Teve início hoje,
20 de novembro de 2017, a
participação do PET Educação no SIIEPE Universidade Federal de Pelotas 2017. Com o trabalho da Gabriela Amaral no
CEC às 16:50, o PET intenciona informar à comunidade acadêmica o que faz em
pesquisa, ensino e extensão na UFPel. Além de trabalhos apresentados, dois estudantes PET Educação integraram as equipes de organização do evento: Leonardo Capra e Tamires Goulart.
Leia, a seguir, os resumos aprovados pelo PET Educação.
Aqui, estão em ordem de apresentação nos respectivos eventos integrados na SIIEPE: CIC, CEG e CEC.
Leia, a seguir, os resumos aprovados pelo PET Educação.
Aqui, estão em ordem de apresentação nos respectivos eventos integrados na SIIEPE: CIC, CEG e CEC.
1.
NOVOS CAMINHOS:
ENSINO-APRENDIZAGEM, de GABRIELA AMARAL LEAL.
RESUMO: O objetivo primordial do
Projeto de Extensão Novos Caminhos é proporcionar melhor qualidade de vida às
pessoas com síndrome de Down (SD) através da inserção, qualificada, em
atividades sociais que exijam práticas de leitura e escrita. Compartilhamos com
FREIRE (1983) que “A leitura de mundo precede a leitura da palavra e a leitura
desta implica a continuidade da leitura daquele.” A partir dessa ideia de
Freire, nós professores-aprendizes do Projeto, fazemos a relação entre
Alfabetização - aqui entendida como o conhecimento do sistema alfabético, o
domínio do processo de leitura e escrita de palavras, e o Letramento - “viver
na condição ou estado de quem sabe ler e escrever” (SOARES, 1998), ou seja,
utilizar esse conhecimento em sua vida diária, contribuindo para o entendimento
do mundo. Nesse sentido, segundo a autora, Letramento diferencia-se de
alfabetização, pois abarca o dado a inserção do indivíduo ou grupo alfabetizado
no conjunto das práticas sociais de leitura, ao passo que a alfabetização
restringe-se aos atos de codificação e decodificação de um código (SOARES,
1998). Almejamos, assim, não só alfabetizar, como também aprofundar a condição
de letramento de cada aluno do projeto. Uma ação não necessariamente anda junta
com a outra, pois podemos ter alunos letrados, que participam de práticas
letradas, mas que não estão alfabetizados. No projeto, além de proporcionarmos
atividades de alfabetização, também oferecemos práticas de letramento e de
leitura de mundo, como a hora da leitura, a procura de produtos em catálogos, a
orientação por mapas de ruas, consulta a manuais de instalação, a discussão de
temas como inclusão, maioridade penal, etc. Para a efetivação desse objetivo
são oferecidas aos jovens atividades pedagógicas (leitura, escrita, conhecimentos
matemáticos, históricos e geográficos), oficinas de teatro e música. O Projeto
Novos Caminhos teve início em 2007 com apenas uma turma de alunos já
alfabetizados. Em 2009 foi aberta uma nova turma para pessoas com deficiência e
que não estavam alfabetizadas. Os resultados do desenvolvimento desse trabalho
têm sido observados em diversos aspectos além dos pedagógicos. Obtivemos
avanços estágios de aquisição da escrita, no raciocínio lógico, na linguagem
oral. Outro resultado, esse referido pela família dos jovens, é o fato de terem
melhorado a autoestima, a autonomia e a socialização. Como objetivo mais abrangente temos o
desenvolvimento da qualidade de vida de pessoas com síndrome de Down e pessoas
com deficiência, com o intuito de aprimorar o convívio social e elevar a
autoestima. Para que esse objetivo se concretize traçamos alguns específicos,
como: inserir os alunos no mundo da escrita, seja através da alfabetização
propriamente dita, seja através de oportunidades de reflexões sobre a escrita;
desenvolvimento de cálculos; orientação espacial-geográfica, conhecimentos
estes que julgamos colaborarem para a efetivação do objetivo maior. Neste
trabalho relataremos a experiência nas duas turmas deste Projeto. População
alvo Os participantes do projeto são jovens e adultos com Síndrome de Down e
Deficiência Intelectual. A turma começou com 15 alunos, e hoje conta com 12
participantes. A
maioria deles frequenta, também, outros projetos de extensão da Universidade,
como o Projeto Carinho/ESEF. Os acadêmicos organizam-se, preferencialmente, em
duplas, preparam o material, as atividades, submetem à sua coordenação e então
desenvolvem as atividades propostas. A cada dia é uma dupla de professores-aprendizes diferentes. As reuniões
semanais para preparo de atividades, discussões sobre o percurso e avaliação do
trabalho são de fundamental importância para o bom andamento das aulas de forma
que haja, assim, uma linha a ser seguida, uma continuidade. Atualmente são sete
acadêmicas(os) do curso de Pedagogia, uma mestranda em Educação e um licenciado
em Teatro, atuando como professores-aprendizes nesse projeto de extensão que é
realizado nas dependências da Faculdade de Educação. A equipe conta também com
uma Psicopedagoga e uma coordenadora. Toda
esta equipe reúne-se, semanalmente, para proposição de atividades, avaliação,
planejamento e troca de experiências. Há duas turmas: uma de Alfabetização e outra, conhecida como Avançado, já
alfabetizada. As
aulas do Projeto acontecem três vezes na semana (nas segundas, quartas e sextas-feiras),
das oito horas e trinta minutos até onze horas e trinta minutos. O Projeto
sempre primou por elaborar um tema, projeto de ensino a ser aplicado com ambas
as turmas para garantir a interação entre elas e também entre os
professores-aprendizes, sempre possibilitando o trabalho em conjunto. Exemplo, se o tema for “alimentação
saudável”, a turma de Alfabetização se encarrega em investigar o universo
letrado que envolve hábitos saudáveis com relação à alimentação e dessa forma,
tentar compreender a significação do sentido atribuído a este meio, então
apresentado. Já a turma do Avançado (cujos alunos já são alfabetizados),
trabalha o mesmo tema, mas por outros meios, dedicando mais atenção à questão
biológica, química do processo de alimentação; pesquisando e entendendo os
benefícios de cada alimento e como eles reagem em nosso organismo, por exemplo.
Cumpre ressaltar que, certo dia, os alunos da turma de Avançado, se reuniram e
solicitaram à coordenadora do Projeto, que queriam ser preparados para realizar
a prova do ENCCEJA (Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens
e Adultos), pois todos almejavam entrar em uma faculdade e concluí-la. Essa
proposta foi encaminhada à reunião pedagógica semanal para ser discutida em
grupo e, prontamente, foi aceita por toda a equipe. Um caso marcante que é
válido ressaltar, foi a proposta para ambas as turmas, que como estavam
trabalhando e discutindo o tema “Vida Saudável” nós, como
professores-aprendizes, concordamos em focalizar nosso trabalho no interpretação,
seja de imagens, vídeos, textos, pois notávamos muita dificuldade dos alunos
nessa questão. Pensando nesse objetivo e no tema sendo trabalhado, concordamos
em passar o filme “Wall-e” da Disney, pois ele atendia aos seguintes
requisitos: abordava a questão de sustentabilidade, alimentação saudável,
poluição e também por ser tratar de um filme de ação com poucas falas e dessa
maneira aumentando a possibilidade de maior nivelamento entre as turmas com a
finalidade de explorar a capacidade de interpretação, no caso, do filme com os
alunos. Em suma, essa
atividade proporcionou-nos um retorno riquíssimo, pois alguns dos alunos que
apresentavam muita dificuldade em interpretar pequenos vídeos ou até mesmo
frases curtas oralizadas, surpreenderam-nos ao contarem e explicarem sobre o
que se tratava o filme, qual a sua ideia principal e também respondiam a todos
os questionamentos provocados por nós, professores-aprendizes, até mesmo se
gabando em alguns momentos alegando que nossas provocações eram todas óbvias,
ou seja, comprovou clareza na compreensão global do filme e inclusive se
atentaram a muitos detalhes também e melhor ainda, não se contentaram com todas
as informações apresentadas no filme, ficaram intrigados, levantaram alguns
questionamentos e passaram a questionar, problematizar algumas situações e,
enfim, a nos provocar com algumas perguntas, dúvidas essas surgidas de
reflexões advindas da real compreensão do filme em si. Avaliação: A comunidade
atendida participa do projeto de extensão dando sugestões, avaliando,
colaborando. Os avanços alcançados
pelos alunos vão além dos previstos pedagogicamente: envolvem questões de
cidadania, autonomia, autoestima, alegria de viver e o sentimento de fazer
parte. Há que se
destacar ainda, os ganhos para os professores-aprendizes uma vez que são
confrontados com situações desafiadoras em termos de processos de
ensino-aprendizagem, tendo, assim, de pensar maneiras de mediar esse processo
em busca da real aprendizagem. Além disso, os
professores-aprendizes computam as horas ministradas no projeto na sua grade
curricular como atividades complementares.
REFERÊNCIAS:
FREINET, C. As técnicas Freinet da
Escola Moderna. Lisboa:
Editorial Estampada Ltda, 1975.
FREIRE, P. A importância do ato de ler
em três artigos que se completam. São Paulo: Autores Associados/Cortez, 1983.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em
três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998. VIGOTSKI, L. S. A formação
social da mente. 7ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
2. MICROPOLÍTICAS DE FORMAÇÃO DO LEITOR: A SALA DE LEITURA ERICO VERÍSSIMO, de CINARA TONELLO POSTRINGER
2. MICROPOLÍTICAS DE FORMAÇÃO DO LEITOR: A SALA DE LEITURA ERICO VERÍSSIMO, de CINARA TONELLO POSTRINGER
RESUMO: No trabalho apresento
resultados parciais da investigação que trata do impacto da Sala de Leitura
Erico Verissimo – inaugurada em 17/12/2015 – entre usuários. Estrutura
acadêmica que integra ensino, pesquisa e extensão, a Sala de Leitura tem como
centralidade a proposição de micropolíticas de formação do leitor literário.
Geograficamente localizada no térreo do ICH, é vinculada ao GELL – Grupo de
Estudos em Leitura Literária – e à Faculdade de Educação. O foco inicial da
pesquisa foi compreender, entre os usuários, a importância da sala na formação
docente. Para tal, escolhi uma das políticas propostas e desenvolvidas como
referência: o 2º Curso “Mediadores em Leitura Literária”. Ocorrido em janeiro
de 2016, teve 38 inscritos e como produção final, um livro digital. A formação
do mediador literário é estruturador e primordial no exercício cotidiano da
docência nos anos iniciais da escolaridade. A argumentação parte do princípio
de que crianças que chegam à escola pública precisam ser apresentadas à
linguagem literária, alfabetizadas literariamente (ROSA, 2015). Ao referir-se à
formação do leitor, Zilberman (2003, p. 30) diz que a legitimidade do uso da
literatura na sala de aula vem tanto “da relação que estabelece com seu leitor,
convertendo-o num ser crítico perante a sua circunstância” quanto “do papel
transformador que pode exercer dentro do ensino, trazendo-o para a realidade do
estudante”. Outra das ideias compartilhadas é que a oportunidade de entrar em
contato com impressos que a escola e a sociedade valorizam deve acontecer
através do professor. Assim, a alfabetização literária requer a atitude de um
mediador – uma pessoa que "estende pontes entre os livros e os
leitores" (REYES, 2014). Para Paulino (2014, p. 177) há, quando da
leitura, um “pacto entre leitor e texto” que “inclui, necessariamente, a
dimensão imaginária, em que se destaca a linguagem como foco de atenção, pois
através dela se inventam outros mundos, em que nascem seres diversos, com suas
ações, pensamentos, emoções”. A pesquisadora argumenta que a leitura literária
constitui “uma prática capaz de questionar o mundo já organizado, propondo
outras direções de vida e de convivência cultural”. Ao selecionar “livros que
fascinam”, os mediadores transformam pessoas em leitores. Leitores de imagens,
leitores de textos, leitores de sentidos, leitores de vidas. Acredito que, ao
investigar o impacto da sala de leitura poderei contribuir para a avaliação e a
continuidade de suas proposições. 2. METODOLOGIA Para descrever e avaliar o
impacto da Sala de Leitura Erico Verissimo entre seus usuários optei por
procedimentos de pesquisa inseridos na abordagem qualitativa – que busca
averiguar um fenômeno através de detalhada descrição, do ponto de vista dos
sujeitos envolvidos, seus discursos e significados transmitidos. De acordo com
Augusto, Souza, Dellagnelo e Cario (2013), a pesquisa qualitativa atribui
importância fundamental a compreensão de atitudes, motivações, expectativas e
valores expressos nos depoimentos dos atores sociais e preza pela descrição detalhada
dos fenômenos. Ela precisa ter credibilidade, transferibilidade,
confiabilidade, explicitação cuidadosa da metodologia e relevância. Os
procedimentos para a realização da investigação foram: a) Leitura de documentos
(banners, convites, notícias na imprensa, publicações em blogs) referentes à
Sala de Leitura Erico Verissimo; b) Levantamento das micropolíticas
desencadeadas por ela desde sua fundação (17/12/2015); c) Escolha de uma
micropolítica proposta e desenvolvida como objeto de estudo; d) descrição do
livro digital “Receitas inventadas: dos clássicos ao Mercado Público”; e)
Escrita das conclusões. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A proposição da Sala de
leitura Erico Veríssimo surgiu, de acordo com a Coordenadora, com o intuito de
abrigar e disponibilizar acervos aos estudantes da Licenciatura em Pedagogia.
