25 de Julho: dia nacional do escritor


Escritor: um mentiroso?
Cristina Maria Rosa

Escrever é uma arte? É uma ciência? Uma profissão? Um dom? O Dia Nacional do Escritor, 25 de julho, tem razão de ser?
Inventor, memorialista, predestinado, repleto de dom, o que é um escritor? Pela relevância com que homens e mulheres dedicam-se a escrever a crônica e suas variantes, no Brasil, o PET Educação presta homenagem nesse dia 25, a todos que podem ser chamados de “escritores”.
Mas, o que é um escritor? E um autor? As duas palavras tem o mesmo significado?
Autor é quem inventa algo. Então, o escritor também pode ser autor. Escritor é quem escreve algo, registra, fatos ou invencionices. Então, nesse caso “escritor” é mais que um “indivíduo que escreve”.
Escritor: o que é isso?
Escritor de obra literária, científica ou artística, um autor é uma pessoa que compõe obras consideradas arte e que tenham o adendo de serem únicas, nunca antes inventadas: pelo gênero, pela trama, enredo, desfecho, composição de personagens, título e, mesmo, pela linguagem adotada. O formato e a escrita da obra também podem ser únicos, nunca antes experimentados. Quanto mais sucesso entre os leitores, quanto mais elogio recebe de pessoas cultas, mais oportunidade a obra tem de ser muito lida. E de se tornar longeva...
Há profissões que se sevem da escrita para viver: Jornalistas, antropólogos, professores, cronistas. Essas, as mais explícitas.
Mas, o que seria de um médico sem a escrita de receitas? O que seria de uma costureira sem a escrita de medidas do corpo? O que seria de um engenheiro sem a escrita dos cálculos das fundações? O que seria dos advogados sem a escrita de suas defesas e acusações?
Nem todas as escritas são consideradas “obras de arte”, mas, pensando bem, não resultam em obras da artesania humana? No dia 25 de julho, dia do Escritor, por que não pensar sobre isso?
Ilustrando...

A fada dos moranguinhos
Cristina Maria Rosa

Quando eu nasci, ainda não era escritora. Não sabia ler, não sabia escrever. Mas outros, antes de mim, sim. Sabiam ler e escrever e escreviam livros. Um deles, A fada dos Moranguinhos, eu ganhei quando tinha cinco anos. E nunca mais esqueci. Só que se perdeu, o meu livro, nessas viagens todas que já fiz na vida. Não fico feliz com isso, de ter perdido um livro. Mas aconteceu. E eu continuo procurando. Mas o que quero contar, hoje, é como foi que me tornei adulta e escritora. Algumas coisas eu não lembro. Então invento. Outras eu lembro bem. E não gosto. Então, invento. E outras, são tão bacanas, que todo mundo acha que eu inventei. Quando não gosto de alguma coisa que lembro, invento coisas bacanas para colocar no lugar das que não são tão bacanas assim. Como quando caí de um muro nem tão alto e cortei meu rosto, entre as duas sobrancelhas. Tenho o sinal até hoje... Não foi bacana, mas eu invento que esse sinal é meu talismã. Não sabe o que é talismã? Dá uma espiada no dicionário que tu ficas sabendo na hora... Quando eu comecei a escrever, quando comecei essa vida de escritora, as pessoas pensavam que tudo que eu escrevia era invenção. Como a história do gato que eu tenho aqui em casa. Ele na verdade, é ela. Uma gata. Preta. O pelo é bem curtinho e tão preto, que parece noite sem lua. E sem estrelas, que noite sem lua com estrelas, não é bem preta. Mas noite sem lua e sem estrelas, aí, sim, é bem escura. Assim é a minha gata. Quando eu escrevi algumas das coisas que ela faz, ninguém acreditou. Todo mundo achou que era invenção. Agora, pensa comigo: se minha gata é uma artista, se ela apronta coisas incríveis, por que é que as pessoas não acreditam? Por exemplo, voar. Minha gata já tentou voar. E não foi uma ou duas vezes. Não. Foram muuuuuuuiiiiiitas vezes. Então, eu contei adiante. E as pessoas disseram: – Isso é coisa de escritora. E daquelas que inventam que os animais fazem coisas que os humanos fazem. Eu fiquei pensando: Humano voa? Só de avião. Mas minha gata não, ela voa mesmo. Um dia, te conto melhor, que agora eu estou interessada em revelar como foi que me tornei escritora. Bom, como eu ia dizendo, quando criança, bem pequena, eu ganhei do meu pai um livro. E tu já sabes até o nome. Foi aquele que eu perdi... Uma pena, mesmo, ter perdido meu livro. Não foi qualquer livro. Foi o primeiro. E o primeiro, sempre é o mais importante. Fico com dó de mim mesma quando lembro que não tenho mais meu primeiro livro. Imagina uma menininha, com cinco anos, encantada com seu livro novo, repleto de palavras que ainda não sabia ler... Imagina a vontade que deu nela de aprender a ler. Eu imagino. E quando ela aprendeu a ler, não teve jeito: quis contar para todo mundo as ideias que tinha, os sonhos, as aventuras que imaginava viver. Foi assim. Assim que me tornei escritora. Hoje, conto para todo mundo, todo mundo mesmo, todas as histórias, verdadeiras e inventadas, que eu tenho dentro de mim. E eu adoro ser assim...

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