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31 outubro 2019

Compartilhar emoções: PET e o encontro de contadores


Os livros compartilhados
Cristina Maria Rosa
Tutora PET Educação

O que há nos livros que os tornam tão misteriosos, repletos de segredos, impossíveis de serem ignorados? Por que, apesar de tantos dispositivos para não ler, aficionados ainda insistem em permanecer horas concentrados, imersos e desligados, folheando e imaginando? Afinal, o que há nos livros que os tornam insubstituíveis?
 A frequente pergunta a quem os defende e cultua foi respondida recentemente por uma das maiores escritoras do Rio Grande do Sul. Para Lia Luft, nos livros há “experiências impossíveis no cotidiano, viagens, aulas de psicologia, de história. Sensibilidade e emoção, aventura, diversão e crescimento pessoal” (LUFT, 2017, p. 04).
Para mim, o livro e a leitura de seus segredos é a única experiência essencialmente individual. Não há como dividir o que sentimos quando estamos lendo.
Apesar disso, tentamos.
E são as tentativas de impactar os demais com nossas emoções que nos tornam mediadores. Assim, o processo de apresentação deliberada do livro, seu autor e trama aos outros é uma forma de compartilhamento do impossível: o prazer da escolha, o significado do lido, as emoções e conexões vividas. Mais que isso: é uma forma de legar sentidos! 
Tentemos...

Leitura na escola
Na escola, a “trama” da leitura deve ser ofertada aos estudantes em um processo deliberado, organizado, criterioso e frequente. Apresentar o “mundo da literatura”, seus atributos e ritos a todas as crianças desde que iniciam sua vida escolar é um dever para cada educador. Mas com certeza, um prazer, também!
Nelly Novaes Coelho
Pensadores como Ana Maria Machado (2002), Graça Paulino (2014), Lígia Cademartori (2014), Nelly Novaes Coelho (1991) e Regina Zilberman (2005), concordam que o texto literário deve ser ponto de partida para a alfabetização literária. E Tzvetan Todorov (2010) nos ensina que a principal função de um professor é iniciar os seus “nessa parte tão essencial de nossa existência que é o contato com a grande literatura” e que à escola deveria “ensinar os alunos a amar a literatura”.

Contadores e leitores

Há diferença entre ler e contar histórias?
Tu sabes quais são?
Contar é antropológico. Contar é ancestral. Contar é acessar um repertório individual e coletivo que faz sentido a determinada família ou mesmo sociedade. Contar é narrar a experiência, é transmitir “a partir da experiência”. Contar é narrar uma história, rememorar um fazer. É experimentar o retorno a “certas emoções antigas e presentes”. Contar é tornar perene no tempo “a partir do vislumbre de um narrador qualificado” o “sentido do que lhe está sendo transmitido”. Contar é repassar adiante. Contar, por fim e de acordo com Silveira (2011) “assim como a própria narrativa” não é um ato “desinteressado”, ingênuo, espontâneo.
Ler é cultural. Ler é reinventar a escrita. Ler é assumir que a linguagem é uma “faculdade cognitiva exclusiva da espécie humana que permite a cada indivíduo representar e expressar simbolicamente sua experiência de vida, assim como adquirir, processar, produzir e transmitir conhecimento” (BAGNO, 2014).
Assim, a leitura, diferente da contação de histórias, oportuniza o contato com o texto literário que, apesar do tempo e do mediador, mantém-se inalterado, com o léxico, a estrutura textual e as escolhas poéticas do autor.
Um bom mediador dá nome a quem de direito: ao autor, a autoria; ao mediador, os sentimentos todos que encontrou ali e quer perpetuar, divulgar, evidenciar.
Concluindo: Ler é diferente de contar. Não é mais nem menos. É diferente.


Um evento
Para invadir o imaginário de mais e mais aprendizes da arte de admirar livros, a Camila Pierzckalski criou um encontro de contadores de histórias. Nas salas centenárias da Biblioteca Pública Pelotense.