Adquiridos com recursos públicos e doações, a sala abriga, atualmente, seis
acervos: Livros sobre a Literatura e seu ensino, Obras de Literatura Universal,
Obras de Literatura Infanto-Juvenil, Obras de Literatura para crianças, uma
Gibiteca e uma Coleção de 30 Banners com a história do GELL e da Sala de
Leitura e suas políticas. Entre os resultados, observei que a sala foi
noticiada na página da UFPel e, posteriormente, replicada em blogs e páginas
online, o que conferiu visibilidade e credibilidade à proposição. Ao realizar o
levantamento das micropolíticas desencadeadas pela Sala desde sua fundação
encontrei dez proposições: 1) Inauguração; 2) Abertura da sala aos usuários; 3)
Campanha Livros para Mariana; 4) Pesquisa Alfabetização Literária de Bebês:
estudo de caso; 5) Projeto de Extensão Leitura Literária na Escola; 6) 1º, 2º e
3º Curso Mediadores em Leitura Literária; 7) 1º Curso Marcadores de Livros:
Curso de Confecção; 8) Visita Técnica (11/07/2016) 9) Semana do Ler na BPP; 10)
Programa Leitura para Meninas. Para descrever com mais acuidade uma das
proposições, escolhi como o 2º Curso “Mediadores em Leitura Literária”,
ocorrido em janeiro de 2016. Desenvolvido em cinco encontros, teve como foco os
Contos Maravilhosos ou Contos de Encantamento. Critérios e procedimentos na
escolha de obras literárias para a infância, sarau literário em um espaço
público e a escrita e organização de um livro digital (ROSA, 2016) integraram o
programa, frequentado por 38 pessoas. Como leitura obrigatória, a obra A
cozinha encantada dos contos de fada, de Katia Canton. A partir dela foi
desenvolvida a elaboração de contos para integrar a obra Receitas Inventadas: dos clássicos ao Mercado Público. Disponibilizado em http://crisalfabetoaparte.blogspot.com.br/2016/03/receitas-inventadas-dos-classicosao.html, o livro contém sumário com dezesseis contos inéditos e ficha catalográfica. Na
apresentação da obra, Rosa (2016) escreveu: Para aprimorar saberes, além de ler
parte das obras dos autores clássicos, estudamos critérios para a escolha de
obras a serem apresentadas aos pequenos na escola, o conceito de Letramento
Literário e modos de realizar a Leitura Literária. Mas mais do que isso,
inventamos. Através de produções escritas, criamos uma receita para um dos
personagens que admiramos. É disso que se constitui esse livreto. 4. CONCLUSÕES
Observando a quantidade, variedade e qualidade das micropolíticas propostas
pela Sala de Leitura Erico Verissimo a usuários pude concluir que ela realmente
é uma estrutura acadêmica que integra ensino, pesquisa e extensão. Diante da
centralidade das proposições, pude concluir que seu foco, conforme anunciado em
documentos, banners, na mídia e nas palavras da coordenadora, é a formação do
leitor literário, especialmente pelo público que agrega, acervos que
disponibiliza e práticas de leitura que promove. Ao conhecer com mais
expressividade uma das políticas desenvolvidas e tendo como documento-prova o
livro digital produzido pelos participantes, pude concluir que a proposição de
formar leitores literários foi o maior objetivo alcançado. Quanto ao produto
livro digital pude compreender que é um formato que agrega pessoas em torno de
uma ideia, produz um resultado imediato que pode ser partilhado, uma vez que
está disponível online, e registra um momento.
REFERÊNCIAS:
AUGUSTO, Cleiciele Albuquerque; SOUZA,
José Paulo de; DELLAGNELO, Eloise Livramento e CARIO, Silvio Ferraz. Pesquisa
Qualitativa: rigor metodológico no tratamento da teoria dos custos de transação
em artigos apresentados nos congressos da Sober (2007-2011). Revista de Economia e Sociologia Rural.
2013. Vol.51, Nº.4, pp.745-764. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-20032013000400007
PAULINO, Graça. Leitura Literária. In:
Glossário CEALE: termos de
alfabetização, leitura e escrita para educadores. Belo Horizonte: UFMG/Faculdade
de Educação, 2014.
REYES, Yolanda. Mediadores de Leitura.
In: Glossário CEALE: termos de alfabetização, leitura e escrita para
educadores. Belo Horizonte: UFMG/Faculdade de Educação, 2014.
ROSA, Cristina. Alfabetização
Literária. Pelotas: Blog Alfabeto à Parte. Pelotas, 2015. Disponível em: http://crisalfabetoaparte.blogspot.com.br/2015/06/alfabetizacao-literaria-o-que-e.html
ROSA, Cristina (org.). Receitas
Inventadas: dos clássicos ao mercado público. Blog Alfabeto à Parte. Pelotas,
2016. Disponível em: http://crisalfabetoaparte.blogspot.com.br/2016/03/receitas-inventadas-dos-classicosao.html
ZILBERMAN, Regina. A literatura
infantil na escola. São Paulo: Global, 2003.
3. FORMAÇÃO DOCENTE: OS SABERES DA LITERATURA INFANTIL NO CURSO DE PEDAGOGIA DA FACULDADE DE EDUCAÇÃO – UFPEL, DE ALESSANDRA STEILMAN
RESUMO:
4. PERFIL LEITOR DO ESTUDANTE DE PEDAGOGIA: COMO DESCOBRIR? De IEDA MARIA KURTZ DE AZEVEDO
3. FORMAÇÃO DOCENTE: OS SABERES DA LITERATURA INFANTIL NO CURSO DE PEDAGOGIA DA FACULDADE DE EDUCAÇÃO – UFPEL, DE ALESSANDRA STEILMAN
RESUMO:
4. PERFIL LEITOR DO ESTUDANTE DE PEDAGOGIA: COMO DESCOBRIR? De IEDA MARIA KURTZ DE AZEVEDO
RESUMO: No trabalho
evidencio a metodologia empregada na elaboração, coleta e análise dos primeiros
dados da pesquisa intitulada Perfil leitor dos estudantes da Licenciatura em
Pedagogia da Universidade Federal de Pelotas. Empreendida pelo PET Educação
desde o primeiro semestre de 2017, se estenderá até 2020, quando os
ingressantes 2017/1 concluirão a graduação. Tem como objetivo conhecer hábitos
literários de todos os estudantes e compreender a influência do ensino superior
– as indicações dos professores formadores – nas escolhas do que e quando ler. O
culto à cultura do escrito, quando
vinculado ao exercício profissional – no caso do mediador de leitura, o
professor – extrapola escolhas pessoais, pois envolve um saber relevante
publicamente, representado pelo “saber ler”, ter “cultura letrada”. Nos anos da
escolarização inicial, as informações a respeito da cultura escrita – lugar
simbólico e material que o escrito ocupa em/para determinado grupo social,
comunidade ou sociedade, de acordo com Galvão (2014, p. 88) – são postas à
disposição via currículos escolares e práticas letradas. Assim, integram os
saberes docentes o gostar de ler e escrever, ter critérios na escolha do que ler
e conhecer metodologias de ensino para inserir crianças na cultura do escrito. Os principais argumentos que justificam a
investigação são: a) o ensino da
leitura nos anos iniciais da escolarização ser objeto de estudo da Licenciatura
em Pedagogia; b) a existência de bibliotecas
nas escolas e de programas governamentais de incentivo a prática literária como
o PNBE e o PNLD; c) a existência de estudos
que evidenciam a importância da iniciação à leitura desde tenra infância como
um direito das crianças e um dever da escola. 2. METODOLOGIA: Para
descrever a metodologia empregada na elaboração, coleta e análise de dados optou-se
por procedimentos de pesquisa inseridos na abordagem qualitativa. De acordo com
Augusto, Souza, Dellagnelo e Cario (2013), a
pesquisa qualitativa precisa ter credibilidade, transferibilidade,
confiabilidade, explicitação cuidadosa da metodologia e relevância. Entre os procedimentos se encontram: a) elaboração do questionário; b) formação
de uma equipe para a análise das questões; c) convite aos estudantes a
resposta anônimas, em sala de aula, nas suas turmas, durante o primeiro
semestre de 2017; d) reuniões semanais para análise de dados; e)
elaboração de planilha para armazenar os dados; f) compilação e
avaliação dos resultados; g) escrita
de resumos e/ou artigos científicos. As questões do questionário – com opções
de múltipla escolha, de valoração e, em alguns casos, de complementação por
escrito – foram: 1) Gostas de ler? 2) O que costumas ler? 3) Marque de 1 (menos gosto) a 10 (mais
gosto) de ler; 4) Qual o período do
dia que mais consegues ler? 5) Qual
teu livro predileto? 6) Lembra
quando conheceu teu primeiro livro? 7)
Desde tua chegada na universidade alguém já te indicou algum livro? 8) Qual? 9) Tu leste? 10) Na
universidade alguém leu um livro ou um fragmento dele para ti? 11) Lembras o nome do autor e/ou o
título?; 12) Leitura Literária para
ti é; 13) Eu leio para, a
leitura serve para?; 14) Estás lendo
algum livro atualmente? 15) Quantas
páginas ele tem? 16) O autor é brasileiro?
17) É um autor gaúcho? 18) Tu tens algum gênero literário
predileto? 19) Gostas de um autor em
especial? 20) Lembras do nome
desse autor? 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Para a coleta e o armazenamento
de dados, cada semestre investigado foi considerado individualmente. Os questionários
foram separados a partir da resposta à primeira pergunta: o primeiro grupo foi
composto por aqueles que declararam gostar de ler (sim, muito, adoro e não
gostava, agora adoro) e, os estudantes que marcaram as opções ‘mais ou menos’,
‘de vez em quando’, ‘não’, ‘odeio’, e ‘na infância, agora não mais’, foram
agrupados entre os que não gostam de ler.
Formandos foram considerados a partir da área na qual fizeram seu estágio docente
(Educação Infantil ou Anos Iniciais) e, dentro desse subgrupo, também
organizados em ‘gosto’ e ‘não gosto’. A fim de armazenar os dados coletados com
segurança, utilizamos o editor de planilhas Microsoft Office Excel. Inseridos em tabelas organizadas por semestre contendo as
questões e suas respectivas respostas, o banco de dados possibilita análise
total das respostas, de determinados grupos, observações parciais e recortes
temáticos. Tanto a variedade de informações como o acesso aos dados é um dos
resultados alcançados. Entre os resultados da investigação, um primeiro convite
a publicizar as descobertas, o que ocorrerá em 10/2017 nas dependências da
Faculdade de Educação. Recebido da Coordenação da Licenciatura em Pedagogia para
evidenciar à comunidade acadêmica o perfil leitor que vem se desenhando,
ocasionou um tratamento diferenciado dos dados: o grupo de estudantes que
respondeu foi tomado na totalidade, ocasionando interessantes relações entre
respostas. Quanto à questão três – cuja proposição era classificar de um (menos
gosto) a dez (mais gosto), a prática de leitura em diferenciados portadores de
texto – evidenciou-se dificuldade de resposta. Nela, as opções para escolha do
estudante foram: ( ) gibis; ( )
jornal; ( ) livros; ( ) textos da faculdade; ( ) revistas; ( ) panfletos, encartes ou catálogos; ( ) face book; ( ) obituários;
( ) posts na internet; ( ) Celular. Como houve incompreensão na
resolução dessa questão por parte de um grupo de estudantes, foi necessário
desenvolver um método específico de análise para a questão. Para ser fidedigno
– “ser fiel à verdade, ser leal, exato, verídico” (ROSA, 2017) – e manter o
“rigor no trabalho de investigação” (VAN ZANTEN, 2004), ao registrar as
opiniões expressas na questão, elaborou-se uma tabela com todas as opções
mencionadas e todas as possibilidades de classificação. Nela, os dados foram
inseridos à medida que apareciam nos questionários e, assim, conseguimos
extrair dos documentos uma escala de valor entre o menos e o mais gosto,
objetivo da questão três. CONCLUSÕES: Ao buscar evidenciar a metodologia
empregada na elaboração, coleta e análise de dados que deram início à pesquisa,
percebeu-se que ela é repleta de
possibilidades de comunicação e, também, de novas buscas a serem desencadeadas.
