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11 maio 2020

Dia das mães: um depoimento emocionado


Dias das mães: lembra?
Valdoir Simões Campelo

Sinto-me estranho...
Não tenho mãe.
Gritar para quem,
se não posso ao menos ser ouvido?
Só queria ser ouvido...
Grito internamente: MÃE!!!
Estou morto.
Um dia desses...
Dia das mães.
Mãe? Cadê?
Te amo!
Não te tenho...
Não sou ouvido.
Oito anos...
Lembra?


10 de maio de 2020, dia das mães, para mim, uma data complicada. Hoje, com 25 anos, volto ao meu passado e reflexiono sobre tudo que minha mãe foi capaz de fazer para criar três filhos.
Mulher, negra, na cidade de Pelotas, com três filhos.
Rotina que eu, como criança, observava.
Uma mulher que saía todos os dias para trabalhar – assim como muitas mães saem de seus lares para buscar o pão de cada dia. Mesmo cansada, ao chegar em casa, nos olhava com esperança. Será que sonhava que seus filhos estudariam? Que trabalhariam, teriam uma família?
Observo os efeitos de sua ausência...
Meu irmão, um rapaz com 18 anos, sem mãe, sem alicerce, foi confortado por pessoas estranhas que lhe deram abrigo. Hoje, mais velho, sem grades, trabalha e tem residência fixa.
O irmão “do meio”, no ensino médio abandonou a escola. É um trabalhador rural assalariado, com carteira assinada, casado, pai de uma criança pequena.
Eu, com 25 anos, estudo em uma Universidade Pública Federal. Sou o único da família em uma Universidade! E isso após trabalhar em todos os lugares possíveis. Sim. Cheguei. Meritocracia? Não. Redenção, ao ver o que, sem mãe, fomos obrigados a viver.
Mãe.
Um fator tão importante quanto qualquer outro...
Onde foi parar essa mulher tão importante que, mesmo ausente, pode guiar seus filhos? Um, retornando a sociedade; outro, pai de família. Eu, um estudante que busca devolver à sociedade o que ela ensinou e o que a universidade orienta.
Quem era ela?
Maria Geralda Simões Campelo, mãe solteira, criou seus três filhos. Sozinha. E entregou a vida por eles.
Em uma manhã, não esqueço, 4 de dezembro de 2002, após dar bom dia aos filhos – um com 17 anos, outro com  9 e o caçula com 8 anos, eu – veio a falecer. Para as estatísticas, mais uma mulher. Para nós, sua família, “A” mulher.
Foi mais uma das mães que tentam dar o mundo a seus filhos. Hoje, os seus filhos, buscamos ser um pouco do que essa mulher foi para eles. Mãe.
Nesse dia das “mães”, mas não só nesse, penso nela.
E em como a figura feminina pode nos criar e recriar como seres humanos...
Como filho e neto, peço: mães, não desistam de seus filhos!
E, solidário e responsável, insisto: filhos e netos, não abandonem seus pais e avós.

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