O segundo encontro será realizado em parceria entre a BPP (setor infantojuvenil) e a Sala de Leitura Erico Verissimo (da FaE/UFPel). Os estudantes da Licenciatura em Pedagogia, do PET Educação e do GELL - grupo de estudos em Leitura Literária estarão no evento como:
1.      Personagens dos contos infantis na recepção aos inscritos;
2.      Mediadores das rodas de conversas simultâneas;
3.      Leitores de histórias 

Programa:
Inscrições: até dia 08/11, no site do evento;
Dia 16, 9 horas:
1. Recepção aos inscritos pelos personagens da BPP e SLEV - Sala de Leitura Erico Verissimo da FaE/UFPel;
2. Credenciamento na entrada da BPP;
9 horas e 30 minutos: Passeio explorativo do espaço da BPP: Camila Pierzckalski;
10 horas: Rodas de conversas simultâneas sobre os temas:
1. Mediação Literária e Práticas Pedagógicas - PET Educação;
2. Leitura Literária e a importância da formação de leitores - GELL FaE/UFPel;
3. Processo de Formação Leitora - Sala de Leitura Erico Verissimo
11 horas e 30 minutos: intervalo para almoço
13 horas e 30 minutos: Metodologias de leitura e contação de histórias com Camila Pierzckalski (BPP), Cristina Rosa (FaE/UFPel), Cinara Postringer e Paloma Wiegand  (SLEV), Estefânia Konrad, Jéssica Corrêa, Mariana e Valdoir Simões (PET Educação);



Não perca! Vagas limitadas!
Venha compartilhar desses momentos! Ele ocorre no dia 16 de novembro, entre 9 e 15 horas, na Biblioteca Pública Pelotense. Faça sua inscrição e garanta sua ecobag! Clique no site da BPP e não perca! As vagas são limitadas...

30 outubro 2019

Interdisciplinaridade: todas as pesquisas do PET Educação em 2019

Leitura e Interdisciplinaridade: uma das características do PET Educação em 2019
Cristina Maria Rosa
Tutora do Grupo PET Educação


Leitura e Interdisciplinaridade foi o elo que tornou evidente uma estratégia de formação de professores empreendida pela tutoria do PET Educação em 2019.

Entranha dos diferentes trabalhos de pesquisa apresentados pelo PET Educação na SIIEPE da UFPel em 2019, a interdisciplinaridade só é possível quando se observa o mundo como um todo. Nesse mundo possível, as “partes” dialogam, disputam, concorrem e se complementam, ao mesmo tempo, sem detrimento de uma ideiazinha sequer.
Tudo interessa, pode ser considerado, eventualmente descartado. O intuito é a potência do saber e dos procedimentos para saber mais. Desde leitura para bebês, para crianças nas escolas, para meninas em busca de poder, indígenas e quilombolas a estudantes de Pedagogia, ingressantes e formandos, tudo foi tema de estudo. Inclusive a própria temática, abordada por Alisson Castro Batista em sua investigação. Nos demais trabalhos apresentados, há explícitas decorrências dessa ideia de estudo e intervenção.