Questões a respeito do gosto, frequência e gênero mais lido e a influência
do ensino superior através das indicações dos professores formadores aos
estudantes indicaram que o questionário conseguiu capturar e evidenciar
práticas e modos de ler dos estudantes. Acredita-se que, desse modo, abrem-se
possibilidades de qualificação das práticas docentes. No aspecto pessoal –
aprendiz de pesquisadora que sou – reconheço a importância do trabalho em grupo.
Outro aprendizado foi a necessidade e urgência da organização dos resultados contidos
nos questionários. Ao observá-los em tabelas, se evidencia um corpo de
informações precioso e plural, passível de muitos olhares. Considero por fim, fundamental
a continuidade da pesquisa, a fim de conhecer práticas e hábitos de
leitura dos estudantes, uma vez que esse saber integra os saberes docentes.
Penso que, a partir dos resultados obtidos, há possibilidade de
mobilização dos professores, com a finalidade de intervir e incentivar a
leitura.
REFERÊNCIAS:
AUGUSTO, C. SOUZA, J. DELLAGNELO, H. e CARIO, S. Pesquisa Qualitativa:
rigor metodológico no tratamento da teoria dos custos de transação em artigos
apresentados nos congressos da Sober (2007-2011). In: Revista de Economia e
Sociologia Rural. vol. 51 nº.4. Brasília Oct./Dec. 2013. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-20032013000400007>.
Acesso em: 10/08/2017
CULTURA ESCRITA. In: GALVÃO, Ana Maria de Oliveira. Glossário Ceale: Termos de alfabetização, leitura e escrita para
educadores. Belo Horizonte: UFMG/Faculdade de Educação. Disponível em:
<http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/mediadores-de-leitura>.
Acesso em: 18.09.2017.
ROSA, Cristina Maria. Fidedignidade: uma questão de
pesquisa. Alfabeto à Parte. 08 de
Agosto de 2017. Disponível em: <http://crisalfabetoaparte.blogspot.com.br/2017/08/fidedignidade-uma-questao-de-pesquisa.html> Acesso em: 17.09.2017.
ROSA, Cristina. Perfil leitor do estudante de Pedagogia
FaE/UFPel 2017-2019. Alfabeto à Parte.
24 de Maio de 2017. Disponível em <http://peteducacao.blogspot.com.br/2017/05/perfil-leitor-do-estudante-de-pedagogia.html> Acesso em: 11.09.2017.
VAN ZANTEN, Agnès. Pesquisa
qualitativa em educação: pertinência, validez e generalização. PERSPECTIVA. Florianópolis, v. 22, n.
01, p. 25-45, jan./jun. 2004. Disponível em <http://josenorberto.com.br/03_artigo_zanten.pdf> Acesso em: 17.08.2017.
5. GÊNEROS LITERÁRIOS: A LITERATURA DO PNAIC, de ÉRICA MACHADO LEOPOLDO.
5. GÊNEROS LITERÁRIOS: A LITERATURA DO PNAIC, de ÉRICA MACHADO LEOPOLDO.
RESUMO: Ao lançar o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa – PNAIC, uma
política para enfrentar o não sucesso no campo da alfabetização entre as crianças
brasileiras – o governo federal criou um programa para “mobilizar esforços e
recursos na valorização dos professores e das escolas”, apoiar o trabalho pedagógico
através da oferta de “materiais didáticos de qualidade para todas as crianças
do ciclo de alfabetização”. O intuito era “alfabetizar todas as crianças até oito
anos de idade”. A pesquisa aqui expressa surgiu do contato com os livros que,
integrados ao PNAIC, chegaram à escola onde trabalho. Intenciono analisar a
qualidade textual, temática e gráfica de um grupo de livros possuidores do selo
“Para o uso nas salas de aula do 1º ao 3º ano” enfeixados em caixas para o
PNAIC. Anunciada em junho de 2013 como um “reforço” na “principal etapa da
aprendizagem” uma das primeiras remessas de obras literárias para as salas de
aula foi de 75 títulos organizados em três acervos. Pensado para dar às
crianças a oportunidade de “manusear, explorar, com ou sem a ajuda do professor
o mundo dos livros” e oportunizar um contato com a “linguagem, a imaginação e a
fantasia” peculiares desse universo da ficção (BRASIL, 2012), o acervo foi
composto com obras aprovados no Programa Nacional Biblioteca da Escolar - PNBE
2012. Considerada “uma atividade mecânica de decodificar palavras, ou de extrair
sentidos que supostamente estariam prontos no texto”, de acordo com Bicalho
(2014, p.167) em tempo idos acreditava-se que, para se tornar um leitor competente,
“bastava aprender a ler nos anos iniciais de escolaridade e depois o aluno já
saberia ler qualquer texto”. Atividade complexa, em que o leitor “produz sentidos
a partir das relações que estabelece entre as informações do texto e seus conhecimentos”,
a leitura “não é apenas decodificação” e prescinde de compreensão que tornará o
leitor “capaz de apreciar”, “se posicionar” e “realizar a crítica ao que é dito”.
Atividade cognitiva e social, a leitura “pressupõe que, quando as pessoas leem,
estão executando uma série de operações mentais” além de utilizarem “estratégias
que as ajudam a ler com mais eficiência”. Para Paulino (2014, p. 177) há,
quando da leitura, um “pacto entre leitor e texto” que “inclui, necessariamente,
a dimensão imaginária, em que se destaca a linguagem como foco de atenção, pois
através dela se inventam outros mundos, em
que nascem seres
diversos, com suas ações, pensamentos, emoções”. A pesquisadora argumenta que a
leitura literária constitui “uma prática capaz de questionar o mundo já
organizado, propondo outras direções de vida e de convivência cultural” e
conclui afirmando que leitura alguma “sobrevive bem como prática cultural,
quando censurada ou tolhida por autoridades do Estado, da família ou da
escola”. Para Rosa (2016), “a matéria-prima do poeta é a emoção e suas ferramentas
são as palavras. Como um escultor que extrai de um bloco a forma sonhada, o
poeta pode transgredir as normas: da gramática, do léxico”, ofertando assim,
uma variedade de possibilidades de uso de nossa língua, especialmente quando se
trata da escrita literária. METODOLOGIA: Na pesquisa objetivo observar a variedade/qualidade textual, temática e gráfica
do primeiro acervo destinado ao PNAIC em 2013. Nesse recorte, apresento 75
obras – 100% das que integram as caixas em minha escola – de acordo com o pertencimento
aos gêneros narrativo, poético ou dramático. Os procedimentos de pesquisa
foram: a) leitura das obras; b) estabelecimento de categorias de análise; c) releitura
e categorização; d) organização de um quadro com as características estudadas e
acréscimos de outras para um estudo mais aprofundado posteriormente; e) escrita
das conclusões. RESULTADOS E DISCUSSÃO: De acordo com PAIVA (2016), as primeiras obras que compuseram os acervos
para o PNAIC 2013 foram selecionadas entre as que integraram o Programa
Nacional Biblioteca da Escola Educação Infantil/Anos Iniciais do Ensino Fundamental
em 2012. Bastante diversificadas do ponto de vista temático, de gênero e
formato, foram inscritas via edital e selecionadas para integrar bibliotecas de
escolas públicas em todo o país. Observando o edital verifica-se que “são três
as etapas da seleção: a triagem, a avaliação pedagógica e a compra das obras”,
de acordo com PAIVA e COSSON (2014). Ao iniciar a análise das obras percebi que
há variedade de gêneros e, em alguns casos, gêneros híbridos (ROSA, 2016).
Observando a totalidade dos títulos – 75 livros para crianças que integram o
acervo PNAIC 2013 - encontrei quarenta e nove pertencentes ao Gênero Narrativo,
equivalendo a 65,33% da amostra; vinte e um, ao Gênero Poético (28%) e nenhum
representante do Gênero Dramático. Encontrei ainda cinco livros de Imagem
(6,67%). CONCLUSÕES: As conclusões iniciais indicam que parte significativa do acervo pertence
à linguagem narrativa – textos em prosa ou pequenas histórias, às vezes
narrativas poéticas e/ou reflexivas. A outra parte é composta por textos em
Gênero Poético – poema, quadra, parlenda, cantiga, trava-língua, adivinha – o
que é interessante, uma vez que a leitura de poesia é bastante acessível a
crianças, professores e mediadores. Outra das conclusões é que há inadequação
quanto à classificação dos gêneros adotada pelo MEC, que mistura elementos de
ordem diversa em categorizações superpostas, isto é, usa várias classificações
de gêneros e subgêneros não mostrando que uma está dentro da outra. Percebemos
a ausência do Gênero Dramático, o que é de lamentar, uma vez que é nos anos iniciais
que as crianças fazem suas primeiras apresentações teatrais. Sem a presença de
textos desse gênero na escola, elas diminuem suas capacidades de letramento. Por
fim, percebemos obras em que não há texto, apenas imagens, o que diverge do
conceito de "obra literária". No entanto, essa “inadequação”
incentiva-me a um olhar criterioso no tratamento da finalização dos demais
dados.
REFERÊNCIAS:
BICALHO, D. Leitura. Glossário CEALE. Belo
Horizonte: UFMG/CEALE, 2014.
BRASIL. MEC.
Secretaria de Educação Básica. Acervos complementares:
alfabetização
e letramento nas diferentes áreas do conhecimento / Ministério da
Educação,
Secretaria de Educação Básica. -- Brasília: A Secretaria, 2012. Acessado em 29
mai. 2016. Online. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/
PAIVA, A. Critérios de escolha de
obras para o PNAIC. Aparecida
Paiva: inédito, Pelotas, 2016. Entrevista online concedida a Cristina Maria
Rosa em 20/07/2016.
PAIVA, A. e
COSSON, R. O PNBE, a literatura e o endereçamento escolar. In: Remate de Males. 34.2 Campinas-SP,
(34.2): pp. 477- 499, Jul./Dez. 2014.
PAULINO, G. Leitura literária. Glossário CEALE. Belo
Horizonte: UFMG/CEALE, 2014.
ROSA, C. O que é poesia? Blog Alfabeto à Parte.
Acessado em 11 jul. 2016. Online Disponível em: http://crisalfabetoaparte.blogspot.com.br/2016/07/o-que-epoesia.
