Um dia para pensar na alfabetização
Mariana Gonçalves Paz
No dia 14 de novembro é comemorado o dia da alfabetização. Mas, afinal,
o que é alfabetização? Muitas pessoas diriam que é saber ler e escrever. Magda
Soares, especialista no assunto, defende:
Não se trata, porém, como frequentemente se supõe, de aquisição de um código; um código é, em seu sentido
próprio, um sistema que substitui os
signos de um outro sistema já existente; ao contrário, o sistema alfabético não
é um sistema de substituição de um outro sistema preexistente: é um sistema de
grafemas que representam sons da
fala, os fonemas, portanto, um sistema de
representação, não um código. É esse sistema
de representação que se materializa no sistema alfabético, que é um sistema notacional: ao compreender o que
a escrita representa (a cadeia sonora
da fala, não seu conteúdo semântico), é preciso também aprender a notação - os grafemas - com que,
arbitrária e convencionalmente, são representados os sons mínimos da fala - os
fonemas. Em síntese, alfabetização é
o processo de aprendizagem de um sistema alfabético e de suas convenções, ou
seja, a aprendizagem de um sistema notacional que representa, por grafemas, os
fonemas da fala. (SOARES, 2014).
Nota-se, assim, que alfabetização é um processo, é compreender um
sistema de escrita alfabética, seus significados e usos. Por trás desta
compreensão, exige-se, da criança ou adulto que está sendo alfabetizado,
raciocínios complexos para se chegar até um resultado esperado. É um percurso
cheio de erros e acertos, que levarão a pessoa a se tornar alfabetizada.
Professores alfabetizadores entendem que, como afirma Paulo Freire, "ensinar
não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção
ou a sua construção" (FREIRE, 1996, p. 24 e 25). O autor, em suas obras,
considera o aprendiz como um ser ativo e com conhecimento prévios, que podem, e
devem, ser valorizados e utilizados como ponto de partida na sua aprendizagem.
Defende que não existe "docência sem discência" (FREIRE, 1996, p.
25), pois quem "ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao
aprender" (FREIRE, 1996, p. 25). Dessa forma, o papel do educador não se
resume a um ensino vago e repetitivo, mas, sim, a uma relação ensino-aprendizagem
reflexiva, repleta de significados, enxergando a realidade do aluno,
valorizando-a e usando ela a favor da sua construção de conhecimento e
incentivando sua autonomia.
Com estas reflexões, conclui-se que alfabetizar é muito mais do que ensinar
a ler e a escrever. É compreender um sistema e ser capaz de utilizá-lo dia a
dia. É um processo rico, cheio de erros e acertos, mas que modifica o professor
e o aluno.
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo.
Pedagogia da autonomia. Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz
e Terra, 1996.
SOARES, Magda. Glossário Ceale:
termos de alfabetização, leitura e escrita para educadores. Belo Horizonte,
UFMG, Faculdade de Educação, 2014. Link de acesso: http://www.ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossar
ioceale/verbetes/alfabetizacao. Acesso em 12/11/2020.
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