Interdisciplinaridade
Qual o significado da palavra Interdisciplinaridade? Para Bicalho (2011) a interação entre as disciplinas pode ser dividida em níveis crescentes com relação à intensidade de interatividade e a Interdisciplinaridade é caracterizada pela existência de um axioma superior hierarquicamente, que orienta as disciplinas ao seu objetivo, de forma que estas interajam entre si e se apoiem na construção dos conhecimentos. Interdisciplinar, então, é um adjetivo que qualifica o que é comum a duas ou mais disciplinas, ramos, campos ou até áreas do conhecimento. É o processo de ligação entre as disciplinas.
A palavra interdisciplinar é formada pela união do prefixo “inter” (dentro, entre, em meio) com a palavra “disciplinar”, que tem um sentido pedagógico de instruir, com preceitos, regras e procedimentos. O intuito, sempre, é relacionar conteúdos para aprofundar o conhecimento a respeito de algo e tornar o estudo mais interessante, uma vez que na “vida real”, tudo está interconectado.
A SIIEPE 2019 e o PET Educação: 10 trabalhos envolventes
No PET Educação, buscamos relacionar com profundidade todos os temas a serem pesquisados, não esquecendo nunca que as peculiaridades e curiosidades do investigador iniciante devem ser respeitadas. Foi dessa dinâmica que surgiu a definição do que cada estudante bolsista escolheria como foco para a SIIEPE na UFPel, que ocorreu entre 21 e 25 de outubro de 2019, quando, diante de uma plateia atenta e uma banca qualificada, todos comunicaram o que descobriram.
O que pesquisar?
A escolha dos temas foi definida em maio de 2019 e, logo depois, ações no sentido de colher dados relevantes, empreender procedimentos ainda não finalizados e escrever o resumo para envio ao evento foram desencadeados. O resultado – 10 trabalhos instigantes – deram origem às apresentações orais dos doze bolsistas.
Leia, a seguir, os títulos dos resumos enviados, aprovados e apresentados pelo grupo no dia 22/10/2019.
1.                 A leitura de estudantes de Pedagogia em 2019: primeiro e segundo semestre Valdoir Simões Campelo;
2.                 A literatura infantil enquanto ferramenta interdisciplinar de ensino no contexto da revolução científica – Alisson Castro Batista;
3.                 Autismo na escola: o que dizem as professoras? Mariana Paz
4.                 Caminhos das pedras: quilombolas na biblioteca escolar Fernanda Vieira Dos Santos
5.                 Futuros(as) Pedagogos(as) FaE/UFPEL trabalham durante a graduação? Estefânia Alves Konrad e Luzia Helena Brandt Martins;
6.                 Há livros “para meninas” na Sala de Leitura Erico Verissimo?
7.                 Há livros para bebês no acervo da Sala de Leitura Erico Verissimo? Cinara Tonello Postringer e Paloma Wiegand;
8.                 Inspirações para ler: o que dizem os estudantes de pedagogia da FaE/UFPEL Angélica Dos Santos Karsburg;
9.                 Repertório literário de estudantes de pedagogia da Faculdade de Educação em 2018 Débora Monteiro da Silva;
10.             Um olhar sobre a literatura indígena Alessandra Steilmann. 

29 outubro 2019

Pesquisa sobre TEA na escola é destaque na SIIEPE 2019


Mariana Paz é mais uma das bolsistas do PET Educação que se destacaram na SIIEPE 2019. Entrevistada pela Coordenação de Comunicação Social da UFPel, a imagem da petiana foi parar no site oficial da Universidade (http://ccs2.ufpel.edu.br/wp/2019/10/25/para-quem-estreia-na-siiepe-preparacao-e-a-chave/), divulgando o tema e a os resultados de seu trabalho de pesquisa. Para a jornalista, Mariana disse: “Foi uma experiência nova e enriquecedora. Aprendi bastante com a banca e os outros trabalhos que foram apresentados”.
Apresentado na manhã do dia 22/10, terça feira, os aplausos após a comunicação oral de Mariana levaram a crer que ali havia mais um diferenciado estudo realizado.
O PET Educação está comemorando mais essa conquista do grupo que foi muito bem representado pela Mariana Paz. Leia o trabalho integral de Mariana:


AUTISMO NA ESCOLA: O QUE DIZEM AS PROFESSORAS?

MARIANA GONÇALVES PAZ; CRISTINA MARIA ROSA3

1 Universidade Federal de Pelotas – marianapaz150@gmail.com
3 Universidade Federal de Pelotas – cris.rosa.ufpel@hotmail.com