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Programa Nacional do
Livro Didático – PNLD. PNLD ALFABETIZAÇÃO NA IDADE CERTA 2013 - Valores de aquisição.
http://www.fnde.gov.br/arquivos/category/35-dados-estatisticos? download=8312:pnld-alfabetizacao-da-idade-certa-2013-valores-de-aquisicao
6. UMA ANÁLISE DO PERFIL LEITOR DOS ESTUDANTES DO CURSO DE PEDAGOGIA DA UFPEL, de PAULA PENTEADO DE DAVID
6. UMA ANÁLISE DO PERFIL LEITOR DOS ESTUDANTES DO CURSO DE PEDAGOGIA DA UFPEL, de PAULA PENTEADO DE DAVID
RESUMO: No presente trabalho buscamos apresentar os resultados da
investigação que tem como objetivo central conhecer e descrever o perfil leitor
dos estudantes do curso de Licenciatura em Pedagogia da FaE/UFPEL. A intenção
ao considerar esse grupo de estudantes – o corpus de análise – se deu a
fim de perceber a aprendizagem e a permanência de um autor/tema entre os
alunos. Sabe-se que há o incentivo à leitura dentro da Universidade, mas, a
partir de um questionário previamente elaborado, buscou-se verificar como esse
estímulo é recebido por parte dos estudantes. Além disso, durante todo o
processo de formação no ensino superior, alguns livros ou, até mesmo, capítulos
de livros são indicados pelos professores e, desse modo, a pesquisa pode
revelar como o aluno circula entre essas leituras: se o faz, qual seu
repertório como leitor. Acredita-se que uma pesquisa como a que é ora proposta
é de extrema importância, pois visa conhecer o repertório dos alunos do curso de
Pedagogia, tendo em vista que, supostamente, são eles que serão os
incentivadores da leitura, muito em breve, quando exercerem a profissão. METODOLOGIA: A metodologia deste
trabalho apresentou as seguintes etapas: primeiramente, os dados foram coletados
através de um questionário. Esse objeto de estudo, foi respondido de forma
individual e anonimamente por todos os estudantes da Licenciatura em Pedagogia,
desde os ingressantes (1º semestre), até os alunos do nono semestre, os
concluintes. De modo geral, trata-se de uma pesquisa de cunho qualitativo, a
qual visa definir preferências como: autores, gêneros e títulos, bem como os
hábitos literários dos participantes: se gosta de ler, quando lê, quais as
motivações e possíveis influências do ensino superior nas escolhas do que e
quando ler, quais seus autores prediletos, enfim, um questionário que abrange
vinte questões que são: "Gostas de ler?", "O que costumas ler?”,
“Marque de 1 até 10, sendo 1 para menos gosto e 10 para mais gosto de ler.”,
“Qual o período do dia em que mais consegues ler?”, “Qual teu livro
predileto?”, “Lembra quando conheceu teu primeiro livro?”, “Desde tua chegada
na Universidade, alguém já te indicou um livro?”, “Qual?”, “Tu leste o livro
indicado?”, “Na Universidade alguém leu um livro (ou uma parte, um fragmento
dele) para ti?”, “Tu lembras o nome do autor e/ou o título?”, “Leitura
literária, para ti, é:”, “Eu leio para/a leitura serve para...”, “Estás lendo
algum livro atualmente?”, “Quantas páginas ele tem?”, “O autor é brasileiro?”,
“É um autor gaúcho?”, “Tu tens algum gênero literário predileto?”, “Tu gostas
de um autor em especial?” e “Lembras do nome desse autor?”. As questões
supracitadas foram dividas entre três categorias de respostas como, por
exemplo: as que deveriam ser enumeradas de acordo com as preferências de cada
estudante, as de dissertar e as que o alunos deveriam marcar a alternativa que
melhor o representasse. A seguir, trago como exemplo uma questão do
questionário e uma série de alternativas que poderiam ser assinaladas pelo
estudante, entre elas: “Não deu tempo”, “Estou lendo”, “Já terminei”, “É muito
longo, vou deixar para as férias”. Podemos perceber que se trata de questões
que apresentam uma linguagem informal a fim de que o estudante se sentisse
acolhido e à vontade em responder tal objeto de estudo. RESULTADOS E
DISCUSSÃO: Inicialmente, como o presente estudo trata da relação entre
alunos de um curso de graduação e o seu contato com os livros, é imprescindível
a apresentação do conceito de compreensão leitora apresentado por Kleiman
(2013): "Compreensão leitora é a faculdade – no sentido de capacidade
cognitiva complexa – de entender os significados dos textos escritos. É também
o processo por meio do qual são postas em funcionamento as estratégias cognitivas
e habilidades necessárias para compreender, que permitem que o leitor extraia e
construa significados do texto, simultaneamente, para fazer sentido da língua
escrita”. De acordo com a autora, o ato de ler está centrado na capacidade
cognitiva de cada ser humano que, com o objetivo de compreender um dado texto,
lança mão de todas suas habilidades a fim de contemplar as nuances e os
caminhos que percorre ao ler. Somado a isso, nesse processo, estão envolvidos
um texto – visto como um objeto linguístico, bem como cultural que apresenta
uma mensagem; um leitor que irá manusear tal objeto, explorando-o de acordo com
suas experiências e 'bagagem intelectual', imerso a uma situação comunicativa
entre leitor e autor, via texto escrito. Assim, com o diálogo entre os três
elementos supracitados, é que o leitor será capaz de construir seu entendimento
de acordo com o que foi lido. Algumas questões surgirão nesse processo de
leitura referente ao texto lido como, por exemplo: o leitor lembrará algumas
pontualidades, percebendo ou deixando de perceber nuances presente no texto,
fará algumas inferências, utilizará seus conhecimentos prévios, associando ao
que leu, levantará hipóteses, bem como analisará criticamente; enfim, uma troca
de experiências e vivências tecidas entre o leitor e o texto escrito. Diante do
que foi apresentado, é inegável a importância do ler em toda e qualquer idade.
Nessa pesquisa, isso se torna ainda mais evidente, pois o público-alvo com o
qual se está trabalhando é de nível superior, futuros professores, que em suas
formações tiveram acesso a livros, a leituras, seja ela qual for, desde o
artigo científico até a propaganda de um jornal. O professor, no seu papel de
formador, precisa estar engajado na prática do incentivo ao hábito de leitura,
formando alunos críticos e capazes de transitar em diferentes gêneros,
assuntos. O aluno precisa ter consciência de que seu processo de formação,
também depende dele, além de compreender a necessidade de buscar conhecimentos
que ultrapassem aqueles oferecidos na Universidade. Entre os primeiros
resultados evidenciamos um baixo índice de alunos que efetivamente leem, seja
um livro ou, até mesmo, o capítulo de um livro indicado pelo professor. São
dados preocupantes que comprovamos a necessidade de reconhecer que precisamos
de práticas mais ativas no que tange ao acesso e incentivo à leitura. Somado, é
claro, ao papel individual do estudante que é o de estar comprometido com sua
formação, bem como no processo de letramento, seja ele científico ou literário.
CONCLUSÕES: A presente pesquisa,
ainda em processo de análise de dados, evidencia os seguintes resultados:
grande parte dos alunos diz ter um livro predileto, mas quando questionados
sobre a autoria desse livro não recordaram ou não responderam. O autor mais
citado foi Paulo Freire, seguido de Augusto Cury. Autores brasileiros estão
entre os mais acessados, porém estes não são gaúchos. Indagados sobre o
conceito de leitura literária, a maioria respondeu ser um tipo de leitura. Em
relação a algum docente ter feito a leitura de um livro ou parte dele na
faculdade, responderam que sim, mas quando questionados qual livro, não
souberam responder. Além disso, referente a questão: " O que costumas
ler?" a maioria dos alunos responderam que amam ler, tendo como a segunda
escolha de leitura o facebook. Outro
ponto importante a ser salientado é que os estudantes não têm autores
prediletos, pois mencionaram livros como o pequeno príncipe, bíblia e
espiritismo como referência literária. Somado a isso, a quantidade de obras
citadas não passa de 80 em um curso com 400 alunos. De modo geral, esses dados
nos permitem (re)pensar o que vem sendo produzido dentro de um curso como a
Pedagogia, que visa formar futuros professores: A universidade está formando
leitores? "O aluno busca referências para além das que têm acesso dentro
da universidade?", "A formação individual de cada aluno contempla a
demanda intelectual de sala de aula? Aqui, me reporto aos diferentes alunos: os
que leem e os que não leem. Assim, estaríamos nós preparados para recebê-los?
"Iremos incentivá-los ou não à prática de leitura e, como incentivar se
não somos leitores?". Portanto, são perguntas como essas que nos fazem
(re)pensar o papel do aluno no seu processo de formação.
REFERÊNCIAS:
KLEIMAN, A. B. Texto
e leitor: aspectos cognitivos da leitura. Campinas, SP: Pontes Editores,
2013.
7.
CLUBES DE COMPUTAÇÃO: A
IMPORTÂNCIA DA PROGRAMAÇÃO NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM, de MAIARA KATH KRINGEL.
RESUMO:
RESUMO:
8. EXPERIÊNCIA EM LEITURA LITERÁRIA NA BIBLIOTECA ESCOLAR, de RAFAELA CANEZ CAMARGO
RESUMO: A literatura é fundamental para a
formação do sujeito, e desde seu início, buscam-se maneiras de levá-la aos
alunos. De acordo com Lígia Cademartori (2014): “É desejável que o livro
ingresse na sala, nos primeiros anos, como um brinquedo e uma aventura com as palavras,
que desperte a curiosidade dos pequenos e os estimule a pensar. Que as crianças
mergulhem no livro e dele possam emergir como quem encontrou inesperadas
maravilhas no fundo do lago. Ou ao cair na toca do coelho”. Porém, nos dias
atuais, com a quantidade de informações que desde muito cedo nos é
proporcionado conhecer através da internet e demais tecnologias que capturam e prendem
a nossa atenção e interesse, ensinar a gostar de ler, gostar de livros e
literatura é um grande desafio para os professores e demais atuantes da área.
Na busca pelo ensino do gostar de ler, vem sendo disseminada a leitura literária
que tem como objetivo primordial o prazer de ouvir/ler. Sobre o tema, Graça
Paulino (2014) afirma que: “A leitura se diz literária quando a ação do leitor
constitui predominantemente uma prática cultural de natureza artística,
estabelecendo com o texto lido uma interação prazerosa. O gosto da leitura
acompanhando seu desenvolvimento, sem que outros objetivos vivenciados como
mais importantes, embora possam também existir”. Para incentivar esse tipo de
leitura, não basta simplesmente aconselhar a ler. É necessário despertar o
desejo e o gosto por ler no aluno. E, para isso, o professor deve tornar-se um
mediador de leitura. De acordo com Yolanda Reyes (2014), “Os mediadores de
leitura são aquelas pessoas que estendem pontes entre os livros e os leitores,
ou seja, que criam condições para fazer com que seja possível que um livro e m
leitor se encontrem.” Para exercer esse papel, o professor precisa ser um
leitor: conhecer as obras, autores atuais ou clássicos e, a partir do contato e
conhecimento de seu grupo de “leitores aprendizes”, escolher quais obras levar ao
seu encontro. Desde 2010, está em vigor no Brasil a Lei nº 12.224, de 24 de
maio de 2010 que dispõe sobre a universalização das bibliotecas nas
instituições de ensino do País. Nela, apenas quatro artigos: o primeiro
indicando sua obrigatoriedade; o segundo, seu conceito e a obrigatoriedade de um
acervo com no mínimo, um título para cada aluno matriculado; o terceiro
indicando o dever da universalização das bibliotecas escolares
no prazo máximo de dez anos; o quarto com a data de sua
publicação. No entanto, a comunidade escolar, em geral, não tem usufruído
desse espaço em sua totalidade. Ela tem desempenhado a função de depósito de
livros ou materiais e, algumas vezes, de alunos, ao ser local de “castigo” por
mau comportamento. No entanto, ela deveria ser um “ambiente pedagógico para informação,
letramento e fruição” de acordo com Neves e Ramos (2010). No ano de 2016 o
Grupo de Estudos em Leitura Literária – GELL – da Faculdade de Educação da UFPel,
foi convidado a organizar a biblioteca de uma escola estadual localizada na
periferia de Pelotas. Chegando lá, houve a necessidade de restaurar o espaço, a
fim de torná-lo adequado a seu objetivo: “desenvolver e manter nas crianças o
hábito e o prazer da leitura e da aprendizagem”, bem como criar vínculos que
possibilitem usufruir “da biblioteca ao longo da vida” (UNESCO, 1999). Para
chegar a este fim, redecoramos o lugar, organizando-o em setores e buscando
torná-lo um lugar onde fosse agradável habitar, um local com ambiência, que é “conforto,
adequação, funcionalidade, beleza” (Drumond et all, 2000, p 9). Percebemos,
com essas ações, que “tornar os ambientes de leitura mais atrativos e
acolhedores é uma grande estratégia para cativar novos leitores” (Rosa et all, 2017), logo, tornando a
biblioteca um espaço agradável e que proporciona curiosidade, ela faz parte do
processo de mediação à leitura. Tendo esse objetivo em vista, realizamos o restauro do
ambiente e, no dia 25 de novembro de 2016, a biblioteca foi inaugurada. A sala
de 100m² tornou-se, com o reposicionamento dos móveis, uma sala de estudos para
estudantes e professores possuindo ainda, uma recepção, um mini auditório e um espaço
infantil. A ideia desta organização
é a presença de crianças e adolescentes na biblioteca, individualmente, em
grupos ou acompanhados e durante o recreio ou no turno inverso ao da
escolarização. Neste ano de 2017, o GELL assumiu o compromisso de realizar, na
biblioteca restaurada, o projeto “Leitura Literária na Escola”. Assim, entre os meses de abril a
outubro, em duplas, nos responsabilizamos por turmas para a leitura. A mim
coube – junto com a colega Cláudia – ler para três turmas de estudantes que
frequentam o 5º ano. Eles possuem entre 10 e 12 anos e são interessados e
curiosos. O projeto ocorre
em escolas da rede pública de Pelotas, nas quais duplas ou trios de licenciandos
em Pedagogia realizam, semanalmente, um momento de leitura literária com uma ou
mais turmas, com o objetivo de proporcionar a aproximação destes discentes com
a literatura. DESENVOLVIMENTO: A
preparação para a leitura para os três 5º anos da escola teve início com a
seleção de textos literários: poesias contidas no livro Ou Isto, Ou Aquilo, de Cecília Meireles e Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Os dois autores – Meireles e Lobato –
foram escolhidos a fim de proporcionar o contato dos discentes com obras
brasileiras. Além delas, ocasionalmente, eram lidas outras histórias e, como
exemplo, cito o conto universal da “Dona Baratinha”, personagem que aparece nas histórias do Sítio do Picapau Amarelo criado por Lobato e Fiz voar meu chapéu, conto de Ana Maria Machado. Por ser longa, a obra de Lobato foi
lida em capítulos e, com esse formato de leitura, a curiosidade em saber a
continuidade da trama auxiliou na conquista da atenção dos alunos. Entre os
procedimentos de leitura escolhemos: a) colocar os alunos em roda no espaço da
biblioteca; b) iniciar o momento com um diálogo; c) realizar a leitura dos
textos, mantendo o diálogo entre elas; d) priorizar a atenção dos discentes. Como cada uma das turmas apresenta reações
diferenciadas, foi necessário ter ‘flexibilidade’ no trato com elas. Uma das características
do projeto é a leitura enfática, teatral, realizada com entonação, expressões
faciais e corporais, de forma a transmitir o que se passa na história.
