PET Educação: em trabalho remoto e emergencial


Relatório PET Educação
Março a julho de 2020
Tutora: Drª. Cristina Maria Rosa
Gestão 2019-2022

Introdução
O PET Educação iniciou suas atividades presenciais em 09/03/2020, de acordo com o calendário da UFPel. Na primeira semana, houve reunião geral para dimensionar o calendário e ajustar a realização do projeto “Livros Lidos: Janeiro e fevereiro de 2020”. A reunião ocorreu no dia 12/03/2020 e o resultado foi a organização do Seminário a ser ofertado a todos os estudantes de Pedagogia, no intervalo entre dois turnos, duas vezes por semana (terças e sextas-feiras, às 17:30 horas).
Início do trabalho remoto
Com a suspensão de aulas decretada pela administração central da Universidade no dia 13/03 que passou a valer a partir do dia 16/03, o grupo PET Educação redimensionou as atividades a serem desenvolvidas inicialmente em e logo depois, também em abril.
Inicialmente pensadas para interações reais, não virtuais, o tempo de propor já ocorreu.
Agora, passados quatro meses de atividades, o PET Educação faz aqui um balanço do trabalho remoto e emergencial desenvolvido.
Após estudar modos de estarmos juntos, pensar, estudar, conviver, criamos programas, projetos e atitudes que nos conectam com os diferentes públicos do PET Educação: estudantes da Pedagogia, pais e avós de crianças em trabalhos escolares, professores que se conectam com suas turmas de alunos via web, assessoria a projetos para escolas públicas em trabalho remoto, idosos da UNAPI, colegas e amigos que solicitam.
Em todas essas interações o grupo - a tutora e os doze bolsistas - utilizam suas horas semanais (10 a Tutora e 20, os bolsistas).
Os programa consolidados:
1. Programa Primeiras Páginas;
2. Programa Minutos Literários;
3. Pesquisa Leitura na Quarentena;
4. Grupo de Estudos em Literatura para Crianças;
5. Pesquisas individuais;
6. Literatura na UNAPI: Contos Brasileiros; 
7. Seminário on-line Livros das Férias...
8. Grupo de compartilhamento de dicas literárias, para pais, avós e professores;
9. Programa Diário do Cuidado: diálogos aos 60+

Um pouco mais de cada uma das ações
Programa Primeiras Páginas. Compartilhamento de áudios de leitura de primeiras páginas de livros literários em uma plataforma on-line. Disponível em: https://soundcloud.com/primeiraspaginas
O que é? Interessado em tornar mais intensa a convivência entre nosso público prioritário – os estudantes de Pedagogia da FaE/UFpel em tempos de suspensão de aulas na Universidade, nós do PET Educação criamos o Programa “Primeiras Páginas…”. Ele é um programa que se acessa no celular ou no notebook. Consiste de compartilhamento de áudios com a leitura de algumas páginas de livros muuuuito interessantes que temos em nossos acervos pessoais. Após selecionar o que estamos lendo ou gostamos de ler, escolhemos uma parte interessante da obra que, acreditamos, estimulará o ouvinte a querer conhecer a totalidade da obra. Desse modo, criamos novos leitores ou ampliamos as dicas de leitura para quem já aprecia a arte da Literatura.
Programa Minutos Literários. Compartilhamento de áudios de leitura de primeiras páginas de livros literários em uma plataforma on-line. Disponível em: https://soundcloud.com/minutosliterarios
O que é? Criado para atender a demanda de mães, avós, tias e professoras de pequenos leitores, o Programa Minutos Literários está no ar em uma plataforma gratuita. Integra um dos programas do PET Educação e é compromisso de todos os bolsistas ocuparem-se com seu conteúdo e forma. O nome - Minutos Literários - foi uma escolha de todos os bolsistas PET Educação que, interessados em contribuir com a necessária e nem sempre bem organizada rotina caseira em tempos de COVI19, decidiu ler textos literários de autores renomados, gravá-los em áudio no celular e, após um tratamento de edição em que imagem e som são inseridos, disponibilizá-los na plataforma https://soundcloud.com. Autores como Mário Quintana, Erico Verissimo, Cecilia Meireles, Manoel de Barros, Eva Furnari e Mario Corso já estão inseridos. Novidade para nós, a aceitação intensa por parte de mães, crianças e professoras nos tornou interessados em manter, qualificar e ampliar o programa.
Pesquisa Leitura na Quarentena: investigação on-line sobre um tema interessante.