1. INTRODUÇÃO

A investigação que originou este trabalho surgiu do interesse suscitado durante aulas que trataram do tema “Inclusão” e “Autismo” na Licenciatura em Pedagogia da FaE/UFPel. Nelas, considerações sobre o preparo e/ou despreparo dos professores para educar pessoas com autismo foram mencionadas. Textos estudados indicavam que “professores apresentam ideias distorcidas” a respeito do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) e “essas concepções parecem influenciar as práticas pedagógicas e as expectativas acerca da educabilidade desses alunos” (GOLDBERG, PINHEIRO e BOSA apud CAMARGO e BOSA, 2009). Interessada em ampliar minha compreensão sobre o tema, constatei que há muita informação disponível (artigos, dissertações, teses, publicações on-line e livros) e, ao mesmo tempo, declarações de desconhecimento acerca do transtorno e da inclusão de crianças autistas nas escolas. A fundamentação teórica para esta pesquisa concentra-se em três artigos científicos e dois capítulos de livro. No primeiro artigo, as autoras Síglia Camargo e Cleonice Bosa (2009) conceituam autismo e argumentam pela importância da inclusão de alunos autistas na escola. O segundo artigo considerado foi publicado no Jornal Brasileiro de Pediatria em 2004 e seus autores – Carlos Gadia, Roberto Tuchman e Newra Rotta – utilizaram linguagem coloquial, de fácil entendimento e, por isso, foi selecionado por mim para esta pesquisa. Já o terceiro é assinado por Fernando Gustavo Stelzer (2010) e nele há uma breve visão histórica sobre o autismo. Quanto aos capítulos de livro mencionados e considerados, se referem à Pesquisa Qualitativa e orientações sobre Organização do Trabalho, concepções estas organizadas por Maria Cecília Minayo e Romeu Gomes Cruz no livro Pesquisa Social - Teoria, Método e Criatividade (1993). A partir do contato com os autores citados e outros já estudados até aqui, fiquei instigada a ouvir o que sabem as professoras da rede pública sobre o tema.

2. METODOLOGIA

De cunho qualitativo, nesta pesquisa busco apresentar um levantamento de dados coletados a partir de entrevistas com professores em uma escola pública municipal. A pesquisa qualitativa oportuniza, de acordo com Minayo, "um nível de realidade que não pode ser quantificado [...] ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis" (1993). Quanto ao termo entrevista, Gomes explica que "não significa uma conversa despretensiosa e neutra, uma vez que se insere como meio de coleta dos fatos relatados pelos atores, enquanto sujeitos-objeto da pesquisa que vivenciaram uma determinada realidade que está sendo focalizada [...] a entrevista [...] está sendo por nós entendida como uma conversa a dois com propósitos bem definidos" (1993). O foco da entrevista que realizei foi conhecer o que as professoras sabem sobre o TEA – Transtorno do Espectro do Autismo. E, por ser uma pesquisadora iniciante, me concentrei em entrevistar um pequeno grupo de professores que atuam em uma escola pública na periferia urbana de Pelotas, RS.
Como objetivo e procedimento inicial, realizei estudos teóricos com o intuito de conhecer melhor o Autismo e a Inclusão de pessoas com TEA. Após, e como momentos de pesquisa, realizei: a) A elaboração de um Termo de Consentimento a ser assinado pelos sujeitos de pesquisa; b) A organização de uma entrevista estruturada, com três questões: “O que é Autismo para ti?”; “Tens um aluno autista na tua sala de aula?” e “Se sim, há um atendimento especializado para ele?”; c) A proposição da entrevista a ser aprovada pela escola; d) A realização das entrevistas com um grupo de seis professoras; e) A leitura e organização das respostas; f) A comunicação dos resultados em eventos.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nas últimas décadas, o número de diagnósticos de pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo vem aumentando de forma significativa. Há alguns anos, médicos explicavam o autismo como uma doença causada pela falta de afeto da mãe, outros a confundiam com esquizofrenia infantil (STELZER, 2010). Todas essas teorias foram descontinuadas devido à falta de comprovação. As causas do transtorno até hoje são desconhecidas, embora existam inúmeras teorias e hipóteses sobre elas e sobre possíveis “curas”. O que se sabe é que o autismo não é doença. É um transtorno, e, por ser um transtorno, não possui cura, e sim intervenções que contribuem para um melhor desenvolvimento pessoal, educacional e profissional de pessoas autistas. O que os autistas possuem em comum são dificuldades em três áreas do desenvolvimento: comunicação, comportamento e socialização. Existem também diferentes níveis de autismo. Para GADIA, TUCHMAN e ROTA (2014), o autismo não é "uma doença única”. É um “distúrbio de desenvolvimento complexo, definido de um ponto de vista comportamental, com etiologias múltiplas e graus variados de severidade”. Para os pesquisadores,

