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14 junho 2022

Despedir-se


Palavras

Cristina Maria Rosa

11 de junho.

Véspera do dia dos namorados.

Namorados...

Dupla.

Dois.

Ou três. Ou muitos...

Enamorar-se é apaixonar-se pelo efeito que temos sobre os outros, estes muitos que nos cercam, que nos admiram, que nos querem bem.

Mas, enamorar-se, pode ser, também, cultivar o contrário de nossas belezas, o oposto de nossos talentos. O oposto, o diferente é tão legítimo quanto. Tão sedutor como.

E é entre opostos, diferentes, semelhantes, admiradores que se faz uma história no PET na UFPel.

Se enamorar-se é produzir, em mim mesma e nos que me admiram, um efeito duradouro, um impacto que reverbera, reconheço que estou ainda, enamorada pelo PET. E, pelo PET Educação, em especial, que ajudei a criar e do qual hoje me despeço.

Sou uma Pedagoga.

E, sim, há diferença entre uma professora e uma Pedagoga.

Mas...

Onde reside a diferença? Como se “formam” os profissionais que ensinam outros a serem o que quiserem? Quais as habilidades que só Pedagogos possuem? O que os diferencia das outras atividades profissionais e dos demais professores?

Uma Pedagoga é mais que um professora.

Uma Pedagogo é alguém que pode “roubar um vento e sair correndo com ele”, “criar peixes no bolso” e ser “ligado em despropósitos”, como ensino Manoel de Barros. Uma pedagoga gosta “mais do vazio, do que do cheio”, pois os “vazios são maiores e até infinitos”. Uma pedagoga sabe que “escrever” é o mesmo que “carregar água na peneira” e, então, aprende “a usar as palavras”. Às vezes, pode “fazer peraltagens com as palavras” e é capaz de “modificar a tarde botando uma chuva nela”.

Pergunto o que seria de uma Pedagoga sem as palavras? Sem a poesia que só existe com as palavras? O que seria de um Pedagoga sem a Literatura?

Uma Pedagoga se diferencia dos demais professores porque possui, como ninguém, o saber – e poder que dele advém – de capacitar cada novo exemplar da espécie humana em usuário competente da língua escrita.

É a Pedagoga que aprimora, em cada um de nós, a arte complexa que é a linguagem, essa “faculdade cognitiva exclusiva da espécie humana” (Bagno, 2014).

Por saber que a linguagem é a maior conquista da espécie, o domínio dessa arte é raro, instigante, encantador e inigualável! E nós, sociedade, atribuímos a uma profissão – à Pedagogia – a condição de ser portador desse poder: saber ler.

Saber ler e saber ensinar a ler é o que nos distingue!

Utilizar essa faculdade e tornar os demais apaixonados pelo vigor e insondável beleza que advém da Literatura é nosso compromisso!

Com essas palavras me despeço.

Desejando que as palavras nos tornem enamorados por nós mesmos e pela infinitude que somos.

Obrigada!




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