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31 maio 2020

Frutos do programa Diário do Cuidado


Uma iniciativa cuidadosa
Paloma Wiegand


A iniciativa de dialogar com nossos queridos estudantes de Literatura vinculados à UNAPI – Universidade Aberta Universidade Aberta Para Idosos – tão presentes e participativos, ganhou vida no dia 4 de maio. Responsáveis pelo projeto denominado “Diário do Cuidado: diálogos aos 60+”, nós, estudantes da Licenciatura em Pedagogia na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Pelotas, integramos o PET Educação e somos orientados por uma Pedagoga, a Drª. Cristina Maria Rosa.
Originalmente organizado para ajudar a manter a saúde mental dos idosos em tempos de crise, nos agrupamos de forma voluntária, tendo como horizonte o desafio de acertar e, como meio, um aplicativo de mensagens.
Através de uma “boa conversa”, pensada, planejada e elaborada com passos que são: a) apresentar-se; b) estipular uma rotina ou frequência de contato; c) permitir o desabafo do idoso; d) incentivá-lo a realizar tarefas como leitura, por exemplo; decidimos “deixar rolar” papos sobre temas como perspectivas, relações, passatempos e planos para o futuro.
Um desejo, alentado por todos nós e de difícil resolução foi a escrita da biografia de cada uma das pessoas pelas quais nos tornamos responsáveis. Como metodologia, enviaríamos a eles a escrita pare que revisassem, acrescentando ou ampliando as informações ali recolhidas.
Panorama   
Atualmente vivemos uma situação de calamidade, não apenas no Brasil, mas no mundo todo. O Coronavírus ou COVID-19 é uma doença infecciosa respiratória e, como o próprio nome denuncia, trata-se de um vírus, portanto sua propagação ocorre facilmente, e possui efeitos letais. A COVID-19 sobrevive mesmo sobre superfícies, pode contaminar pessoas sem que estas apresentem qualquer sintoma, além de ser uma doença com alto grau de transmissão nas cotidianas atividades do ser humano. A partir de medidas emergenciais e na busca do controle da pandemia, uma atitude tomada pelos órgãos responsáveis foi recomendar que a população ficasse em casa, mas a esperança de um retorno ao convívio que tínhamos antes, parece estar cada dia mais longe, o que tem afligido e comprometido a saúde mental de muitos.
Em vista disso, nós, do PET Educação, instigados por nossa Tutora, Drª Cristina Rosa, decidimos tomar a iniciativa de intervir com um grupo considerado muito frágil: os idosos. Como conhecíamos um grupo, nos dirigimos a eles e, desde então, estamos nos encontrando virtualmente.
Fatos e recomendações
Todos os dias, em algum momento da rotina, passamos por pelo menos uma aglomeração: no supermercado, em uma sala de aula, na feira, no templo, em uma loja ou café e até na rua. Quase todas são escolhas: escolhemos se queremos ou não ir a esses lugares e deles podíamos nos afastar sempre que desejássemos.
Recentemente, porém, nos deparamos com a necessidade de evitar essas tais vivências, uma vez que neles há maior propagação do vírus. Embora o novo Coronavírus seja muito estudado pelos cientistas de todo o mundo, é muito novo e permanece sem tratamento ou vacina.
Enquanto os estudiosos observam, avaliam, investigam, testam, verificam, tentam encontrar uma formulação que seja capaz de impedir o contágio, as autoridades de saúde pública recomendam o uso de materiais de proteção: máscaras, álcool gel e, mais que tudo, higiene frequente, além de evitar tocar nos olhos, boca e nariz, locais em que o vírus penetra em nosso sistema respiratório com mais facilidade.
 A medida mais limitante, no entanto, foi o necessário distanciamento social, que consiste em aumentar o espaço físico entre as pessoas, visando minimizar a propagação, respeitando a distância segura recomendada pelos profissionais da saúde. Para os idosos, ficar em casa foi o mais recorrente conselho e isso levou a um isolamento social. Longe de amigos, colegas, familiares e entes queridos, muitos idosos sofrem mais do que outros grupos etários.
Atividades que envolvem o convívio social como esportes, café ou chá com amigos, um papinho no Café Aquário, uma caminhada no Laranjal e, no caso dos nosso 60+ as aulas de Literatura entraram em “quarentena”, ou seja, foram suspensos.
A quarentena foi determinada pelo país como sendo uma maneira prática de lidar com aqueles que se expuseram, seja por ter visitado outro país ou por ter frequentado algum ambiente fechado e com grande movimentação de pessoas. Quarentena é um cuidado especial realizado por quem possa ter sido exposto ao vírus, provavelmente tendo sido infectado, e faz com que a pessoa se isole dos demais por determinado tempo até que possa retomar suas atividades domésticas normalmente com quem reside.
Bruscos impactos
É inegável o gradual sucesso que as recomendações dos profissionais da saúde têm causado nos países aonde a doença se manifestou primeiro. Noticias apontam as curvas de contágio sendo amenizadas e casos de recuperação sendo comemorados. No Brasil, sequer alcançamos o “pico” da pandemia.
Considerando que esta pandemia cortou hábitos, fechou comércios e estabelecimentos como escolas e igrejas, parques, museus, bibliotecas, livrarias e até a Universidade, a sociedade precisou lidar com uma brusca adaptação, o que acarretou na experimentação de diversos sentimentos.
Quem está na linha de frente, médicos e enfermeiros intensivistas talvez tenha sentido, de imediato, a pressão devido à responsabilidade e demandas advindas do surgimento da doença. São profissões que tendem a lidar, a cada dia, com frustrações no insucesso de vários casos. Além destes, outros trabalhadores continuam desempenhando ativamente suas funções por serem consideradas “serviços essenciais”.
Em meio a batalha enfrentada por quem se encontra na proteção de sua casa ou arriscando a vida para salvar outras nos hospitais, quem está lutando para continuar vivo e livrar-se do vírus, quem perdeu o emprego ou inventa maneiras de sustentar a família, existe também quem foi cruelmente tomado por pensamentos inevitavelmente ruins, fisgado por pensamentos negativos.
No ano de 2018, a OMS – Organização Mundial de Saúde estimava que a depressão seria a doença mais incapacitante até 2020 e a mais comum do mundo em 2030. Embora tenhamos conhecimento de que a depressão é uma doença realmente séria e grave, a mesma não é abordada com tal relevância.
Depressão: uma realidade
De acordo com dados do IBGE, em agosto de 2019 a depressão já era sentida por 11,2 milhões de brasileiros. Relacionando este fato com o surgimento da COVID-19, é mais do que pertinente pensarmos sobre a iminência da depressão no grupo de risco mais atingido pelo Coronavírus – os idosos, uma vez que o IBGE informou que, dos 11,2 milhões de brasileiros afetados pela depressão, 11,1% eram representados pela faixa etária entre 60 e 64 anos.
Diário do Cuidado: diálogos aos 60+
Oito estudantes mais a tutora se revezam para conversar e cuidar de sete idosos. São conversas que originaram boas amizades, papos furados, indicações de livros, envio de áudios e, até, a um  livro de receitas “da quarentena” e um livro com poemas. Desses “papos”, quase despretensiosos, surgem escritas que estão publicadas no BLOG do Grupo e que tornam memória esses momentos.
Ao menor sinal de risco – se percebemos que o caso é mais grave do que nossa companhia resolva – a tutora é informada, pois o Grupo PET Educação reconhece não ter formação específica para a realização de cuidados da saúde mental de idoso. Então, o “caso” é enviado à Drª. Zayanna Lindôso, docente do Curso de Terapia Ocupacional da UFPel especialista no tema. A professora assume o comando e orienta como seguir dali em diante, encaminhando para atendimento especializado casos considerados mais delicados ou que demandem atendimento especial. Na TO, há um programa chamado PRO-GERONTO, dedicado a casos que exigem maior atenção.
Futuro: a quem pertence?
Como não sabemos nosso futuro, demonstrações de que a humanização é a única solução para um futuro promissor é o que nos move.
Assim, revelamos que o PET Educação buscou partir de um ponto comum – a pandemia e o isolamento – para criar laços: os diálogos que cuidam. Estamos aprendendo. Arriscamo-nos a sermos importantes uns para os outros. Se ações positivas são possíveis, estamos em busca delas...