O que é? Nesse tempo de afastamento de atividades de trabalho e estudo formal que tiveram início em 16 de março de 2020, o PET Educação desencadeou uma pesquisa interativa através de diferentes mídias sociais. O foco foi conhecer o que as pessoas estavam lendo na quarentena. Enviamos a nossos contatos uma pergunta simples: O que estás lendo, posso saber? Temos ciência de que, por ter sido dirigida a amigos e colegas, a pesquisa teve respostas bem peculiares, que foram manifestadas quase como uma confidência a respeito de hábitos em tempos de distanciamento social. Além do público prioritário do PET Educação – estudantes da Licenciatura em Pedagogia da UFPel –, investimos em outros grupos. Entre o interessante volume de respostas para apenas seis dias de pesquisa, oito nos chamaram a atenção: pessoas que declararam não estar lendo nada. As justificativas? Variaram de “não gosto” ou “ainda não comecei” até “odeio ler”. Ao receber as respostas (data limite foi 30/04/2020), passamos a organizá-las em categorias como: ordem alfabética, nacionais e internacionais, literatura e outros gêneros. Entre as 219 obras mencionadas como lidas, 97 são de autores brasileiros, o que representa 44,30% do total de obras citadas, As demais, 122 é escritores estrangeiros, o que equivale a 55,70% do total. Observando os 219 títulos citados, 180 ou 82,20% podem ser categorizados como Livros literários e os outros 39 mencionados (17,80% do total), como livros técnicos, biográficos ou acadêmicos. Houve, nas respostas recebidas, ampla maioria de títulos adultos (199 ou 90,87%), ficando os infantis ou juvenis com uma pequena fatia do total de indicados como lidos: 20 obras, o que corresponde a 9,13% do total. Alguns poucos livros foram mencionados por mais de um leitor. Foi o caso de A Bíblia Sagrada, Consciência fonológica na educação infantil e no ciclo de alfabetização, de Artur Gomes de Morais, O meu pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcelos, O Príncipe, de Nicolau Maquiavel e Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire. Cada um deles foi lido ou está sendo lido por três pessoas. Em um grupo tão plural de interlocutores, encontrar duas ou três pessoas lendo os mesmos livros é bem curioso. Um grupo maior de obras foi citado como lidos por duas pessoas cada. São eles: A sociologia do corpo, de David Le Breton; Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll; Cem anos de Solidão, de Gabriel Garcia Márquez; Clarissa, de Erico Verissimo; Contos de fadas: de Perrault, Grimm e outros, da Zahar Editora; Contos Gauchescos, de João Simões Lopes Neto; Dom Casmurro, de Machado de Assis; Dom Quixote, de Miguel de Cervantes; O código Da Vinci, de Dan Brown; O homem que amava os cachorros, de Leonardo Padura; O menino do pijama listrado, de John Boyne; Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire; Psicanálise dos contos de fadas, de Bruno Bettelheim e Quarto de Despejo, de Carolina de Jesus.
Atualmente, mais dois temas estão em investigação. A respeito da já realizada, uma integrante do PET a estudante Angélica Karsburg escreveu: “A pesquisa sobre a leitura na quarentena, desenvolvida pelo grupo Pet Educação, ocorreu de forma online, pela rede social Whatsapp. Encaminhamos a pergunta para alguns contatos e recebemos diversas respostas. Mais respostas positivas do que negativas, se tratando das leituras realizadas (quando realizadas). Com esse método online de questionar, acabamos recebendo respostas muito sinceras quanto ao assunto abordado. Como, por exemplo, a resposta "eu odeio ler". Por mais que seja uma resposta ruim, ela foi dita sem receio de julgamentos, afinal estava participando de uma pesquisa sobre leitura. Eu diria que Isso acabou por tornar a pesquisa um tanto quanto intimista, como uma troca de mensagens que você faz com um amigo e não somente um entrevistador perguntando e um entrevistado respondendo enquanto pondera suas palavras”.
Grupo de Estudos em Literatura para crianças, ofertado a estudantes de Pedagogia/FaE/UFPel.