O espaço da biblioteca é propício à leitura e, o fato da
turma sair da sala de aula tradicional e ir para a biblioteca proporciona uma
experiência diferenciada. Lá, os alunos mostravam-se ‘em casa’, sentindo-se à
vontade. Assim, a biblioteca escolar ambientada, adequada ao deleite e à
escuta, cumpre seu papel quando, por exemplo, é usada por outros professores e
seus estudantes ao mesmo tempo em que estamos realizando as leituras. Por ter sido organizada em nichos,
o uso de uns não impede outros projetos em andamento. No entanto, algumas
dificuldades interferiram no bom andamento do projeto durante o ano de 2017,
entre elas, liberação dos estudantes antes do horário final das aulas devido a
reuniões escolares ou chuva, paralisações do corpo docente e até por falta de
servidores da limpeza. Nem sempre éramos
antecipadamente avisadas do que ocorreria, tornando a ida à escola inútil. Impedidas
de realizar as leituras naquelas ocasiões, o projeto teve pouca periodicidade.
Entre os ouvintes, essas interrupções dificultaram o acompanhamento das tramas,
uma vez que não lembravam do que ocorrera na leitura anterior. Percebemos que
desse modo, sem periodicidade, o vínculo entre mediador e aluno não se
fortalecia. Além disso, o espaço físico da biblioteca não estava sendo bem
cuidado, já que percebíamos que o local não era limpo adequadamente. Houve um
encontro em que a bolsista “passou uma vassoura” no local, a fim de torná-lo
melhor para a mediação de leitura. Ainda
não finalizado – leitura não concluída e falta da despedida dos alunos – devido
à decisão dos professores pela greve do magistério estadual, o projeto aguarda
o retorno às aulas para as conclusões. RESULTADOS: Apesar das dificuldades e pouca
periodicidade, o projeto teve resultados, os quais foram percebidos durante os
encontros e nos relatórios elaborados, ao fim de cada um dos encontros, por mim
e pela colega Cláudia. Entre os ganhos, uma
particularidade no que concerne ao vocabulário dos textos escolhidos para
leitura: em um dos dias, algumas palavras de compreensão não imediata foram
lidas. Incorporadas ao texto original, despertaram a curiosidade nos alunos.
Imediatamente, sugerimos que buscassem tais palavras no dicionário e, sem
relutar, o fizeram como uma brincadeira de caça
ao tesouro. Percebemos que a busca por conhecimento ocasionada a partir da leitura deleite, foi espontânea e sem obrigação.
Em outro
encontro, um menino, que demonstrava estar desinteressado na leitura e
concentrado em fugir do local mesmo que mentalmente, foi instigado por mim e
pela Cláudia a estar mais perto. Apesar de insistir em não realizar essa ação, após alguns argumentos, cedeu
e ficou junto à roda de leitura, com os demais. Esse dia ocorreu depois de
algumas semanas sem leituras, e com isso, foi necessário relembrar os
acontecimentos de Reinações de Narizinho,
de Monteiro Lobato. Ao questionar a turma sobre o que guardavam em sua memória
sobre as histórias lidas anteriormente, o menino aparentemente “desinteressado”
usou da palavra, mencionando detalhes de situações ocorridas nas leituras. Percebemos,
então, que apesar de apresentar uma postura contrária à leitura – cara fechada
e declarações de não agrado – ele havia escutado com atenção o desenrolar dos
acontecimentos na trama do Sítio do
Picapau Amarelo e sabia relatar o ocorrido. AVALIAÇÃO:
Apesar das dificuldades encontradas, o projeto concretizou
seu objetivo: proporcionar aos discentes – estudantes dos quintos anos do
ensino fundamental – nessa escola pública de Pelotas, a aproximação ao mundo
literatura, através de momentos de leitura literária. Um importante ponto que
integra a avaliação é a elaboração do “diário de campo”, uma tarefa acadêmica
organizada pela orientadora e cumprida por nós, estudantes de ensino superior, no
qual detalhes e a memória do ocorrido estão presentes, permitindo a reflexão
sobre a ação de extensão. O impacto da obra de Monteiro Lobato entre os
estudantes, na integralidade, ainda não pode ser descrito, exatamente pela
pouca periodicidade das leituras na escola para os 5º anos. No entanto, posso
afirmar que é viável a leitura, o que indica que a obra desse escritor
brasileiro mantém atualidade e longevidade como característica.
REFERÊNCIAS:
BRASIL. Lei nº 12.224, de 24 de maio de 2010. Dispõe sobre a universalização das
bibliotecas nas instituições de ensino do País. Presidência
da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Brasília,
24 de maio de 2010. Disponível
em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12244.htm>. Consulta em 07/08/2017.
CADEMARTORI, Lígia. Literatura
Infantil. In: Glossário CEALE: termos de alfabetização, leitura e escrita
para educadores. Belo
Horizonte: UFMG/Faculdade de Educação, 2014.
DRUMOND,
V.; SOUZA, R.; GARCIA, A.; SILVA, M.; CAMPOS, P. Análise e reestruturação
de espaço físico em bibliotecas: Estudo de caso da situação funcional e
administrativa da biblioteca da EA/UFMG - proposição de soluções emergenciais. In: Análise e reestruturação de
espaço físico em biblioteca: espaço físico e administrativo. Documento. Belo
Horizonte: EA/UFMG, 1997. 22p. Disponível em <snbu.bvs.br/snbu2000/docs/pt/doc/t110.doc>.
Consulta em: 10/09/2017
IFLA. Manifesto IFLA/UNESCO para biblioteca escolar. Tradução
de Neusa Dias Macedo. São Paulo, 2000. Disponível em <http://archive.ifla.org/VII/s11/pubs/portuguese-brazil.pdf>.
Consulta em
08/09/2017.
NEVES,
N. V.; RAMOS, F. B. O espaço da Biblioteca Escolar: análise das condições de
mediação de leitura. In: Congresso
International de Filosofia e Educação. Eixo Temático: 08 - Educação e
Linguagem. Caxias do Sul: UCS, 2010. Disponível em <https://www.ucs.br/ucs/tplcinfe/eventos/cinfe/programa/atual.pdf>.
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PAULINO, Graça. Leitura
Literária. In: Glossário CEALE: termos de alfabetização, leitura e escrita
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REYES, Yolanda. Mediadores
de Leitura. In: Glossário CEALE: termos de alfabetização, leitura e escrita
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Horizonte: UFMG/Faculdade de Educação, 2014.
ROSA,
C.M.; AZEVEDO, I.M.K.; CAMARGO, R.V.; NUNES, A.S.C. Biblioteca Escolar: espaço
urbano de formação do leitor. Anais. V Congresso Internacional de Literatura Infantil e Juvenil
do CELLIJ. Presidente Prudente, SP: UNESP, agosto de 2017. Disponível em <http://www2.fct.unesp.br/congresso/cellij/>
Consulta em 08/10/2017.
9.
PROJETO NOVOS CAMINHOS E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA FORMAÇÃO ACADÊMICA, de TAMIRES
JARA GOULART
RESUMO: Este trabalho
tem como objetivo apresentar o projeto Novos Caminhos e descrever sobre a
importância que tem para formação acadêmica por meio de relato da minha
experiência como professora-aprendiz. O Novos
Caminhos é um projeto de extensão criado em 2007 e atende jovens e adultos
com Síndrome de Down e Deficiência Intelectual. O objetivo do projeto é promover
a qualidade de vida destes jovens através da inserção em práticas de leitura e
escrita, auxiliando não só em seu desenvolvimento intelectual como pessoal e,
assim, promovendo a autonomia dos alunos. O trabalho desenvolvido pelos
acadêmicos (bolsistas e voluntários), a maioria graduandos do curso de
licenciatura em Pedagogia, é o de planejar e executar sequências didáticas que
consigam atender às necessidades dos alunos colocando em prática as teorias
estudadas durante a graduação. Estas aulas ocorrem nas segundas, quartas e
sextas-feiras das oito horas e trinta minutos até onze horas e trinta minutos,
sendo os encontros de sexta compartilhados com o Teatro em que os alunos
aprendem a se expressarem sob a supervisão de um professor. Além do Teatro, o
projeto também já teve propostas interdisciplinares com a Música e as Artes. Nas
quartas-feiras, no final da tarde, é realizada a reunião pedagógica cujo
objetivo é acompanhar e auxiliar o trabalho dos professores-aprendizes. Nesses
momentos, a coordenadora e a psicopedagoga dirigem a discussão, orientam e
ajudam a organizar o planejamento semanal, com a participação efetiva dos
professores-aprendizes. Nessa ocasião é que podemos compartilhar experiências,
saberes e relatos. O projeto se constitui em importante ferramenta para o
desenvolvimento dos professores- aprendizes, pois é uma oportunidade de aliar a
teoria com a prática. Além disso, a experiência de trabalhar com jovens com
necessidades específicas enriquece e oportuniza ao graduando refletir sobre a
sua prática docente. Além das reuniões pedagógicas para pensar estratégias de
ensino, uma parte das alunas participa do Núcleo de Estudos, Pesquisa e
Extensão em Inclusão (NEPEIN), que tem como foco estudos na área da inclusão.
Através das pesquisas realizadas neste núcleo é que devolvemos para a
comunidade o que é desenvolvido no projeto com apresentações de trabalhos em
eventos, palestras e mini-cursos. DESENVOLVIMENTO:
O projeto é constituído por duas turmas: a do nível Avançado,em que os
alunos já estão alfabetizados, e a do nível de Alfabetização, cujos alunos
estão aprendendo a desenvolver a leitura e a escrita. Meu trabalho é
desenvolvido na turma de alfabetização. Como professora-aprendiz, dedico-me a identificar
as fases de desenvolvimento (Piaget, 1971) dos alunos e elaborar uma aula que
atenda às suas necessidades de leitura e escrita, bem como motive os alunos na
busca pela realização pessoal. As estratégias utilizadas para despertar o
interesse dos alunos são variadas, mas procuramos sempre atividades que serão úteis
diariamente, atribuindo, assim, função social à escrita para que eles sintam o
progresso no seu dia a dia. As aulas ocorrem na Faculdade de Educação (FaE) e
existem vários materiais de apoio disponibilizados pelo projeto para auxiliar o trabalho dos
professores aprendizes. Pelo fato de alguns alunos ainda precisarem do concreto
para realizar algumas atividades utilizamos nas aulas materiais como, por
exemplo: material dourado, ábaco, letras em E.V.A., jogos, blocos lógicos e
etc. Além do suporte com materiais disponíveis para as aulas, contamos com
orientação na reunião pedagógica e estudos de aprimoramento no Núcleo (NEPEIN).