Referências

29 maio 2020

Sigilo em eleições: uma escolha

O sigilo em eleições é uma escolha.
Cristina Maria Rosa

Podemos manter sigilo acerca de nossas escolhas políticas ou podemos publicizar o que pensamos e desejamos para a convivência na sociedade. Essa nem sempre é uma decisão fácil e quase nunca é consensual. Depende de nossos valores – políticos, culturais, éticos – e depende do contexto e momento histórico.
Nas eleições às Coordenações das Licenciaturas em Pedagogia da Faculdade de Educação da UFPel, momento histórico que estamos vivendo de modo diferenciado, desta vez, apesar de online, o voto de cada um  de nós terá o sigilo resguardado. Como?
Responsável pelo processo, a Comissão Eleitoral decidiu investir em mecanismos de manutenção do sigilo, embora seus membros tenham declarado que, pessoal e politicamente, são favoráveis ao voto aberto. Assim, Cristina Rosa, Diuli Wulff e Lucas Fernandes (docente, estudante e TAE que integram a Comissão), enviaram um esclarecimento às categorias que representam, acerca de suas decisões. A seguir, o texto enviado:

Olá, colegas. Nós, integrantes da Comissão Eleitoral, informamos que:
1.      A Eleição s às Coordenações das Licenciaturas em Pedagogia ocorrerá no dia 09 de junho, terça-feira, entre 9 e 21 horas, através de formulário a ser enviado pelo COBALTO aos estudantes e por e-mail aos TAES e Docentes;
2.      Escolhemos o envio pelo COBALTO (aos estudantes) por ser esse o sistema que possibilita ao usuário votar apenas uma vez;
3.      Escolhemos o envio por formulário após testar e comprovar que outros sistemas identificavam o votante e este, não;
4.      Aos docentes e TAES, o formulário será enviado por e-mail. Por gentileza, quando receberem, votem;
5.      Ainda não há um endereço para o formulário. Será criado quando recebermos inscrições à eleição. No entanto, utilizaremos um modelo disponível gratuitamente no Google (https://gsuite.google.com/signup/basic/welcome?hl=pt-BR);
6.      A comissão eleitoral declara que é favorável à eleição identificada, mas acolhe e respeita o desejo de um ou mais eleitores não desejarem identificar seu voto. Desse modo, buscamos intensamente um mecanismo de preservação do sigilo. Além disso, escolhemos, entre nós, o integrante da Comissão Eleitoral que teria o menor interesse em manipular informações acerca de quem votou ou não em quem. Assim, Lucas Noguez Fernandes, representante dos TAES ficou responsável por dirigir o processo on-line de recebimento e escrutínio dos votos;
7.      Por fim, desejamos que todos se integrem ao processo com civilidade, cortesia, espírito público e respeito ao contraditório.

