra interface entre a Psicanálise e a Literatura intitulada Fadas no Divã, os autores Diana e Mário Corso (2006) avaliaram os impactos dos contos de fadas na construção dos sujeitos. Na mesma rota, QUEIRÓS (2009), defende que a Literatura “possibilita ao leitor dobrar-se sobre si mesmo e estabelecer uma prosa entre o real e o idealizado”. Ou seja, os alertas e denúncias que a literatura realiza, são fundamentais para as compreensões de si e do outro. Para ROSA (2017) “ao escolhermos uma obra a ser lida para nossas crianças em casa ou na escola, um grupo importante de critérios precisam ser considerados, entre eles, autoria, gênero, ilustrador, quantidade e qualidade do texto e até temas que podem desencadear indagações e diálogos acalorados”. Os critérios são fundamentais para a construção do diálogo, e facilitam no processo de procura de acervo.
Estrutura acadêmica vinculada ao GELL – Grupo de Estudos em Leitura Literária da Faculdade de Educação da UFPel e apoiada pelo PET Educação –, a Sala de Leitura Érico Veríssimo está localizada no CCSH. É um ambiente de aprendizagens significativas e local pelo qual transitam professores e estudantes de vários cursos, entre eles, a Licenciatura em Pedagogia. Assim, ao realizar a pesquisa imagino facilitar a interação com o acervo que é amplo. Repletas de questionamentos e receios, as temáticas da violência de gênero, feminismo e empoderamento feminino demandam suporte teórico e mediação, o que pode ser feito a partir de: a) sujeitos (estudantes, pesquisadores, professores, familiares); b) obras adequadas, que apoiem o diálogo reflexivo e o tornem mais atraente e eficaz.

METODOLOGIA
A metodologia de pesquisa é descrita por Minayo (1994, p. 16) como a confluência de “concepções teóricas de abordagem”, “conjunto de técnicas” que possibilitam a observação e análise da realidade e a influência do “potencial criativo do investigador”. Para a autora, a pesquisa qualitativa “responde a questões muito particulares” e se preocupa com “um nível de realidade que não pode ser quantificado” (MINAYO, 1994, p. 21). De acordo com essa abordagem, inicialmente empreendi uma pesquisa bibliográfica sobre os conceitos da temática escolhida. Pretendia tornar mais consistentes as concepções teóricas disponíveis sobre o feminismo e a violência contra a mulher. Logo depois, integrando o conjunto de técnicas, optei por:
a) Selecionar na SLEV um grupo de aproximadamente trinta títulos – corpus inicial – que mencionassem a temática do feminismo e/ou a violência contra a mulher;
b) Apresentar os títulos ao grupo PET Educação que integro como bolsista, a fim de que todos pudessem ler e escolher um para indicar à lista final;
c) Estabelecer como critério para o corpus final uma quantidade – onze livros literários – correspondendo às idades a quem seriam destinados – crianças entre quatro e quatorze anos;
d) Compor a lista de onze obras a serem indicadas; e) Escrita das conclusões.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Essa pesquisa surge com a necessidade de discussão sobre a temática do feminismo, além de possibilitar um apoio pedagógico aos estudantes e professores para que tenham consigo um acervo literário que aborde essa temática. Com doze bolsistas de semestres variados mais a presença da tutora, a discussão a respeito do que devia estar inserido na lista foi ampla e apaixonada. Após tocas, argumentos, considerações e disputas, a orientação criteriosa de livros adequados a crianças entre quatro e quatorze anos foi preponderante para as sugestões. Assim, os onze títulos selecionados e seus autores, organizados em ordem crescente de idade (4 aos 14 anos) são:
1) Maria vai com as outras, de Sylvia Orthof;
2) O cabelo de Lelê, de Valéria Belém;
3) Orie, de Lúcia Hiratsuka;
4) Teresinha e Gabriela, de Ruth Rocha;
5) Suriléa-mãe-monstrinha, de Lia Zats;
6) Chapeuzinho Vermelho, de Charles Perrault;
7) Flora, de Bartolomeu Campos de Queirós;
8) Marieta Julieta Raimunda da Selva Amazônica da Silva e Sousa, de Mariana Massarani;
9) 50 brasileiras incríveis para conhecer antes de crescer, de Débora Thomé;
10) Pele de Asno, de Charles Perrault;
11) Eu Sou Malala, de Malala Yousafzai.
Por fim, indico como futuro da pesquisa um seminário temático a fim de realizar o estudo e leitura das obras como suporte a ações de leituras literárias nas escolas a estagiários e professores interessados na temática. Como resultados, ainda, almejo divulgar o acervo em eventos, no Blog do PET Educação (http://peteducacao.blogspot.com/) e torna-lo disponível para leitura na SLEV - Sala de Leitura Erico Verissimo.