RESULTADOS: Conheci o trabalho
desenvolvido no projeto através de relatos de colegas que atuavam no mesmo. Ao
assistir uma aula, percebi a importância do que era desenvolvido ali para a
formação acadêmica dos estudantes do curso de Pedagogia. Nas salas de aula de
ensino regular e em pesquisas que o Grupo NEPEIN vem investindo, ouvimos muito
o discurso de que a inclusão não é possível por falta de prática, pelo fato de
os professores não saberem como atender esses alunos. Atuando no projeto,
constatei a importância dessa prática para estar preparada para as diferenças
que serão encontradas nas salas de aula. Após um ano como professora-aprendiz,
pude identificar os benefícios do projeto na minha formação, não só
profissional como pessoal. Pude notar a facilidade com que os temas trabalhados
durante o curso de graduação se adequavam à elaboração das minhas aulas e
contribuíam para que eu pudesse internalizar (Vygotsky, 1998) os conteúdos
estudados nas aulas da licenciatura em Pedagogia. Do mesmo modo, a experiência
no projeto possibilitou ter suporte para contribuir nos debates das aulas da
Pedagogia com exemplos do que acontece na minha práticano Projeto. A troca de
conhecimentos entre a teoria do curso de graduação e a prática no projeto é
imensa e possibilita a mim, e acredito aos demais professores-aprendizes, uma
melhor compreensão do que é ser professor e como tornar possível a inclusão em nossas
práticas docentes. AVALIAÇÃO: Com essa
experiência pude perceber e avaliar a importância do projeto para o curso de
licenciatura em Pedagogia e o quanto ele contribui para uma formação ampla dos
graduandos. Participar de projetos de extensão possibilita a nós, alunos, ampliar
nossos horizontes e ver as coisas de uma forma diferente da que estamos
acostumados em sala de aula. Como futura professora, atuar no projeto causou um
impacto positivo sobre minhas ações diárias e que me levam sempre a refletir
sobre se estou sendo inclusiva e o quanto ainda preciso aprender para poder, de
fato, atender a todos. Porém, não encaro mais isso como um obstáculo e sim como
um desafio. Acredito que todos acadêmicos de licenciatura que pretendem estar
dentro de uma sala de aula precisam passar por experiências extra-classes,
especialmente em projetos de extensão, para que possam refletir sobre seu papel
social como educadores. No projeto aprendemos a utilizar grandes autores estudados
no curso de Pedagogia e que não devem se perder apenas em estudos para atingir
a média do curso. Partindo do que os alunos já sabem e trazendo fatos
relacionados ao seu dia a dia para trabalhar em sala de aula, utilizamos os
conhecimentos passados por FREIRE (1996) acreditando que o aluno não é um
“depósito” e que não somos os únicos detentores do conhecimento. Só conseguimos
identificar o nível de desenvolvimento dos alunos através dos estudos de PIAGET
(1971), o que nos permite defender que todos são capazes, apenas possuem um
tempo diferente de aprendizagem e, do mesmo modo, nos ajuda a fazer a quebra de
pré-conceitos e preconceitos em relação à capacidades das pessoas com
deficiência intelectual, levando-os a compreender que existem vários fatores que
podem interferir neste desenvolvimento. Com nossas aulas em que os alunos que
“sabem mais” ajudam os que “sabem menos” trabalhamos a interação social com
VYGOTSKY (1998). Enfim, vários conteúdos e princípios estudados no curso de
Pedagogia ganham força com as práticas exercidas no projeto. O Novos Caminhos
possibilita a todos que participam uma autorreflexão sobre suas práticas
docentes.
REFERÊNCIAS:
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e
terra, 1996.
PIAGET, J. EpistemologiaGenética. Trad. Nathanael
C. Caixeira. Petrópolis: Vozes, 1971.
VYGOTSKY, L. A formação social da mente: o
desenvolvimento dos
processos psicológicos superiores. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
_______. Pensamento e linguagem. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
10. PERCEPÇÃO DE EMPREGADORES E PESSOAS COM SÍNDROME DE DOWN SOBRE A INSERÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO, de PRISCILA BROCK BARBOSA e GABRIELA AMARAL LEAL
processos psicológicos superiores. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
_______. Pensamento e linguagem. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
10. PERCEPÇÃO DE EMPREGADORES E PESSOAS COM SÍNDROME DE DOWN SOBRE A INSERÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO, de PRISCILA BROCK BARBOSA e GABRIELA AMARAL LEAL
RESUMO: Este trabalho tem
como foco principal analisar e entender as narrativas de adultos com Síndrome
de Down (SD) e a inserção deles no mercado de trabalho, sob duas perspectivas:
a dos próprios jovens e a dos empregadores. Na maioria das vezes, a sociedade
não consegue perceber que estes adultos com deficiência podem seguir uma vida
como outra pessoa qualquer, apesar de suas dificuldades. E assim, as narrativas
são essenciais para que possamos entender como eles se sentem dentro do mercado
de trabalho, e como será que eles acham que a sociedade os enxergam. Tomaremos
como base a teoria sócio-cultural ou sócio-histórica, abordada por VYGOTSKY
(1996), que nos remete sobre a relação do indivíduo estar relacionado com o
meio social, levando em consideração a introdução desses adultos no ambiente de
trabalho. Segundo VYGOTSKY (1998), um comportamento somente pode ser entendido
se forem estudadas suas fases, suas mudanças, e sua história. Assim, o autor
defende que não devemos nos preocupar em estudar o produto do desenvolvimento,
mas sim, seu processo e como está sendo o seu desenvolvimento. Desse modo,
estes teóricos serão essenciais para que possamos entender como esses adultos
com Síndrome de Down se sentem dentro dessa sociedade, e como será que eles
acham que a sociedade os enxergam e principalmente como são recepcionados e
tratados pelo mercado de trabalho e como o mercado de trabalho os enxergam. Para
SAAD (2003, p.69), “a sociedade exige
que as pessoas com síndrome de Down tenham um comportamento perfeito, pois
diante de qualquer deslize, atribui o comportamento à síndrome”. O autor
continua alegando que todos nós cometemos deslizes, independentemente de termos
Síndrome ou não. METODOLOGIA: Este é um estudo
de caso exploratório, de cunho qualitativo, que visa dar voz às histórias de vida
de adultos com SD e também, entendermos o que os empregadores acham dessa
inserção. Os sujeitos da pesquisa foram cinco adultos que possuem a Síndrome de
Down: S1 (sexo masculino, 28 anos, com curso Superior); S2 (sexo feminino, 36
anos, participante do projeto Novos Caminhos); S3 (sexo feminino, 27 anos,
projeto Novos Caminhos),S4 (sexo feminino, 27 anos, projeto Novos Caminhos); S5
(sexo masculino, 33 anos, projeto Novos Caminhos), e uma empresa/supermercado,
na qual, entrevistamos a psicóloga responsável pela contratação dos
funcionários. O instrumento, criado para
este fim, foi um questionário e uma entrevista (semiestruturada) a partir de um
roteiro com perguntas abertas. As entrevistas com os cinco sujeitos foram
individuais, gravadas em vídeo e ocorreram em uma sala na Faculdade de
Educação/ UFPel. Após, os dados foram transcritos. Todos os sujeitos e seus
familiares assinaram o termo de Consentimento Livre e Esclarecido e de uso de
imagens para fins educacionais. No caso da empresa, entrevistamos a responsável
no seu local de trabalho, também, com um questionário de perguntas abertas e
semiestruturadas. Desse modo, as seguintes perguntas que serviram de guia para
as entrevistas com os sujeitos que possuem a síndrome de Down, foram: 1) O que
é ter Síndrome de Down para ti? 2) Como tu te enxergas no meio das outras
pessoas? 3) Te sentes incluído na sociedade? 4) Como é a tua vida em casa? Tens
irmãos? 5) Trabalhas? E como te sentes no teu trabalho? E a convivência
com teus colegas? Te convidam para os eventos quando têm? 6) Estudas? 7)
E sobre relacionamentos? (namora, casado, solteiro, já namorou, queres
namorar). 8) Tem alguma coisa que tu gostas muito e que tu não mudarias nunca?
Se sim, o quê? 9) Se pudesses mudar alguma coisa na tua vida, o que mudarias? Já no que se refere ao empregador, as
perguntas foram as seguintes: 1) Quantos funcionários
a empresa tem e quantos possuem deficiência? 2) Como é feita a contratação,
quais são os critérios utilizados, cargos ocupados, a carga horária e qual a
média de tempo que um funcionário com deficiência permanece na
empresa? 3) Algum funcionário com deficiência já alcançou algum
nível/cargo a mais? 4) Para a empresa, há benefícios adquiridos a partir da
contratação? 5)Estes
funcionários que possuem deficiência têm algum tipo de regalia que os outros
não têm? 6)Comparados
aos outros funcionários, a eficiência é equivalente, maior ou menor? Por quê? 7) A empresa acredita que os
clientes têm a mesma aceitação perante estes funcionários? E como é a
interação/relacionamento com os outros funcionários? RESULTADOS E DISCUSSÃO: Ao responderem o que
é ter síndrome de Down, apenas um falou que “é ser diferente” (S2), e um, não
soube responder (S4), os outros já responderam que “é ser Down, ser criança
especial” (S5), “pra mim é normal ter a síndrome de Down, mas tem pessoas que
tem preconceito” (S3), “eu me sinto feliz com a síndrome de Down, faço bastante
coisas como todo mundo” (S5). Todos falaram que se sentem incluídos na
sociedade e que ter a Síndrome de Down atrapalha. Ao perguntar como se enxergam
no meio das outras pessoas, responderam: “me vejo em vários grupos, tenho
vários grupos de amigos, não interfere em nada” (S1), e dois responderam que se
acham diferentes, e que “o preconceito torna as pessoas más” (S4, S5), “tenho
amigos que têm a síndrome de Down e outros que não têm, mas sou amiga de todos,
os que não têm olham pra mim e ficam rindo” (S3), e apenas um disse que se
enxerga igual (S2). E quando perguntado como eles acham que as pessoas os
enxergam, rapidamente um respondeu sem nem pensar e disse: “elas deveriam ver
dentro de mim” (S5), e o outro: “um pouco atrapalhada, não chegam perto, não
falam com a gente (S2)”. Com estas respostas podemos refletir como estes
adultos com SD sofrem com os reflexos preconceituosos da sociedade, mas que por
eles a sociedade deveria ser um lugar de todos e para todos. Para SAAD (2003)
“viabilizar o processo de inclusão, não é suficiente que se prepare somente a
pessoa com Síndrome de Down. Faz-se necessário trabalhar a sociedade de modo
abrangente, pois ela constitui fonte da exclusão, como afirmou Ribas (1985,
p.48). Os diversos segmentos da sociedade – família, escola, trabalho, lazer –
estão implicados neste processo”. Todos os entrevistados desenvolvem ou já
desenvolveram algum tipo de trabalho, sendo apenas um desempregado no momento. Os
outros ocupam cargos como: professor em Escola de Educação infantil,
empacotadores em supermercados, auxiliar de escritório e assistente
bibliotecário. Expressam o quanto os colegas os ajudam quando necessitam de
alguma coisa, que são tratados bem e que os colegas de trabalho sempre os convidam
para os eventos. Sentem-se satisfeitos com suas famílias. Ao questionar sobre
relacionamentos, todos responderam que possuem liberdade para namorar e que
seus namorados (as) frequentam suas casas sem interferências. Ao perguntar
sobre alguma coisa que gostam muito e que não mudariam nunca, responderam que
gostam de suas vidas, da família, dos amigos, namorado(a), que gostam de ser
como são. Para RABELLO&PASSOS Vygotsky, (1996) “pretendia uma abordagem que
buscasse a síntese do homem como ser biológico, histórico e social. Ele sempre
considerou o homem inserido na sociedade e, sendo assim, sua abordagem sempre
foi orientada para os processos de desenvolvimento do ser humano com ênfase da
dimensão sócio-histórica e na interação do homem com o outro no espaço social”.