28 maio 2020

Licenciaturas em Pedagogia elegem Coordenação

Eleições: um processo on-line
Cristina Maria Rosa

A comunidade acadêmica das Licenciaturas em Pedagogia – estudantes, TAES e docentes – pela primeira vez de modo on-line, estarão, entre hoje, 28 de maio e 11 de junho, escolhendo os professores que irão Coordenar os Colegiados das Licenciaturas em Pedagogia.
Como parte do processo, a Comissão Eleitoral (composta pela estudante Diuli Alves Wulff, pelo TAE Lucas Noguez Fernandes e pela docente Cristina Maria Rosa) publicou hoje o edital que normatiza o processo de Eleições.
A comunidade está sendo convidada a participar do processo que terá diferenciados modos de interação em tempos de trabalho remoto.
Os mandatos dos novos Coordenadores terão início em 11/06/2020 e se estenderão até 10/06/2022.
O regimento que normatiza o processo está Disponível em: https://wp.ufpel.edu.br/fae/files/2020/05/regimento.pdf
Acompanhe o processo, escolha e vote!

21 maio 2020

Língua nacional e dia mundial da diversidade cultural: PET pesquisa

O dia da língua nacional e o dia mundial da diversidade cultural para o diálogo e o desenvolvimento

Alessandra Steilmann
Débora Monteiro
Leticia Oliveira Vilela
Luzia Martins

Dia 21 de maio é o Dia da Língua Nacional. Para marcar tal data, nós, do PET Educação, pensamos que seria relevante refletir sobre uma das expressões artísticas da Língua Portuguesa que consideramos essencial: A Literatura Brasileira. A partir disso, iniciamos uma pesquisa interativa com o seguinte questionamento: É importante ler Literatura Brasileira? Por quê?
Contudo, enquanto recebíamos as primeiras respostas a nossos questionamentos – enviados de forma on-line a nossas listas nas redes sociais – percebemos que o tema “se enroscava” com a existência do “Dia Mundial da Diversidade Cultural para o Diálogo e o Desenvolvimento”, coincidentemente comemorado no mesmo dia, 21 de maio. Agregar as duas temáticas foi a decisão do grupo.
Sobre a Língua Nacional e a Diversidade Cultural
Fazendo uma rápida pesquisa em qualquer navegador de internet podemos concluir, sinteticamente, que “Língua Nacional” é a Língua falada em uma nação. Segundo o Linguista Eduardo Guimarães (2020), a Língua Nacional é
A língua do povo de uma nação enquanto relacionada com um Estado politicamente constituído. A língua nacional é por isso vista como a língua oficial de um país. Ter uma língua como própria de um país funciona como um elemento de sua identidade política e cultural.

No caso do Brasil, a língua falada pela maioria da população e que também é obrigatória em todos os documentos, atos oficiais e no ensino de modo geral, é a Língua Portuguesa. O linguista ainda diz que a língua nacional “se caracteriza em virtude de uma unidade imaginária da língua que é atribuída à Nação”, ou seja, existe uma ideia de que a Língua seja homogênea, mas precisamos lembrar que em nosso País, há diversos dialetos, níveis de formalidade e também diferentes povos contribuíram para a construção de nossa maneira de falar e escrever. Nesta perspectiva, LIMA E CARMO (2008) afirmam que
A questão da diversidade cultural – hoje em pauta no Ministério da Cultura – está intimamente ligada ao reconhecimento do Brasil como um país multilíngue, onde a história da implantação do português como língua nacional e como marca identitária envolveu não apenas o estabelecimento de um diálogo com Portugal, antiga metrópole colonial, como a relação com os diferentes grupos humanos, culturais e étnicos no território nacional. A história da nacionalização da língua portuguesa no Brasil, além do reconhecimento de suas peculiaridades fonéticas, gramaticais e vocabulares diante do português europeu, supôs o tratamento de inúmeras outras línguas – indígenas, africanas, europeias, asiáticas – e não raro o seu confronto (LIMA E CARMO, 2008, p. 11).

Podemos dizer, então, que apesar de herdarmos a Língua Nacional de nossa antiga metrópole colonial, há diversos elementos sobre nosso contexto sócio-histórico-cultural que diferenciam nosso idioma. Segundo ORLANDI (2020):

Por sua historicização em outro território – o Brasil –, o processo de constituição da língua portuguesa se remete não a um modelo estático exterior a seu campo de validade (nacional), mas à sua prática real em um novo espaço-tempo de práticas discursivas. [...]. Uma vez conquistado seu direito à unidade, reconhece suas variedades (relação com as línguas indígenas, africanas, de imigração, entre outras) que lhe dão identidade para dentro e para fora – para dentro, por exemplo, distingue-se o português standard dos tupinismos, africanismos, populismos; para fora, distingue-se pelo mesmo traço, os brasileirismos, em relação ao português de Portugal. [...] Esse reconhecimento é parte da nossa unidade nacional.