CONCLUSÕES: Ao realizar a pesquisa e formar a lista com onze títulos, pude concluir que existem livros de qualidade literária para serem lidos e problematizados. Nas obras selecionadas, temas como autoestima, aceitação, crescimento, empoderamento, a mulher na sociedade, violência contra a mulher, ser mulher profissional, histórias de mulheres, para mulheres, assédio moral/emocional e direitos e feminismo aparecem sutil ou abundantemente e, em alguns casos, desde o título. Os estudantes de Pedagogia e os professores que já estão nas redes de ensino públicas e privadas relatam grande dificuldade em encontrar um acervo para trabalhar com a temática do feminismo. Por isso, a importância de se realizar uma pesquisa com esse foco. Penso que um trabalho de análise possibilite a compreensão e exploração de títulos literários e seus desdobramentos na escola, com as crianças. Acredito que essa lista irá proporcionar auxilio e reflexão aos estudantes e professores, além de possibilitar uma leitura prazerosa e rica para futuras discussões. É importante ressaltar que os livros por si só já geram problematizações. No entanto, é necessário que o leitor reflita e questione durante sua prática de leitura para que assim haja uma interação e um diálogo prazeroso. Creio que a pesquisa irá gerar um momento literário magnífico para o leitor e seus ouvintes, pois a literatura é um instrumento, tanto para deleite, quanto para reflexões de si e do outro.

REFERÊNCIAS
BEAUVOIR, Simone. O Segundo sexo: A experiência vivida. São Paulo: Difusão Europeia do livro, 1967.
BELÉM, Valéria. O cabelo de Lelê. IBEP. 1ºed. São Paulo, 2012.
Contos de Fadas: de Perrault, Grimm, Andersen & outros. Apresentação: Ana Maria Machado; tradução Maria Luiza X. De A. Borges. Rio de Janeiro: Zahar, 2010.
CORSO, Diana Lichtenstein; CORSO, Mário. Fadas no divã: psicanálise nas histórias infantis. Porto Alegre: Artmed, 2006.
DÉBORA, Thomé. 50 brasileiras incríveis para conhecer antes de crescer. 1ºed. Galera. Rio de Janeiro, 2017.
DESLANDES, Suely Ferreira. In: MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.
GARCIA, Carla Cristina. Uma breve história do feminismo. 1 ed. São Paulo: Claridade, 2011.
HIRATSUKA, Lúcia. Orie. 1 ed. Rio de Janeiro: Pequena Zahar, 2014.
MASSARANI, Mariana. Marieta Julieta Raimunda da Selva Amazônica da Silva e Souza. 2 ed. Rio de Janeiro: Manati, 2008.
ORTHOF, Sylvia. Maria vai com as outras. 21ª ed. São Paulo: Ática, 2005.
QUEIRÓS, Bartolomeu campos de. Flora. Ilustrações: Ellen Pestilli. 2 ed. São Paulo: Global, 2009.
QUEIRÓS, Bartolomeu Campos de. Manifesto por um Brasil Literário. Página Oficial. Acesso em 02/09/2019. Disponível em: http://www.brasilliterario.org.br/
ROCHA, Ruth. Marcelo, marmelo, martelo e outras histórias. Ilustrações: Adalberto Cornavaca. 2ª ed. São Paulo: Salamandra, 1999.
ROSA, Cristina Maria. Critérios de escolha e de relevância de obras literárias infantis: um estudo. Alfabeto à Parte. 07 de Novembro de 2018. Acesso em 02/09/2019. Disponível em: https://crisalfabetoaparte.blogspot.com/search?q=livros+para+aprender+a+ser+e+gostar+dos+outros
ROSA, Cristina Maria. Maus-tratos emocionais e violência “benévola”: O que a literatura tem a nos dizer sobre o tema? Alfabeto à Parte. 07 de Novembro de 2018. Acesso em 02/09/2019. Disponível em: https://crisalfabetoaparte.blogspot.com/search?q=literatura+e+maus+tratos
YOUSAFZAI, Malala. Como uma garota defendeu o direito à educação e mudou o mundo. Tradução: Alessandra Esteche. 3º ed. São Paulo, 2018.
ZATZ, Lia. Suriléa-mãe-monstrinha. Ilustrações: Eva Furnari. São Paulo: Callis, 2005.

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Um comentário:

  1. Jéssica,
    Sou tua colega de curso, de trabalho, de bolsa e também tua admiradora! Ver tua pesquisa como destaque não foi nenhuma surpresa, já tinha a certeza de que seria premiada pelo belo trabalho que desenvolveste.
    Parabéns, por tudo! <3 Estef.

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