O que é? Criado em 1º de maio de 2020, o GELC –  Grupo de Estudos em Literatura para Crianças –, pensado para os estudantes de Pedagogia da Faculdade de Educação da UFPel teve início na segunda-feira, dia 04/05/2020. O intuito ao propor foi não perder o vínculo com um grupo de estudantes que, em março, frequentaram apenas uma aula da Literatura Infantil, disciplina optativa que a tutora do PET Educação, Drª. Cristina Maria Rosa oferta à Pedagogia desde algum tempo. Ao experimentar estudar longe fisicamente, mas conectados via web, estamos nos propondo a ler, escrever, ouvir, falar... É um grupo livre, não é vinculado ao currículo da Pedagogia, mas o tema a ser estudado é a literatura para crianças. Nesse grupo, utilizaremos o celular com mensagens de voz, mensagens digitadas, imagens trocadas e, até, pequenos vídeos. A plataforma da UFPel que oferece a possibilidade de web conferências também poderá ser acionada. Reunião home office para compartilharmos nossas impressões sobre os materiais e nos encontrarmos virtualmente, eventualmente serão marcadas. Como não é uma disciplina, todos teremos de nos comprometer com o próprio aprendizado.
Pesquisas individuais: desenvolvidas por cada um dos estudantes com o intuito de manter a vínculo com os estudos acadêmicos.
O que é? Com o intuito de manter a vínculo com os estudos acadêmicos durante o tempo em que não há aulas presenciais na Faculdade de Educação da UFPel, os doze bolsistas PET estão empenhados em dar continuidade a suas investigações científicas. Algumas já foram apresentadas na última SIIEPE – a semana integrada de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFPel, realizada em 2019 e, por iniciais, mereceram continuidade. Outras, de longo prazo, estão merecendo estudos de dados para considerar aspectos que ainda não haviam sido explorados. Como exemplo, temos a pesquisa intitulada Um olhar sobre a literatura indígena, desenvolvida, desde 2019, pela estudante Alessandra Steilmann, formanda na Licenciatura em Pedagogia. Para a estudante, o “acesso à Literatura é de imensurável valor na sociedade letrada contemporânea” e dedicar-se a estudar a “literatura que representa cerca de 896,9 mil brasileiros” é “plenamente justificável”. Há leis (10.639/03 e 11.645/08) que tornam obrigatório os temas Indígenas e Africanos nas escolas, tornando ainda mais importante sua consideração por cada um dos estudantes de Pedagogia que, em breve, estarão nas escolas públicas e privadas do país, exercendo suas atividades vinculadas ao respeito aos direitos humanos. O principal objetivo do projeto, de acordo com a estudantes, é inventariar os “livros de Literatura Indígena Brasileira em acervos escolares”. Alessandra acredita que a partir disto, pode-se ampliar o acervo e o repertório do grupo de bolsistas do PET Educação. Como metodologia, escolheu, inicialmente, analisar a lista de livros que compõe a “Maleta LIA”, fruto de um projeto desenvolvido na capital do Rio de Janeiro desde 2008. Em seus estudos, Alessandra afirma que, a Literatura Indígena difere-se da “indianista” e “Indigenista”. A literatura indianista “refere-se mais especificamente à literatura do período romântico brasileiro, voltado para a construção de uma identidade nacional”, de acordo com Thiél (2013). A indigenista, é aquela produzida por não-índios “e tratam de temas ou reproduzem narrativas indígenas”. Já a Literatura Indígena é produzida pelos próprios indígenas, “segundo as modalidades discursivas que lhes são peculiares”. Assim, obras indígenas que são escritas para o público infanto-juvenil e para o público maduro, “apresentam uma interação de multimodalidades: a leitura da palavra impressa interage com a leitura das ilustrações, com a percepção de desenhos geométricos, de elementos rítmicos e performáticos” (THIÉL, 2013). Além de se justificar como um processo de qualificação pessoal, enquanto mediadora e futura alfabetizadora literária, a pesquisa, de acordo com Steilmann, visa orientar a escolha de livros (o que, quando e como ler) e potencializar escolhas profissionais. O foco não é segregar nenhuma cultura, mas, sim, capacitar-se para um “diálogo ecológico com uma lógica intercultural” (Candau, 2004). Para a estudante, a “Literatura Indígena permite que a voz dos muitos povos indígenas que estão presentes no Brasil, não só em aldeias locais, mas também no contexto urbano, seja ouvida sem que haja um narrador intermediário”. Caracteriza-se, também, como um instrumento de resistência e autoafirmação, sendo uma alternativa para a luta contra o epistemicídio e a falta de legitimidade dos conhecimentos oriundos das tradições dos povos indígena. A pesquisa em acervos integra-se à abordagem qualitativa, embora conhecer a quantidade de obras em um acervo seja considerado um procedimento quantitativo. Assim, a investigação pode ser considerada uma mescla entre as duas abordagens. A metodologia de pesquisa é descrita por Minayo (2002, p. 16) como a confluência de “concepções teóricas de abordagem”, “conjunto de técnicas” que possibilitam a observação e análise da realidade e a influência do “potencial criativo do investigador”. Estudo resultante de inquietações e descobertas que aconteceram no decorrer de vida acadêmica de Alessandra Steilmann, ela afirma que em algumas poucas disciplinas foi instigada a questionar profundamente e (des)construir convicções e conceitos, bem como revisitar a cultura na qual cresceu. Com o apoio do PET Educação, pode “expressar, refletir e extrair o melhor das angústias e conflitos internos que ocorreram ao longo desta caminhada”. Um dos resultados que a estudante afirma ter conquistado nesse pequeno tempo em que se dedica o tema é perceber que “apesar da invisibilidade em parte considerável da educação básica e do ensino superior, a produção de livros indígenas já vem ocorrendo há tempos”. Assim, considera “ser possível definir um corpus de livros a serem lidos e indicados a integrar as bibliotecas escolares”, pois acredita que “a Literatura Indígena não deve ser restrita a escolas indígenas ou àquelas nas quais indígenas estudam, uma vez que não são dirigidas ao público indígena apenas”.