Através da Língua Portuguesa nós materializamos nossos pensamentos, emoções, sensações e sentimentos por palavras ditas ou escritas. E muitas dessas palavras, expressam também a nossa diversidade cultural e um pouco de nossa história. Você sabia que a origem das palavras cafuné, dengo e carimbo é africana? E que as palavras capim, pipoca e mutirão são de origem indígena?
A Língua não é estática. Ela se adapta e se transforma de acordo com o tempo e espaço em que está sendo utilizada. A sociedade, ou seja, as pessoas, têm um papel ativo neste movimento de mudança da língua transcrevendo suas vivências, ideias e imaginações em palavras que podem ser compartilhadas com o mundo e com as gerações futuras. Dessa forma, é importante pensar na língua como algo “vivo’’, em sentido ontológico. A literatura entra nesse contexto como um recorte desse universo que é a língua, emoldurando todos esses elementos como se pintasse a sua forma naquele momento específico com toda a beleza, liberdade, magia, maestria e arte que o nosso querido e plural Português (BR) permite, e também merece.
Quanto ao conceito de diversidade cultural, encontramos um verbete muito interessante escrito por Aracy Alves Martins para o Glossário CEALE que se intitula “Literatura e Diversidade Cultural”. No texto, a autora faz a seguinte reflexão sobre o conceito em questão:

Se buscarmos, nos dicionários mais utilizados no Brasil, definições para a expressão “diversidade cultural”, encontraremos, primeiramente, significados para o termo diversidade, no campo semântico de diverso, plural, múltiplo, no sentido de várias possibilidades, facetas. Por esse ponto de vista, cada ser humano ou cada grupo busca sua identidade, distinguindo-se em função das riquezas da sua singularidade. Entretanto, nos próprios verbetes, outros sentidos são atribuídos, certamente em decorrência das interações humanas: além de considerarem diversidade como sinônimo de diferença, acrescentam significados negativos: dessemelhança, desarmonia, divergência.

A pesquisadora salienta que é possível perceber o aumento de produções que valorizam a diversidade étnica de nosso país a partir das Leis 10.639/2003 e 11.645/2008. Elas “obrigam” escolas a ensinar a história e cultura dos povos negros e indígenas. No então, ressalta, “a diversidade cultural não diz respeito apenas a questão étnica e racial”. Para outras chamadas “minorias”, como o sexo feminino, a homossexualidade, a velhice, a juventude, a infância, a obesidade, pessoas com deficiência motora, mental, visual, auditiva, entre muitos outros, também se buscam melhores condições e tratamento digno.
Nesta perspectiva, vemos que a diversidade cultural não pode ser entendida de forma simplista, generalizada ou negativa. Há diversos grupos sociais que estão lutando ao longo da história para poder falar por si próprios através da literatura, podendo expressar suas ideias, empoderar-se de suas produções literárias e epistemológicas e, enquanto isso, contribuir também para o empoderamento de pessoas que se identificam com as mesmas lutas.
A pesquisa e seus resultados
Enviada no dia 11 de maio a nossas listas de contatos nas redes sociais (e-mail, whatsapp, instagran e facebook) e tendo um intervalo de seis dias (12 a 18 de maio) para o recebimento de respostas para a questão É importante ler Literatura Brasileira? Por quê?, a pesquisa teve início com participação intensa.
Desde a chegada do primeiro retorno organizamos, diariamente em uma tabela, as dúvidas, opiniões e contribuições do público para, ao final, todas as participações serem cuidadosamente analisadas para serem publicadas hoje.
O primeiro movimento foi observar se havia discordâncias profundas nas mensagens recebidas. E havia...
Entre todas as respostas recebidas, duas apenas consideraram que ler literatura brasileira não é relevante: uma das respostas questiona a qualidade da literatura brasileira contemporânea, usando como exemplos os dois últimos livros lidos e, a outra, que não aprecia por não ter lido muitos autores brasileiros.
Nas respostas que defenderam a importância da literatura brasileira, identificamos três argumentos que explanaremos a seguir, como categorias que, frequentemente coexistiram nas respostas.
Sobre a história e a Cultura Brasileira
Há diversas formas de observarmos as transformações do espaço ao nosso redor no que diz respeito à história e à cultura, uma delas é através das artes como a literatura. Os escritos literários ainda que sejam considerados por alguns como simples ficção são capazes de direcionar o olhar do leitor para o cotidiano e os costumes de um determinado tempo histórico assim como apontado por SANTOS:

[...] por ser um dos instrumentos de construção teórico metodológica da interpretação da realidade, isto é, tudo o que existe de maneira perceptível ou não, a literatura por meio de sua textualidade, ajuda a compreender a constituição da vida intelectual e da sociedade pertencente a um determinado momento histórico (SANTOS, 2013).