(2008, pg.3). Para encerrarmos a conversa com eles, lançamos a última pergunta:
Se pudesse mudar alguma coisa na sua vida, o que mudarias? E assim, obtivemos respostas como: “Acho que
uma coisa pra mudar, não sou só eu que quero, mas todo mundo, que é o respeito,
e que as pessoas parem com a fofocas” (S1); “para as pessoas se tratarem
iguais” (S2); “minha mudança é meio parada, mas pra evoluir mesmo eu tenho que
estudar mais, prestar mais atenção nas aulas” (S3); “sim, gostaria de mudar minha vida, ser como o
Alexandre Pires, ser cantora” (S4), “gostaria de mudar muito, estudar mais,
quero fazer dois cursos, farmácia e direito e gostaria de mudar no meu trabalho
também, eles me ajudam muito lá e eu gostaria de ajudar mais eles” (S5). No
tocante às perguntas realizadas com a responsável pela contratação dos
funcionários da empresa, obtivemos as seguinte respostas: a empresa é composta
por 58 funcionários e 9 com deficiência , 1 SD, 2 Surdos, 5 deficiência
Intelectual e 1 com déficit de aprendizagem. A empregadora fala que todos os
contratados são encaminhados através do CIEE, e que não tem nenhum critério,
porém, tem determinadas síndromes que não dá para colocar ao atendimento ao público,
até para eles ficarem expostos e não expor. Quando perguntado quais são os
cargos ocupados, ela responde, “normalmente são de pacote, apoio até o carro,
levam as compras até o carro, auxiliam no carregamento, se chamar alguém na
loja, eles dão um apoio bem bom”. A
carga horária depende são efetivados ou se ainda estão em contrato pelo CIEE,
mas cumprem os mesmos horários e regras dos outros. Relata que como é um
supermercado, não tem muitos cargos a serem alcançados, por isso todos
permanecem com seus cargos de pacote. Expressa que
“possuem um bom rendimento para a empresa e que os clientes
já estão acostumados, pois entra a questão de manter e não ficar trocando” e o
que se refere aos colegas de trabalho, ela diz que “as pessoas já sabem como
lidar, respeitam e interagem bem”. No decorrer da entrevista com a
empregadora, tivemos uma conversa mais específica, com ênfase na SD, nesse
diálogo, ela nos disse que antigamente trabalhava em uma empresa localizada no
Mato Grosso, e que tanto lá, quanto em Pelotas, seu atual lugar de trabalho, as
empresas têm bastante dificuldade na contratação. E que na produção não tem
como por dependendo do grau de comprometimento, pois, é de grande risco para empresa
e pessoal. Exalta que tinham que divulgar que estávamos buscando e dificilmente
vinha alguém, ela acredita que isso se dá ao fato da superproteção, dos pais e
o estímulo o tratar como um doente. Expressa
também, que “Eles são uma alegria pra nós, na hora do café, por exemplo, fazem
a gente se divertir muito, são engraçados”. Conclusões: Assim que observadas e analisadas as narrativas, através das entrevistas
com os sujeitos que possuem a Síndrome de Down, foi possível perceber o quanto
as pessoas com Síndrome de Down podem ter uma vida tranquila, fazendo coisas
normais como qualquer outra pessoa que não possui a deficiência. Brevemente,
vamos caminhando e conhecendo estas histórias de vida e as lutas que estes
adultos enfrentam com a sociedade que ainda não está totalmente aberta para a
Síndrome de Down. Notamos a partir de suas narrativas a vontade que eles
desenvolvem ao cogitar um futuro melhor, sempre pensando no próximo, e que a
sociedade seja capaz de olhar quem eles realmente são, conhecê-los por dentro,
sem risadas ou deboches. Assim, eles, por si, se vêem como seres
sócio-históricos-culturais (VYGOTSKY), ainda que a sociedade muitas vezes não
os vejam. Portanto, se eles se consideram incluídos nessa sociedade, por que
ainda têm pessoas que não os aceitam e continuam agindo de forma
preconceituosa? Acredito que a sociedade tem muito para evoluir ainda e acima
de tudo aprender com esses jovens que são exemplos de vida e de respeito! Analisamos
na fala do empregador que mesmo a empresa aceitando e contratando estes adultos
com Síndrome de Down ou qualquer outra deficiência, ainda possuem um
pré-conceito, pois limitam os cargos e de certa maneira são destinados apenas a
auxiliar os demais sem muitas responsabilidades.
Referências:
RABELLO, E.T. e PASSOS, J. S. Vygotsky
e o desenvolvimento humano. Disponível em < http://www.josesilveira.com/artigos/vygotsky.pdf> no dia 09
Ago. 2016,ás 11:35.
RIBAS, J. B. C. O que são pessoas
deficientes. São Paulo: Brasiliense, 1985. (Coleção primeiros passos).
SAAD, S. N. Preparando o caminho da inclusão: dissolvendo mitos e preconceitos em
relação à pessoa com Síndrome de Down. Rev. Bras. Ed. Esp., Marília, v.9,
n.1, p.57-78 Jan.-Jun. 2003.
VYGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. Rio de Janeiro:
Martins Fontes, 1998.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. Rio de
Janeiro: Martins Fontes1996.
11. RELATO DE ESTÁGIO: UM OLHAR SENSÍVEL ACERCA DE QUESTÕES DE GÊNERO E SEXUALIDADE NO AMBIENTE ESCOLAR, de PRISCILA BARBOSA e ALESSANDRA MATOSO
11. RELATO DE ESTÁGIO: UM OLHAR SENSÍVEL ACERCA DE QUESTÕES DE GÊNERO E SEXUALIDADE NO AMBIENTE ESCOLAR, de PRISCILA BARBOSA e ALESSANDRA MATOSO
RESUMO: Este trabalho
apresenta o relato sobre o estágio em Gestão desenvolvido no sétimo semestre do
curso de Pedagogia, em uma escola de ensino fundamental, de rede pública, na
cidade de Pelotas. Com base no diagnóstico e análise que fizemos sobre a
escola, notamos a necessidade da discussão e o entendimento sobre os temas
sexualidade e gênero. Buscávamos com a realização do projeto proporcionar o
debate e a análise crítica e reflexiva sobre os temas, dialogando com a equipe
da gestão para que houvesse uma desconstrução de preconceitos e pré-conceitos
estabelecidos socialmente, combatendo as discriminações e evitando a reprodução
das desigualdades já existentes em nossa sociedade. Os temas sobre sexualidade
e gênero não costumam, na grande maioria, ser trabalhado nas escolas. Entretanto,
compreendendo que a escola e a família são as principais fontes fornecedoras de
conhecimento, e entendendo o indivíduo como ser em constante construção, é de
extrema importância que essas questões sejam trabalhadas e discutidas, no
mínimo, nesses dois locais, os quais são considerados favoráveis para o debate
e produção de saberes. Pois segundo
MEIRELLES (1997) “o professor é mediador e organizador do processo pedagógico,
favorece a visão de conjunto sobre a situação, e propõe outras fontes de
informação, colocando o aluno em contato com outras formas de pensar”. Compreendemos
a importância de serem trabalhados e discutidos os temas sexualidade e gênero
no meio escolar, visto que a escola é um dos lugares de formação social e
pessoal do sujeito. Acreditamos e defendemos que desde cedo essas questões
precisam ser trabalhadas com as crianças, visando desconstruir
convencionalismos e tabus. As crianças devem ser conscientizadas da diversidade
cultural e pessoal de cada indivíduo possui, exercitando a importância do
respeito e do amor ao próximo. De acordo com
SCOTT (1995), as relações de gênero são construídas socialmente e dentro da
cultura elas se moldam conforme as sociedades e o tempo. Atribuindo uma série
de características que são dadas a cada categoria (sexo), assim lhe atribuindo
um sistema de valores, pré-estabelecendo atividades de mulheres e atividades de
homens. É importante salientar que sexo e gênero não são sinônimos, e que
gênero não é sinônimo de feminino. Assim, como afirma BEAUVOIR (1980), ‘’Ninguém
nasce mulher: torna-se mulher’’, referindo ao fato do fazer-se mulher depender
de características e comportamentos estabelecidos e impostos historicamente e
culturalmente. METODOLOGIA: A
realização deste trabalho deu-se, inicialmente, através de observações e
conversas com os gestores de uma escola de ensino fundamental de rede pública, da cidade de Pelotas/RS. A partir das observações e análise das falas dos gestores, foi
elaborado um questionário aberto direcionado às professoras, estruturado com
perguntas sobre os temas gênero e sexualidade, a fim de verificar o
conhecimento prévio que as professoras possuíam a respeito dos assuntos. Dez
professoras responderam ao questionário, elaborado com as seguintes perguntas:
“O que você entende por sexualidade e gênero?”; “Durante sua formação, você
teve algum estudo sobre gênero e/ou sexualidade?”; “Você acha que aqui na
escola decorram casos de opressões envolvendo gênero?; Se possível, cite alguns
exemplos.”; “Você se sente segura(o) e
preparada(o) para tratar do assunto quando visualiza algum tipo de opressão
envolvendo alunos dentro da sala de aula?”; “Você sente necessidade de uma
formação continuada abordando os temas sexualidade e gênero?”. Cada professora
recebeu um questionário impresso e respondeu da forma que achava melhor. Em
seguida foi proposta uma roda de conversa com as professoras, a qual nós
estagiárias apresentamos os conceitos de gênero e sexualidade de acordo com
aporte teórico dos estudos de LOURO (1997). Foi realizada, também, uma entrevista
com os alunos do 1º ao 5º ano, ao todo cinquenta e seis crianças, sobre gostos
e preferências, buscando verificar, além das preferências, se as questões de
gênero, construídas socialmente e culturalmente, já influenciavam ou não os
alunos dos anos iniciais. A entrevista foi aberta, organizada com as quatro
perguntas seguintes: “Qual brincadeira você mais gosta?”; “Qual sua cor
preferida?”; “Que profissão você deseja ter?”; “Você costuma ajudar nas tarefas
de casa?”. Após a análise das questões, foram propostas intervenções
pedagógicas com os mesmos. Dentro dessas intervenções, foram realizadas rodas
de conversas, exposição de cartazes, palestra de formação continuada com as
professoras e leitura de livros literários abordando as diferenças e dinâmicas
interativas com os alunos. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Para iniciarmos nosso estágio, realizamos uma pesquisa com a gestão
escolar, através de um questionário com cinco perguntas acerca dos temas gênero
e sexualidade. O objetivo dessa pesquisa era verificar o conhecimento prévio
das professoras acerca dos temas e analisar se as mesmas consideravam essa
temática relevante ou não. Foi utilizado como grande base de referência para a
realização do nosso projeto os estudos de Louro (1997), o qual nos diz que
gênero se refere a todos os fatores culturais, sociais e históricos impressos
na sociedade, enquanto o sexo leva em consideração apenas os aspectos
biológicos. Já a sexualidade envolve os gostos, preferências e comportamentos
que determinam os modos de relações que cada indivíduo pode apresentar ao longo
da vida, sendo elas heterossexual, homossexual, bissexual, etc. Pelas respostas
das professoras percebemos o quanto esses temas precisam ser trabalhados e
aprofundados, pois muitas se mostraram confusas e inseguras em suas respostas. Após
a análise dos questionários, em um segundo momento, nos reunimos com as
professoras, realizando uma dinâmica com massa de modelar e uma breve
introdução dos temas gênero e sexualidade. Propusemos que elas se dividissem em
dois grupos, um responsável por criar uma boneca menina e o outro por criar um
boneco menino, com massa de modelar. Após, separamos as professoras em duplas e
solicitamos que cada dupla representasse uma parte de um corpo humano, como:
membros inferiores, superiores, tronco e cabeça, representando-os da forma que
quisessem. Logo em seguida, juntamos todas as partes do corpo, formando um só
boneco. Ao término da construção dos bonecos, abrimos a discussão sobre os
temas gênero e sexualidade com base nas representações de bonecos. Indagamos o
porquê consideravam que o tal boneco era um menino e por que tal boneco era uma
menina. Em seguida, introduzimos a explicação das diferenças dos termos gênero,
sexo e sexualidade, buscando sempre relacionar com os exemplos dos bonecos. Em
seguida, abrimos a conversa para o debate e troca de ideias. A análise dos
dados coletados nos questionários e as falas das professoras refletem o
despreparo e a insegurança das educadoras em relação às temáticas gênero e
sexualidade. Muitas relataram não saber lidar com situações em que alunos descobrem-se
trans, alegando não saberem como se referir ao aluno, se chamam de ele ou ela.