“As manifestações comportamentais que definem o autismo incluem déficits qualitativos na interação social e na comunicação, padrões de comportamento repetitivos e estereotipados e um repertório restrito de interesses e atividades. [...] As dificuldades na interação social em TID podem manifestar-se como isolamento ou comportamento social impróprio; pobre contato visual; dificuldade em participar de atividades em grupo; indiferença afetiva ou demonstrações inapropriadas de afeto; falta de empatia social ou emocional. [...] As dificuldades na comunicação ocorrem em graus variados, tanto na habilidade verbal quanto na não-verbal de compartilhar informações com outros. Algumas crianças não desenvolvem habilidades de comunicação. Outras têm uma linguagem imatura, caracterizada por jargão, ecolalia, reversões de pronome, prosódia anormal, entonação monótona, etc. Os que têm capacidade expressiva adequada podem ter inabilidade em iniciar ou manter uma conversação apropriada. [...] Os padrões repetitivos e estereotipados de comportamento característicos do autismo incluem resistência a mudanças, insistência em determinadas rotinas, apego excessivo a objetos e fascínio com o movimento de peças (tais como rodas ou hélices). Embora algumas crianças pareçam brincar, elas se preocupam mais em alinhar ou manusear os brinquedos do que em usá-los para sua finalidade simbólica. Estereotipias motoras e verbais, tais como se balançar, bater palmas repetitivamente, andar em círculos ou repetir determinadas palavras, frases ou canções são também manifestações freqüentes em autistas" (2004, p. 83 e 84).

Nota-se, de acordo com estes autores, a complexidade do transtorno. O importante, no entanto, é saber que estes sintomas podem ser minimizados ou até mesmo extintos quando são feitas intervenções desde a mais tenra idade, conforme BOSA e CAMARGO (2009, p: 67) “os comprometimentos nessas áreas estão presentes antes dos três anos de idade, quando os pais, em geral, já percebem e preocupam-se com as limitações observadas, cada vez mais aparentes ao longo do desenvolvimento". Assim, intervenções precoces, feitas por profissionais qualificados, são de extrema importância e inúmeros artigos científicos indicam a eficácia destas.
Quanto aos resultados alcançados com as entrevistas com os docentes, o passo inicial ocorreu em 03/09/2019, quando, após ser apresentada à escola, a pesquisa foi aprovada. A partir daí houve assinatura dos Termos de Consentimento e a realização das entrevistas (entre os dias 04 e 09/09/2019), em adaptação aos horários disponíveis das professoras.
Analisadas cuidadosamente as respostas, constatei que há pouco conhecimento científico sobre o autismo na escola. As professoras indicam possuir experiência no atendimento de crianças, e, algumas, mesmo sem conhecer o transtorno, usam estratégias simples para com os alunos. Das seis professoras entrevistadas, cinco possuem ou já possuíram em sua classe alunos com TEA. Quando entrevistadas, apenas uma afirmou já ter assistido a uma palestra sobre autismo, e que esta consistiu em conhecer uma experiência materna, não docente. Concluiu afirmando não possuir "um conceito sobre autismo".
Sobre a prática docente com alunos com TEA, uma participante declarou que os professores "vão muito pela intuição", que "tem que ir fazendo testagens" além de "conhecer a criança naquele momento, porque tem graus diferentes de autismo". Outra professora disse que no transtorno “algumas coisas são semelhantes, outras não". Segundo sua concepção, o Aluno com TEA: “[...] tem certa dificuldade no aprendizado perante os outros, assim como todos têm, mas ele tem mais pela falta de atenção, pois ele é mais difícil, às vezes, não quer fazer (tarefas) e nem permanecer na escola. Mas tudo é trabalhado e a gente consegue contornar essa situação. É um aluno especial, que requer atenção de várias formas, porque eles nunca são iguais".
A terceira professora entrevistada garante que o autismo "aborda alunos com necessidades especiais, com habilidades diferentes daqueles que são ditos normais dentro da escola", e, afirmou, que "[...] têm um tempo de aprendizagem diferente dos outros". A quarta entrevistada revelou não conhecer muito o autismo. De seu ponto de vista, o autista é "uma criança que fica mais alienada naquele espaço dele" e que "parece que ele não está presente naquele meio [...] então a gente tem que ter um atendimento mais individualizado, porque parece que ele não consegue captar o que está acontecendo". A quinta professora ouvida por mim referiu-se ao sujeito com autismo como “uma criança que tem algumas dificuldades intelectuais, dificuldades de aprendizagem também".
Ao ouvir a sexta depoente, compreendi que realmente se sabe pouco sobre autismo na escola. Ela indicou que o tema deveria ser mais abordado, revelou que "existem muitas dúvidas sobre o que é autismo" e o que mais se sabe é que há "diferentes níveis de autismo". Para essa professora, o autismo ainda é "um mistério". Disse que os autistas têm "o mundo próprio deles" e garantiu que o autismo "não é uma doença, é um estado". A entrevistada concluiu que há muitas dúvidas e poucas certezas sobre este assunto e sugeriu que, por merecerem respeito, cuidado e atenção, os professores deveriam ser orientados a como agir e ensiná-los de forma que contribua no seu aprendizado.