Nessa perspectiva, podemos pensar na literatura brasileira como um elemento que faz o leitor considerar questões sobre o tempo e marcos históricos e com eles, construa e reflita sobre conceitos referentes à “educação, política, escravidão, gênero e sexualidade”, como foi citado por uma das pessoas na pesquisa. Foi possível notar que a leitura é capaz de conectar o leitor com diversas frações e sentimentos, de si próprio, de períodos históricos e realidades sociais, fazendo com que ele “ressinifique” a leitura, como também suas próprias verdades e conhecimentos.
Por outro lado, parte das respostas aponta para a procura pela capacidade que a literatura tem de proporcionar aos sujeitos que a acessam uma visão/compreensão de aspectos sociais, históricos e culturais do nosso país, nos fizeram levantar uma problematização sobre a concepção de literatura que pode estar por trás de alguns argumentos. Observamos que a literatura é vista como um potencial meio de construir e influenciar o pensamento social, portanto vê-se a necessidade de esclarecer que mesmo que ela seja um veículo capaz de comunicar sobre diversos aspectos da nossa história ela é subjetiva, como problematizado por VELOSO (1998):
Essa concepção da literatura, que entre nós se constitui em verdadeira tradição, é no mínimo simplista. Simplista porque apresenta a obra literária como mero testemunho da sociedade, corno uma espécie de documento destinado exclusivamente ao registro dos fatos. Perde-se, dessa forma, uma dimensão essencial da questão: a de que a sociedade é ao mesmo tempo uma realidade objetiva e subjetiva (VELOSO, 1998).

Diante desta problemática, levantamos a hipótese de que essa concepção pode ser fortalecida pelo fato de a literatura brasileira ser entendida muitas vezes apenas como conteúdo ou como uma ferramenta para o trabalho docente. Defendemos, neste texto, que a literatura em geral deve ser um eixo estruturante e indispensável para o trabalho docente, circulando não apenas como fonte de conhecimento ou de contexto para as atividades, mas também como fonte de deleite e pura apreciação.
Sobre o aprimoramento do sujeito crítico.
Eventualmente, recebemos argumentos que sustentam a importância de ler imbricada ao desenvolvimento de habilidades diversas como a de interpretação, de valores e de senso crítico. Decidimos por destacar esse último, pois está relacionado à categoria anterior e também com a diversidade cultural citada pelos participantes de nossa pesquisa. Notamos que, através deste elemento, desenrolaram-se argumentos referentes ao desenvolvimento de senso crítico, de argumentação, imaginação e outros.
A Literatura Brasileira pode ser lida para o lazer, para “viajar” o país e conhecer um pouco de sua diversidade. Nesse processo o leitor tem a possibilidade de se aperfeiçoar enquanto sujeito crítico e social, adotando novos panoramas para sua própria realidade. Trazendo para si, reflexões além do termino do livro. Quanto a isso, podemos mostrar uma resposta analisada que se refere à Literatura para além do enriquecimento intelectual e cultural, mas que também seja usado para aprimorar o senso crítico: “Os textos literários nos mostram como era antigamente a sociedade e os problemas que passavam na época em que o conteúdo era escrito, assim muitas vezes essas transcrições fazem com que refletimos sobre o passado que constantemente acaba se relacionando com os acontecimentos do presente, assim podemos mudar ou limitar esses episódios que se associa com cada época das publicações”.
É indiscutível que a leitura contribui para a formação do indivíduo enquanto pessoa, e, neste caso, é evidente que, em paralelo, está a construção da sociedade. Livros literários são parte da história, o que observa através de características como espaço, tempo, personagens, imagens, autores, gêneros, linguagem, entre outros. Diante disso, entendemos que a literatura brasileira é um dos “alicerces” para os argumentos e debates referentes à construção humana enquanto sociedade. Reconhecemos nela, assim, um espaço para interpretar, compreender, criar e imaginar mundos mais reflexivos, onde os interesses do leitor fazem parte da história contada por todos.
Mais alguns argumentos...
As duas categorias citadas acima nos chamaram a atenção porque foram encontradas em maior quantidade nas respostas enviadas. No entanto, outros argumentos utilizados também merecem destaque neste texto, entre eles, gostar de ler, produção nacional e conteúdo de provas. Explicitemos...
Gostar de ler: Identificamos duas pessoas que responderam de uma forma que pode parecer simples, mas que é muito significativa quando se trata de literatura, pois pensamos que é essencial para uma boa leitura, o fato de gostar do que se lê. Uma dessas pessoas escreve o seguinte: “Li um pouco da nossa literatura brasileira clássica, aqueles mais indicados nas escolas, tenho alguns. Li e gosto de alguns autores contemporâneos. Gosto dos nossos gaúchos, Moacir Scliar, David Coimbra, Lia Luft, Martha Medeiros”.
Produção nacional: Percebemos que algumas pessoas sentiram a necessidade de salientar que as produções genuinamente brasileiras têm o mesmo valor das produções estrangeiras. Como por exemplo nos dois excertos de respostas citadas a seguir: “[..] Devemos estudar e valorizar a nossa literatura clássica, pois ela também é estudada em muitos outros países” e “[...] E a Literatura Brasileira é um produto nosso e nós tivemos autores muito importantes que até têm séries, novelas baseadas nesses fatos, pois muitas obras literárias trazem fatos reais da época então podemos dizer que é um produto genuinamente nosso e que é muito gostoso de ler.”
Conteúdo de provas: Apesar de outras pessoas citarem a literatura brasileira como uma literatura que está presente nos currículos escolares, uma resposta de uma educadora em especial apresentou, em tom de desabafo sobre a questão de a literatura brasileira estar presente em provas: “Outro fator importante para a leitura de literatura é porque está presente em questões de provas de vestibulares e concursos”!. E: “O maior desafio que nós educadores enfrentamos nos dias de hoje é ensinar a leitura para nossos alunos criando neles o hábito de ler infelizmente nesse mundo moderno em que estamos vivendo, ‘mundo das tecnologias’, cada vez menos os estudantes interessam-se pela leitura e muito menos pela literatura que é uma pena. Pois existem muitos ensinamentos no livro de literatura basta saber interpretar e trazer para os dias atuais o que foi escrito no passado fazer um gancho entre ontem e hoje”.
Elementos curiosos...
Para além das categorias encontradas, outros dois elementos nos chamaram a atenção em algumas respostas. O primeiro diz respeito a mensagens que incluíram nomes de autores de literatura brasileira, o que ocorreu em três respostas: Pero Vaz de Caminha, Moacyr Scliar, David Coimbra, Lia Luft, Martha Medeiros, Ariano Suassuna, Erico Verissimo e Manoel de Barros. O segundo, revelador de que as pessoas entendem que é importante ler literatura brasileira, mas não se dizem leitores da mesma, como no depoimento a seguir: “Nos dias atuais, fica evidente que vivemos rodeados por pessoas que não possuem o mínimo de conhecimento sobre nossa própria história e os grandes autores que são oriundos do nosso país. De certa forma, eu me incluo nessa equação, pois meu contato com as obras nacionais foi praticamente nulo desde sempre. Espero reverter essa situação logo, para me apoderar cada vez mais de obras que retratem a nossa cultura e assuntos importantes e pertinentes para debate como educação, política, escravidão, gênero e sexualidade, etc. A literatura brasileira pode nos mostrar, através de suas obras, questões que muitas vezes vimos apenas nos livros didáticos de história. A literatura nacional contribui para (re)descobrir e (re)conhecer nossa existência”
Conclusões e inquietações
No início da pesquisa, passamos por um momento de ansiedade sobre o que receberíamos como respostas, pois, ao realizar pesquisas anteriores com solicitações de autores e títulos de livros, os brasileiros eram os menos citados. Ao receber as primeiras respostas, nos sentimos mais animadas, pois, a maioria delas, apresentava esforços em defender e valorizar a nossa literatura, colocando a diversidade cultural como um fator de enriquecimento da mesma. Por outro lado, notamos que, mesmo as respostas que relacionavam diversidade cultural, história e literatura, poucas vezes os sujeitos dessa diversidade eram mencionados. Quando citados, costumam aparecer como personagens de “um passado”.
Desta forma, urge que defendamos, neste texto, os povos negros e indígenas como aqueles que continuam produzindo conhecimentos e compartilhando-os através da literatura brasileira. Como exemplo disto, podemos utilizar os estudos de STEILMANN (2019) que, ao apresentar a produção literária de Daniel Munduruku, descobre que o mesmo já escreveu mais de 40 livros em 20 anos como autor.
Sobre o conceito de língua nacional, foi importante entender que a concretização desta marca identitária de nossa nação não pode ser considerada homogênea, neutra ou pacífica. Porém, percebemos que essa pluralidade é positiva para a nossa cultura, pois é a partir desta percepção que podemos começar a valorizar as diferentes produções brasileiras. Em paralelo a tal pensamento, podemos também parafrasear Aracy Alves Martins (2014), no texto em que relaciona literatura e diversidade cultural: “Por todas essas razões, as perguntas continuam em busca de vivências humanas em que se possa constatar que diversidade não é demérito, que diferença não é deficiência.”.