Literatura para a UNAPI – Universidade Aberta e pessoas idosas.
O que é? Ação desenvolvida pelo PET Educação considerada de extrema valia para os estudantes da Pedagogia que integram o grupo e, neste momento, em especial é a formação docente para públicos diferenciados como idosos e, também, mães e demais familiares de crianças em idade escolar. O aprendizado, neste momento, investe-se de relevância por demandar o conhecimento e uso, intenso e qualificado de meios (ferramentas e modos) de intervir na realidade de quem está em casa, isolado ou em grupo. De forma on-line, a intervenção prescinde de receptividade, aceitação e a capacidade de conexão de cada um dos agentes envolvidos. Um dos programas criado em tempos de afastamento social por efeitos da COVID-19 foi a criação de um Grupo de Literatura para todos os idosos que já frequentaram uma ou mais salas de aula de Literatura na UNAPI, a Universidade Aberta a Pessoas Idosas da UFPel. Tendo iniciado o trabalho com esse grupo em março de 2018, hoje já contabilizo quatros semestres desenvolvidos com um público fiel e leitor. Assim, não foi difícil reuni-los e agregá-los em torno da ideia de enviar dicas literárias durante o tempo que aguardaremos a reabertura da sala de aula, quando nos encontraremos, de novo, para ler juntos. E dialogar, rir, provocar uns aos outros com nossas controvérsias. Descobrimos, juntos, que amamos Literatura. Especialmente, contos brasileiros, gênero predileto da turma e que tem muitos escritores como excelentes representantes. Manter, desde o início da pandemia, o contato e algum exercício intelectual vinculado à temática, áudios de primeiras páginas, sugestões de leitura, matérias sobre literatura e outras, concernentes ao tema, têm sido ofertadas ao menos duas vezes por semana para o grupo de literatura da UNAPI. Eventualmente, alguma tarefa tem sido sugerida aos idosos que, muito entusiasmadamente, compartilham suas emoções e produções. Como agregado a esse trabalho e por observar como o grupo está suportando a ausência da presença, que inventamos o grupo “Diário do cuidado: diálogos aos 60+”, organizado para intervir na prevenção de casos de depressão por solidão ou falta de atenção.
Seminário on-line Livros das Férias: substitui o presencial, marcado para março e abril de 2020.
O que é? No último semestre do ano de 2019, o grupo PET Educação havia se comprometido a organizar um seminário para o Curso de Pedagogia da FaE-UFPEL nos primeiros meses do ano de 2020. O intuito era compartilhar, de forma oral e com detalhes, estudos realizados em tempos de recesso da Universidade e Férias. Outro dos objetivos era organizar um seminário sem a coordenação da tutora do grupo e, ainda, recepcionar os novos acadêmicos. Todos os integrantes do grupo, então, escolheram, leram e prepararam uma apresentação sobre um livro ou artigo científico considerado importante para as suas pesquisas individuais ou para a formação docente. Com a suspensão das atividades acadêmicas, nosso seminário será on-line e, primeiramente, interno, ou seja, apenas voltado aos bolsistas PET. Estamos estudando a forma mais inclusiva de desenvolver e divulgar nossos trabalhos e, logo que decidirmos, intencionamos ampliar o seminário para os estudantes da Licenciatura.

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