4. CONCLUSÕES

Com o trabalho realizado pude notar que as professoras da rede pública de ensino entrevistadas não se sentem seguras ao ensinar alunos com TEA. Reconhecem saber pouco sobre o transtorno, do ponto de vista científico. Estas professoras foram desenvolvendo formas de “melhor trabalhar” as dificuldades na sua prática docente, e isso é elogiável. É fundamental, no entanto, ampliar os conhecimentos sobre o autismo, uma vez que, desse modo, é possível desenvolver atividades e práticas no cotidiano escolar que contribuam para o desenvolvimento integral da criança autista.
Há muitos déficits na formação docente, além de muitos problemas no desempenho desta profissão. Porém,  para se trabalhar com outro ser humano, não há receita pronta; faz-se necessário um aperfeiçoamento constante, uma busca por meios de educar todos os alunos, sejam eles autistas, ou não. Estudos indicam que a intervenção, quanto mais cedo realizada, maiores resultados atinge. Dada esta importância, conhecer o autismo e suas características é um saber que se faz necessário na prática docente, pois o olhar atento do professor contribuirá no encaminhamento e intervenção do seu aluno.
Após a leitura de artigos científicos citados e a coleta de dados quando das entrevistas com os professores, pretendo aprofundar, bem como, difundir, meus conhecimentos sobre o Transtorno do Espectro do Autismo, e sobre a Inclusão.

5. REFERÊNCIAS

CAMARGO, Síglia Pimentel Höher. BOSA, Cleonice Alves. Competência Social, Inclusão Escolar e Autismo: revisão crítica da literatura. Psicologia & Sociedade; 21 (p. 65-74). 2009.
GADIA, Carlos A. TUCHMAN, Roberto. ROTTA, Newra T. Autismo e doenças invasivas do comportamento. Jornal de pediatria by Sociedade Brasileira de Pediatria, 2004.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. Ciência, Técnica e Arte: O Desafio da Pesquisa Social. In: MINAYO, Maria Cecília de Souza. DESLANDES, Suely Ferreira. NETO, Otávio Cruz. GOMES, Romeu. Pesquisa Social. Teoria, Método e Criatividade. Petrópolis, RJ: Vozes, 1993. Cap. 1, p. 9-29.
NETO, Otávio Cruz. O Trabalho de Campo como Descoberta e Criação. In: MINAYO, Maria Cecília de Souza. DESLANDES, Suely Ferreira. NETO, Otávio Cruz. GOMES, Romeu. Pesquisa Social. Teoria, Método e Criatividade. Petrópolis, RJ: Vozes, 1993. Cap. 1, p. 9-29.
STELZER, Fernando Gustavo.  Uma pequena história do autismo. Cadernos Pandorga de Autismo. Volume 1. Pandorga Formação, 2010. Disponível em: <http://pandorgaautismo.org/includes/downloads/publicacoes/Pandorga-Caderno1.pdf>. Consulta em: 10/09/2019.