Referências
CARMO, Laura do; LIMA, Ivana Stolze (Org.). História Social da Língua Nacional. Rio de Janeiro: Edições Casa de Rui Barbosa, 2008. Disponível em: http://rubi.casaruibarbosa.gov.br/handle/20.500.11997/1275. Acesso em Maio de 2020
GUIMARÃES, Eduardo. Língua Nacional. Enciclopédia das Línguas do Brasil. https://www.labeurb.unicamp.br/elb/portugues/lingua_nacional.htm. Acesso em: Maio de 2020.
MARTINS, Aracy Alves. Literatura e diversidade cultural. Glossário CEALE. http://www.ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/literatura-e-diversidade-cultural. Acesso em Maio de 2020
ORLANDI, Eni P. Língua Brasileira. Enciclopédia das Línguas do Brasil. https://www.labeurb.unicamp.br/elb2/pages/noticias/lerNoticia.lab?categoria=1&id=304. Acesso em Maio de 2020.
SANTOS, Alessandra Rufino. A importância da literatura como fonte de pesquisa na construção do pensamento social brasileiro. Revista Examãpaku, 2013.
STEILMANN, Alessandra. Um olhar sobre a literatura indígena. Anais do XXVIII Congresso de Iniciação Científica da Universidade Federal de Pelotas. Disponível em https://cti.ufpel.edu.br/siepe/arquivos/2019/CH_04382.pdf. Acesso em Maio de 2020.

VELOSO, M.P. A literatura como espelho da nação. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 1, n. 2, 1988, p.239-263.

20 maio 2020

20 de maio: Dia da Pedagogia


Pedagogia: um dia para comemorar?