Explicaram que elas estão atuando como professoras há bastante tempo e que
durante a formação delas esses estudos não eram muito trabalhados, tampouco
discutidos. No terceiro momento realizamos uma pesquisa com os alunos sobre
gostos e preferências. Com os resultados, conseguimos notar o quanto as
questões de gênero estão presentes no cotidiano das crianças. Há distinções
para eles entre coisas de meninos e coisas de meninas. As meninas preferiam
brincar de boneca enquanto os meninos preferiam jogar futebol. Já a cor roxo se
destacou para as meninas e o vermelho para os meninos. A profissão escolhida
pelas meninas foi veterinária e a de jogador de futebol para os meninos. Um
fato que chamou bastante atenção foi que 31 das 32 meninas ajudam nas tarefas
de casa, enquanto só 8 de 24 meninos afirmaram ajudar. No quarto momento,
levamos um cartaz com imagens provocativas, que chamassem bastante atenção. O
cartaz foi elaborado com várias imagens de meninos e meninas brincando com
todos os tipos de brinquedos e variadas brincadeiras, representando várias
profissões e também vestindo diversas vestimentas, visando desconstruir
questões de gênero que ditam e determinam o que são coisas de meninos e o que
são coisas de meninas. Realizamos a passada em todas as salas de aula da
escola. Mostrávamos o cartaz para os alunos e para as professoras e indagávamos
o que os mesmos interpretavam do cartaz ali presente. A partir da análise e dos
comentários que as crianças fizeram sobre o cartaz, foi possível conversar e
provocá-las sobre essas questões de gênero, reforçando que as brincadeiras, as
cores, as roupas, as profissões, entre tantas outras coisas, são questões de
gostos e preferências e não de sexo. Foram feitos vários questionamentos de
acordo com os comentários dos alunos, a fim de provocá-los e fazê-los pensar. No
quinto dia de estágio nos reunimos com a supervisora de orientação educacional
(SOE), com a vice-diretora e com a coordenadora do turno da tarde, para juntas
discutirmos que intervenções poderiam ser realizadas com as crianças, partindo
dos dados obtidos anteriormente. Então, no sexto momento elaboramos uma leitura
de histórias, de dinâmica interativa e reflexões sobre a importância do
respeito. A oficina foi realizada com todas as turmas da escola. No pátio,
sentávamos em círculo e realizávamos a leitura do livro ‘’Débora conta
histórias’’, de Débora Moura. Neste livro a autora retrata diferentes histórias
abordando a diversidade humana, reforçando sempre o respeito e o amor acima de
tudo. Após a leitura, levantamos alguns questionamentos sobre o livro,
proporcionando uma conversa coletiva. Em seguida, propomos uma dinâmica
interativa, formando dois círculos, um dentro do outro, mesclando um menino,
uma menina, entre eles. Ao som de uma música, os dois círculos deveriam girar.
Ao parar a música, todos deveriam parar. Neste momento nós dávamos algum
comando que os alunos deveriam fazer, como por exemplo, dê um abraço no colega
da frente, diga um elogio para o colega do lado direito, aperte a mão do colega
da frente, faça um abraço coletivo e, por fim, encerrávamos com uma breve
conversa sobre as atividades realizadas, reforçando a importância de respeitar
os colegas e as pessoas em geral. No sétimo e último momento, convidamos o Sociólogo,
Cientista Político, Mestre e Doutorando em Educação, Especialista em gênero e
sexualidades, pesquisador do campo das identidades sexuais e de gênero e
orientações sexuais, Luciano Pereira, que se disponibilizou em ofertar uma
formação continuada, intitulada com o seguinte nome: “Gêneros, sexualidades e
identidades: os desafios de trabalhar as diferenças na escola”. A palestra
despertou nas professoras diversas dúvidas, incomodações, reflexões,
estranhamento, surpresa do novo, curiosidade e o mais importante, o respeito e
interesse nos assuntos. CONCLUSÕES: Concluímos que a
realização deste projeto se deu de forma satisfatória e surpreendente.
Conseguimos desenvolver a proposta e os objetivos que havíamos planejado. Proporcionamos
de forma tranquila, dinâmica e respeitosa a oportunidade das professoras e dos
alunos em discutir e ampliar seus conhecimentos acerca desses assuntos
considerados tão polêmicos e complexos em nossa sociedade. Consideramos que é
fundamental que a escola trabalhe essas temáticas de forma transversal, pois
são nas relações sociais que se definem relações de gênero, sendo gênero um
tema que perpassa todos os assuntos das diferentes áreas da escola. Cabe aos
professores estarem atentos a qualquer tipo de manifestação dos alunos,
explicitando, sempre que necessário, formas de re/construir relações de gênero
com igualdade, buscando contribuir para a construção de uma sociedade
solidária, inclusiva, sem nenhum tipo de discriminação e intolerância.
REFERÊNCIAS:
BEAUVOIR, Simone. O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1980.
FAVERO, Cíntia. O que é sexualidade?
Disponível em: <http://www.infoescola.com/sexualidade/o-que-e-sexualidade> Acesso em 15
de fevereiro de 2017.
LOURO, Guacira
Lopes. Gênero, sexualidade e educação:
uma perspectiva pós-estruturalista. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1997.
MEIRELLES, João
Alfredo Boni de. “Os Ets e a gorila: um
olhar sobre a sexualidade, a família e a escola”. In: AQUINO, Julio Groppa
(org.). Sexualidade na escola: alternativas teóricas e práticas. 3.ed. São
Paulo: Summus, 1997.
MOURA, Débora
Araújo Seabra de. Debora conta histórias. ed. Rio de Janeiro: Objetiva,
2013.
SCOTT,
Joan Wallach. “Gênero: uma categoria
útil de análise histórica”. Educação & Realidade. Porto Alegre, vol.
20, nº 2,jul./dez 1995.
12.
UNIVERSO LITERÁRIO
INFANTIL: UM CAMPO DE SABER NA PEDAGOGIA, de LEONARDO CAPRA
RESUMO: No artigo
descrevo e avalio o impacto da disciplina Literatura Infantil entre estudantes
da Licenciatura em Pedagogia da Faculdade de Educação da UFPel que a
frequentaram no segundo semestre de 2016. Inserida na grade curricular no grupo
de ofertas optativas, para estudá-la, primeiro a frequentei, como estudante. No
semestre seguinte, acompanhei seu curso como pesquisador. Para o estudo escolhi
alguns pontos-chave: a ementa, os temas nela propostos, as tarefas agregadas e
as metodologias propostas e desenvolvidas pela docente. Justifica-se esse
estudo por ser unanimidade entre os estudiosos da literatura que o professor,
já na Educação Infantil e, preponderantemente nos anos iniciais, deve inserir
as crianças em processos mais qualificados de letramento literário. A
relevância de saberes a respeito da Literatura Infantil na formação de
professores é consenso. Pensadores e pesquisadores como Bartolomeu Campos de
Queiros (2009), Beatriz Cardoso (2014), Lígia Cademartori (2014), Ana Maria
Machado (2002), Graça Paulino (2014), Regina Zilberman (2003) e Tzvetan Todorov
(2012), são unânimes em atribuir à escola o poder e o dever de ensinar a amar a
literatura. METODOLOGIA: Para descrever e
avaliar, entre usuários, o impacto da proposição e desenvolvimento da
disciplina optativa Literatura Infantil I na formação de professores – objetivo
central da pesquisa – cerquei-me de seus documentos: a ementa, o programa com
os temas, tarefas agregadas e metodologias propostas. Estabeleci um recorte
temporário: o segundo semestre letivo de 2016. Além disso, ao final, após a
avaliação oral e escrita promovida pela docente, ouvi todos os estudantes que a
frequentaram e analisei suas respostas. A questão – uma percepção e logo
depois, uma criteriosa avaliação da estrutura proposta – buscava ofertar aos
estudantes a oportunidade de falar da disciplina na ausência da docente e após
o período avaliativo, ou seja, com plena possibilidade de crítica. Redigida,
ficou assim: Como descreverias a
disciplina tal na tua formação docente? Nela, o que é mais importante: o
referencial teórico (conceitos e sugestões de leitura), a organização didática
(os temas desenvolvidos e os livros apresentados), as tarefas agregadas
(pesquisas e estudos complementares) ou as metodologias (formato da aula, aulas
na sala de leitura e na livraria, leituras em sala de aula)? RESULTADOS E DISCUSSÃO: Gêneros, autorias,
temas, mediadores e leitores em profusão e em reconfiguração indicam que o
campo não é mais um anexo a programas nas Universidades e nem distração,
oportunidade para “passar o tempo” nas escolas. Importante na sociedade, a
literatura escrita para crianças passa a ter preponderância em cursos de
formação, em rodas de discussão, em eventos da área no país, em programa de
pós-graduação. Relevante no mercado, a produção literária para crianças tende a
reconfigurar as editoras e todo o sistema que há por trás delas – a
infraestrutura tecnológica e humana que materializa o literário impresso e/ou
virtual como autores, ilustradores, tradutores, revisores, editores – na
produção do que devem ler as crianças do século XX, afastadas quase 100 anos dos
escritos de Lobato. Por tudo isso, cabe conhecer e compreender a proposição de
uma abordagem sobe o tema na Universidade. O processo de conhecimento ofertado
aos estudantes na disciplina observada partiu do contato com clássicos
ocidentais da literatura para crianças, representados por obras escritas por
Charles Perrault, Jacob e Wilhelm Grimm e Hans Christian Andersen. A seguir,
alguns dos clássicos brasileiros como João Simões Lopes Neto (1907), José Bento
Monteiro Lobato (1920), Cecília Meireles (1931), Erico Verissimo (1936) e Mario
Quintana (1948), cujas obras foram publicadas, preponderantemente, na primeira
metade do século XX. Parte da escrita de Ana Maria Machado, Ruth Rocha e Eva
Furnari – ícones do que foi produzido na segunda metade do século XX – integram
as leituras obrigatórias da disciplina. Além da consideração dos gêneros mais
presentes no espectro da produção literária para crianças – Contos de
Encantamento, Poesia e Narrativas Infantis do século XX e XXI – é reservado um
tempo para a consideração de outros modos de escrita e gêneros que se expressam
em menor quantidade no repertório das editoras brasileiras como, por exemplo, abecedários,
adivinhas, cantigas, lendas, literatura de cordel, recontos, quadrinhos,
travadinhas e livro ilustrado. Inseridos eventualmente pela emergência de algum
tema – morte, abandono, violência, bullying – ou pelo inusitado de uma obra –
formato, linguagem, tema, projeto editorial ou gráfico – e para acompanhar a
produção no mercado editorial, alguns autores e suas obras são selecionados e
inseridos no programa. CONCLUSÕES: Para estudiosos da
área, esse momento revela a “força dessa literatura no âmbito do campo
literário, na perspectiva de Bourdieu (1996), bem como a constituição de um
habitus (Bourdieu, 1992, 1998) que a conforma como um subcampo, o da literatura
infantil e juvenil”. É a partir desse locus que se pode depreender que a
produção para a infância depende e interage em grande medida com círculos
familiares e sociais (pais, avós, tios, escola, igreja, biblioteca, livraria)
além do mercado editorial que “a legitimam, a colocam em circulação e propiciam
o diálogo autor/obra/leitor, configurando um sistema literário, expressão
utilizada por Antonio Candido (1993)”. Entre os resultados de pesquisa, a quase
unanimidade de que a disciplina deveria ser obrigatória no currículo da
Pedagogia, pois o contato com o acervo– obras literárias nas aulas – e o
repertório da docente – que apresenta informações consistentes sobre a história
da literatura seus gêneros e autores – foi mencionado em contraponto a outras
experiências de aquisição de saberes nas quais há apenas leituras de fragmentos
de livros.Os desafios de uma universidade contemporânea vão muito além da
relação aluno-professor ou de uma efetiva aprendizagem do conteúdo proposto na
ementa disciplina. Assim sou extremamente grato pela oportunidade de ter sido
aluno e posteriormente monitor desta disciplina. Parece-me que este sentimento
é compartilhado por todos que puderam experimentar as delícias dos conteúdos. É
interessante destacar que nela, na disciplina de Literatura, não há desistência
entre os alunos e seu conteúdo é sólido, emocionante e abundante.O fascínio
pela professora, percebi, é conquista de um trabalho minucioso de preparo das
aulas, desde o plano à avaliação, passando pelo diálogo e as eficazes oficinas
de leitura em voz alta. A relevância de saberes a respeito da Literatura
Infantil na formação de professores é consenso entre estudiosos e
pesquisadores. Então pergunto: por que ainda opção de poucos estudantes em
parte considerável dos cursos de Pedagogia?
REFERÊNCIAS:
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