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05 agosto 2020

06 de agosto: Dia Nacional dos Profissionais da Educação

Um dia Nacional para os Profissionais da Educação
Cristina Maria Rosa

O que são profissionais da educação?
Para interessantes pesquisadores[1] que se aventuram no campo da formação de professores e dos saberes acionados por quem desempenha esta tarefa, um profissional da educação é alguém em quem se reconhece o ensino como uma atividade profissional. Para tal, deve ter sólido repertório de conhecimentos. Mas não só...
Ao demonstrar que “o saber literário compõe o conjunto de saberes docentes ligados ao trabalho cotidiano em sala de aula, mesmo quando esse trabalho não está diretamente ligado ao ensino de língua e literatura”, Graça Paulino (2004) em Saberes literários como saberes docentes, extrapolou as formulações do filósofo e sociólogo canadense Maurice Tardiff (2002).
Graça afirma que o pensamento de Tardif sobre saberes docentes se mostra “especialmente instigante por ultrapassar limites tecnologistas próprios de outros pensadores da década de 90”, e valoriza o pressuposto do pesquisador de que “o saber dos professores é um saber deles e está relacionado com a pessoa e a identidade deles, com sua experiência de vida e com a sua história profissional”. Mais. Organiza sua argumentação a partir do desejo de “não cair na tentação de separar o saber literário de outros”. Defendendo sua especificidade, parte de dois quadros em que Tardif propõe “um modelo tipológico para identificar e classificar os saberes dos professores” e “uma comparação entre o trabalho industrial e o trabalho docente no que diz respeito aos objetivos, ao objeto e ao produto”, ambos inseridos no livro Saberes docentes e formação profissional, publicado no Brasil em 2002. O argumento central de Graça Paulino, é que “se entendemos a formação de professores de modo mais amplo, em sua produção histórica e social que envolve, além de competências cognitivas stricto sensu, também sensibilidade, emoções, ligações afetivas, interações, transformações pessoais, temos de pensar na possibilidade de que um desses saberes seja de natureza literária”.
Saber literário
O saber literário é um saber. E, como tal, reverbera nas relações na sala de aula, seja ela de que dimensão for. E, se ensino Literatura, o meu saber literário é, ao mesmo tempo, uma competência científica e um componente de meu saber docente, me identifica, é parte de minha experiência de vida e integra minha história profissional.
O que se constata ao ler Tardif, como bem Graça reitera, é que “não adianta querer buscar coerência teórica ou unidade lógica nesse sincretismo de natureza biográfica”, pois há uma variedade de “fontes sociais de aquisição dos saberes docentes”. Essa variedade é produzida pela história e família de cada um, escolas frequentadas e saberes acessados que, junto com a “formação profissional propriamente dita”, revelam-se “no momento em que cada um atua em sala de aula”. Como “espaços educativos de várias naturezas”, totalizam “nossa vida cultural” e comprometem integralmente o “que fazemos como professores”.
 O campo de pesquisa
De acordo com Patrícia Cristina Albieri de AlmeidaI e Jefferson BiajoneII, esse campo de pesquisa surge em âmbito internacional na década de 1980 e vem apresentando expressiva profusão e multiplicação dos estudos na área. Em suas palavras:

A importância desses estudos é atribuída, em grande parte, ao seu potencial no desenvolvimento de ações formativas que vão além de uma abordagem acadêmica, envolvendo as dimensões pessoal, profissional e organizacional da profissão docente.

Em seu artigo intitulado “Saberes docentes e formação inicial de professores: implicações e desafios para as propostas de formação”, Cristina e Jefferson mencionam a análise de obras dos autores referência na área. E concluem que:

O estudo revela que a elaboração de um repertório de conhecimentos para o ensino, tendo como referência os saberes profissionais dos professores tais como estes os mobilizam e utilizam em diversos contextos do trabalho cotidiano, permite a introdução de dispositivos de formação que visem habituar os futuros educadores à prática profissional. Destaca-se a necessidade de garantir que as formações cultural, científica, pedagógica e disciplinar estejam vinculadas à formação prática, consolidando, assim, uma Teoria do Ensino.

Concluindo...
De acordo com Macenhan, Tozetto e Brandt (2016), “os saberes dos professores precisam ser valorizados ao longo do processo de formação docente” e "saberes" não se restringe apenas à experiências do professor. Adquiridos no curso de formação inicial, os saberes profissionais “estão sempre em processo de constituição”, dependendo, sempre, de “momentos de reflexão crítica”. Além disso, a expressão “saberes”, atualmente, possui uma ampla gama de pequenas e grandes possibilidades, mas, em nenhum momento, o amadorismo, a eventualidade, a inconstância e o despreparo são bem vindos!

Bônus
Para saber mais, leia “Saberes docentes e formação inicial de professores: implicações e desafios para as propostas de formação”, artigo de Patrícia Cristina Albieri de AlmeidaI e Jefferson BiajoneII. Ele está disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-97022007000200007

Obras importantes nesse campo de estudos:
GAUTHIER, C. et al. Por uma teoria da pedagogia: pesquisas contemporâneas sobre o saber docente. 2. ed. Ijuí: Unijuí, 2006.
GIMENO SACRISTÁN, J. Poderes instáveis em educação. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.
MACENHAN, C., TOZETTO, S. , E  BRANDT, C. Formação de professores e prática pedagógica: uma análise sobre a natureza dos saberes docentes. Práxis Educativa, vol. 11, núm. 2, 2016. Disponível em: https://www.redalyc.org/jatsRepo/894/89442687011/html/index.html
NÓVOA, A. Formação de professores e profissão docente. In: NÓVOA, A. (Org.). Os professores e a sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1992. p. 13-33.
PAULINO, Graça. Saberes literários como saberes docentes. In: Presença Pedagógica. Belo Horizonte, v.10, nº 59, pp. 55-61, set./out., 2004.
TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Vozes, 2002.
TARDIF, M.; LESSARD, C. O trabalho docente: elementos para uma teoria da docência como profissão de interações humanas. Petrópolis: Vozes, 2005.
TARDIF, M.; LESSARD, C.; GAUTHIER, C. Formação dos professores e contextos sociais. Porto: Rés, 2001.




[1] Alguns dos mais importantes pesquisadores que organizaram saberes sobre o tema e os publicaram  a partir de 1990, no Brasil, são: António Nóvoa (1992), Clermont Gauthier (2006), GraçaPaulino (2004), José Gimeno Sacristán (1999) e Maurice Tardif (2002).

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