Luzia Helena Brandt Martins
Paloma Wiegand
Valdoir Simões Campelo

Introdução
A importância da profissão “Pedagogo” e seu reconhecimento como profissão basilar na escola integra parte das datas comemorativas no país. Exercida majoritariamente por mulheres, a Licenciatura em Pedagogia é amplamente ofertada pelo sistema de ensino público e privado no Brasil e, ainda, porta de entrada de mulheres no mercado de trabalho formal. Definido por legislação vigente – Lei 13,083 de 8 de janeiro de 2015 – a instituição do “Dia Nacional do Pedagogo” pode e deve ser comemorado.
 Pedagogia: uma ciência?
A Pedagogia foi criada na década de 30 no século XX, quando intensas discussões sobre a educação no Brasil tiveram curso. Neste mesmo tempo, duas universidades lançaram suas proposições: em 1934, a Fundação da Universidade de São Paulo e, em 1935, a Universidade do Distrito Federal, em 1935. A partir dessas duas primeiras licenciaturas, outros cursos foram propostos em todo o Brasil e, com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1971 (LDB 5692/71), o Pedagogo foi autorizado a atuar desde a Educação Infantil até à 5ª série dos anos iniciais. De acordo com a lei, poderia lecionar diversas disciplinas. Atualmente – os anos 20 do Século XXI, o Curso de Pedagogia se faz tão essencial por diversos motivos. Um deles é a área de atuação que atinge grande espectro, pois esses profissionais podem desenvolver seus saberes e técnicas em escolas, hospitais, universidades, asilos, penitenciárias e empresas, entre outros.
Mas, o que é a Pedagogia?
Mais que uma “ciência aplicada” a essência da Pedagogia, uma licenciatura que varia da dois a cinco anos para completar sua formação acadêmica, está assentada na relação entre humanos e conhecimento, entre tradição e pesquisa científica, entre saberes e sabores que se iniciam bem cedo, quando adentramos o sistema escolar.
No livro Pedagogia como ciência da educação[1], Maria Amélia Santoro Franco inventaria os sentidos que a Pedagogia foi adquirindo no transcurso de sua instituição como profissão e indica três concepções que emergem no intuito de definir sua epistemologia: a Pedagogia filosófica, a Pedagogia técnico-científica e a Pedagogia crítico-emancipatória. É na configuração da Pedagogia como ciência da educação que a autora a defende como um instrumento político e de emancipação, uma vez que evidencia relações existentes entre a práxis educativa e a práxis pedagógica e defende que deve ter por finalidade "o esclarecimento reflexivo e transformador da práxis educativa, discutindo as mediações possíveis entre teoria e práxis". Como "explícita mediadora da práxis educacional", a Pedagogia, para a autora, deve conduzir o sujeito à humanização, à emancipação, a apreender e reconstruir a cultura, condição de cidadania. Para a autora, ainda, a Pedagogia precisa passar da racionalidade técnica à racionalidade prática, reflexiva, formativa e emancipatória.
E a formação do profissional da Pedagogia? Para a autora, este deve “enfatizar o aspecto crítico-reflexivo, que compreenda a complexa pluralidade do âmbito educacional, a necessidade de mediar um processo de aprendizagem voltado para a formação integral de um sujeito de pensamento fragmentado, acrítico, alienado das questões políticas e socioculturais”. Seria, assim, o pedagogo, um “investigador educacional por excelência”, com características de profissional crítico e reflexivo, uma vez que a Pedagogia é uma ciência que visa o estudo e a compreensão da práxis educativa em suas intencionalidades. De acordo com Libâneo (2017[2]), o livro de Franco “contribui para esclarecer aspectos do debate que se tem travado na área educacional a respeito da formação de educadores, reafirmando a tradição teórica em que a Pedagogia, como ciência da educação, formula a partir da práxis educativa os elementos científicos e técnicos da formação humana, constituindo referência para todas as práticas educativas, entre elas o trabalho docente. Ou seja, a docência fundamenta-se na Pedagogia e não o inverso”.
Onde atua o Pedagogo?
Profissão que está para além dos muros da escola, ela está na sensibilidade do profissional que atua nessa área. Hoje, na escola, a Pedagogia vai desde a área administrativa até a sala de aula estando presente na direção escolar, salas de AEE, Orientação educacional e Coordenação Pedagógica. Em salas de aula está presente na Educação Infantil, 1º ao 5º dos anos iniciais e 1ª à 4ª etapa na Educação de Jovens e Adultos.
Em empresas, hospitais, asilos, abrigos, creches e no sistema penitenciário, o Pedagogo tem tarefas vinculadas a gestão de grupos e cuidados, junto com a Psicologia e a Terapia Ocupacional. Além disso, o profissional tem sido contatado como pesquisador por muitas empresas que precisam compreender como suas equipes podem e devem trabalhar em grupos colaborativos. 
A pesquisa e sua metodologia
Para marcar o “Dia do Pedagogo”, nós, do PET Educação procuramos conhecer, entre Pedagogos e estudantes, quais suas perspectivas em relação à educação em tempos de Covid-19.
Escolhemos como mecanismo de coleta de informações uma plataforma digital. O canal utilizado foi o Google formulário; nele, algumas perguntas sobre a profissão. O foco é apresentar reflexões que foram inseridas nas respostas de profissionais atuantes e futuros profissionais que cursam a Licenciatura em Pedagogia na Universidade Federal de Pelotas.
Questões:
1.       Há quantos anos estás atuando como Pedagogo (a)?
2.       Durante tua carreira, como percebeste as mudanças sociais?
3.       Como acreditas que será o retorno pós pandemia?
Além dos profissionais que atuam na profissão, enviamos uma pergunta aos estudantes e futuros profissionais que cursam Pedagogia na Universidade Federal de Pelotas. Ela foi: Para ti, o que é um(a) Pedagogo(a)?
Logo depois das respostas recebidas (a data limite para envio das mensagens foi 17/05), todas foram inseridas em uma plataforma para que pudessem ser bem observadas e analisadas. Neste momento, o grupo responsável pelo trabalho – Luzia, Paloma e Valdoir –, por mensagens e telefonemas, combinou o que e como revelar as descobertas.
Resultados
O pensam os Pedagogos sobre a educação em tempos de pandemia? Entre as respostas descobrimos que 42.9% dos que se manifestaram trabalham menos de 10 anos na profissão. Os demais, 35.5% entre 10 e 20 anos e 21.6% já estão em fins de carreira, pois já trabalham entre 20 e 30 anos como Pedagogos.
Quando se referem a “mudanças sociais” observadas no tempo em que desempenham as atividades profissionais, muitos disseram que estas interferem diretamente na educação. Outros apontaram avanço e acesso à tecnologia como maior mudança social ocorrida e houve ainda quem ressaltou a desvalorização dos professores e pedagogos e a falta de interesse dos alunos e pais pela educação como o fato social e politica mais relevante observado. Como exemplo, a consideração a seguir:

Foram muitas as mudanças e todas através de muita luta. Percebo, porém, que demos um passo à frente e três, para trás, principalmente na educação. Tivemos grandes avanços na inclusão e, no momento, temos que ficar atentos para não perder aquilo que conquistamos.

Sobre o retorno pós-pandemia, o termo “desafio” foi bastante usado, assim como “adaptações” e “processos lentos”. Muitos profissionais manifestaram preocupação com a comunidade escolar, em especial aos cuidados e prevenções durante o retorno, como na resposta enviada:

Acredito que muitos cuidados serão necessários. Um trabalho deverá ser feito para que os alunos consigam seguir as orientações corretas de higiene e preservação da sua saúde. Os professores serão os principais agentes nesse trabalho de orientação na sala de aula e a família se faz muito necessária para reforçar as atitudes de cuidado de seus filhos. Nada será como antes, isso temos certeza! Como será? Ninguém sabe ao certo. A nossa única certeza é que no momento preservar vidas é o mais importante, o resto, corremos atrás.

Outro ainda ressaltou que se o acompanhamento familiar foi realizado durante a pandemia, o retorno do profissional será “tranqüilo”. Assim, nota-se que os profissionais pesquisados percebem a proporção do vírus e se preocupam com o que ainda será feito em relação à educação e contam com o apoio das famílias, para tal.

Concluindo
Ao refletir sobre a profissão, principalmente durante uma pandemia, muitos elementos devem ser considerados. Como foi citada entre os entrevistados, a valorização aos Pedagogos realmente anda falha, é quase nula. Pensamos que é de suma importância, nós, como futuros profissionais da área, conhecermos o que pensam e como agem. Sabemos que a maioria dos Pedagogos vinculados ao trabalho, seja em escolas, abrigos, asilos, penitenciárias, empresas e hospitais está trabalhando neste momento. Presencialmente ou “de casa”, por vídeos, áudios e mensagens em grupos e outras plataformas, aulas estão sendo planejadas e executadas e o contato com os alunos ainda está acontecendo. De forma diferente, mas ininterruptamente. Ou seja, o profissional da educação continua atuando em sua área.
Mesmo que não esteja na linha de frente contra o Covid-19, está se adaptando aos novos tempos e à sociedade que está surgindo dessa crise profunda. Junto a outros profissionais, especialmente os da saúde física e mental, está encontrando forças para trabalhar todos os dias, via internet. Sobre esse aspecto, o do trabalho virtual, uma de nossas informantes escreveu que as mudanças foram “intensas e graves”:

Existiu um tempo em que as desigualdades eram severas e houve ruptura com a eleição de um governo popular. Depois, um golpe e, atualmente, vivemos as perdas de direitos. As principais mudanças foram as tecnológicas, que democratizaram as informações e mobilizaram vários setores da sociedade. Atualmente, está tudo subordinado à alta tecnologia, a rapidez e a intensidade das informações. A vida é controlada. E somos controladas.

Outro aspecto mencionado foi a sobrecarga desses profissionais que precisam de 40 ou 60 horas semanais de trabalho para ter um salário digno. Evidenciamos nos depoimentos, que houve sim, diversas mudanças sociais que estão interligadas à educação e, junto a elas, a preocupação em não perder nenhum dos direitos adquiridos através das lutas da categoria.
Agradecer e parabenizar
O PET Educação reconhece e valoriza a profissão e quer, neste momento, neste dia 20 de maio de 2020, em meio à pandemia de Covid-19, agradecer e parabenizar todos que já educam e aos que desejam educar no futuro.
Parabéns e...
Vamos em frente!

Referências:
Dia do pedagogo disponível em:
Pesquisa Google Formulário disponível em:



[1] Campinas: Papirus, 2003.
[2] Cad. Pesqui. vol.37 no.131 São Paulo May/Aug. 2007